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O universo de Glauber Rocha éapresentado em dois novos livros
O pensamento do cineasta expresso em centenas de artigos publicados em todo o mundo foi reunido pelo professor Mateus Araaºjo, da ECA-USP. O download égratuito
Por Leila Kiyomura - 22/01/2020



Glauber Rocha continua, 38 anos depois de sua morte, como um cineasta e pensador atemporal. O baiano de Vita³ria da Conquista atravessa a história do cinema mundial como uma referaªncia para os jovens cineastas, escritores, cra­ticos e artistas. Refletiu e discutiu as questões sociais, políticas, filosãoficas e culturais em sua filmografia e nos inconta¡veis artigos publicados em jornais do Brasil e de outrospaíses.


O cineasta Glauber Rocha
Foto: Reprodução/Tempo Glauber
via Agência Senado

a‰ essa vasta obra como escritor e crítico ainda inanãdita em livro no Brasil que Mateus Araaºjo, pesquisador e professor de Departamento de Cinema, Ra¡dio e Televisão da Universidade de Sa£o Paulo, resgata e organiza em Glauber Rocha: Cra­tica Esparsa (1957-1965) e Glauber Rocha: O Nascimento dos Deuses. Os dois livros estãosendo lana§ados pela Fundação Cla³vis Salgado, de Belo Horizonte, e disponibilizados em versão digital para download gratuito ( http://fcs.mg.gov.br/noticias/lancamento-dos-livros-da-mostra-glauber-kynoperzpektyva18/).

Com essa iniciativa, a Fundação Cla³vis Salgado tem como meta propiciar o acesso aberto a  informação e a  cultura, promovendo o conhecimento da obra de Glauber Rocha e a história do cinema brasileiro. As publicações propiciam um mergulho no universo glauberiano incentivando novas pesquisas atravanãs de textos que ainda não foram disponibilizados em livros tanto no Brasil como no exterior.

"Atéonde conseguimos apurar em nossa última rodada de pesquisas, o cineasta éautor de mais de mil publicações…"


Para o livro Cra­tica Esparsa (1957-1965), o professor Mateus Araaºjo selecionou 30 textos que não foram inclua­dos em publicações glauberianas anteriores como Revisão Cra­tica do Cinema Brasileiro, Revolução do Cinema Novo e O Sanãculo do Cinema.  “Os artigos que selecionamos ajudam a enriquecer os conjuntos de textos que compuseram tais livros e, quem sabe, a perceber eventuais decisaµes tea³ricas que, para além das circunsta¢ncias prática s ajudaram a reger sua organização osque os deixou de fora.”

Araaºjo pesquisou mais de mil publicações do cineasta. “Entre as quais estão16 livros, cerca de 650 artigos e quase 300 entrevistas, muitas das quais em outras la­nguas”, esclarece. “A elas, deve-se ainda acrescentar mais de 200 traduções estrangeiras, devidamente indicadas em nosso levantamento bibliogra¡fico, mas não contabilizadas aqui como itens auta´nomos, pois preferimos considera¡-las desdobramentos dos seus respectivos itens originais.”

O organizador observa que essas publicações integraram jornais, revistas e livros brasileiros, franceses, italianos, ibero-americanos e anglo-saxaµes. “Neste conjunto, encontramos textos de natureza, propósitos e tamanhos variada­ssimos, num arco que vai de notinhas ou declarações breves a ensaios longos.”

O polaªmico e último filme A Idade da Terra (1980), que Michelangelo Antonioni definiu como uma lição do cinema moderno…


.O leitor deve se preparar para os textos e reservar boas horas e dias para conhecer, sob o olhar de Glauber Rocha, o cinema mexicano, francaªs, italiano, cubano,  norte-americano e também  a revolução do Cinema Novo. E háde entender que a grandeza de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em Transe  (1967) atéo polaªmico e último filme A Idade da Terra (1980), que Michelangelo Antonioni definiu como “uma lição do cinema moderno”, tem a sensibilidade e a genialidade de quem buscou entender o ser humano na dimensão do mundo.

As lições de Glauber continuam atuais. Um bom exemplo estãono artigo publicado em 12 de mara§o de 1961, no Jornal do Brasil. O tí­tulo éArraial, Cinema Novo e Ca¢mara na Ma£o. O cineasta defende: “O cinema novo brasileiro não quer coprodução, não quer empréstimos caudalosos, não quer distribuição compulsãoria. Se a boa-féde Fla¡vio Tambellini deseja ajudar os novos cineastas brasileiros, pense no seguinte: Documenta¡rios para os jovens, com inteira liberdade de criação…”

O cineasta defendia o valor da criatividade: “Queremos um cranãdito de confiana§a, ainda que não seja movido pela crena§a no talento, pelo menos o seja pela simpatia original que cada homem civilizado possa ter por esta verdade desmoralizada pelo romantismo: a juventude acesa para o trabalho” . E assinalava: “Nãodesejamos nada mais. E, caso não aparea§am imediatamente estas ajudas osde elementos que existem e não precisam ser importados –, vamos fazer nossos filmes de qualquer jeito: de ca¢mera na ma£o, de ca¢mera 16 mm (se não houver, 35 mm); improvisando nas ruas, montando material já existente…”

"Em agosto de 1973, tateando ocasiaµes de trabalho em meio a dificuldades materiais da vida no exa­lio…"


 O segundo volume, O Nascimento dos Deuses, épublicado no Brasil pela primeira vez. Foi escrito em italiano por Glauber Rocha e publicado em 1981 pela Editora RAI, na Ita¡lia, que parte dos manuscritos do roteiro do autor. A tradução édo pesquisador Jacyntho Lins Branda£o, escritor e professor da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais. “Busquei ser fiel não são ao conteaºdo do texto como também ao estilo de Glauber Rocha, que tem como peculiaridade seguir a velocidade do pensamento e da imaginação”, explica Branda£o.

O organizador Mateus Araaºjo conta como surgiu o roteiro para o filme agora apresentado em livro no Brasil. “Em agosto de 1973, tateando ocasiaµes de trabalho em meio a dificuldades materiais da vida no exa­lio, Glauber Rocha recebe uma proposta do canal de televisão italiano da RAI para fazer um filme hista³rico a partir da Ciropanãdia e da Ana¡basis de Xenofonte, no rastro de filmes ambientados na antiguidade que Rossellini e outros cineastas de ponta já vinham fazendo na Ita¡lia. Conversa vai, ajuste vem, ele conta ter estudado um pouco a história antiga, e chega a escrever nos cinco primeiros meses de 1974 um roteiro intitulado O Nascimento dos Deuses (La Nascita degli dei) para um filme de seis horas.”

O longa-metragem nunca chegou a ser gravado. O roteiro foi publicado em 1981, pouco tempo antes de Glauber Rocha morrer. O texto permaneceu esquecido.


Para o download gratuito da versão digital dos livros Glauber Rocha: Cra­tica Esparsa (1957-1965) e Glauber Rocha: O Nascimento dos Deuses,  organizados por Mateus Araaºjo e publicados pela Fundação Cla³vis Salgado, acesse o site:

http://fcs.mg.gov.br/noticias/lancamento-dos-livros-da-mostra-glauber-kynoperzpektyva18/

 

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