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Das telas para a sala de aula: projeto da UFF utiliza desenhos animados japoneses no ensino de química
A partir da década de 90 que começam a se tornar mais influentes para a juventude dopaís. Atualmente, as animaa§aµes orientais deixaram de estar somente nas televisaµes e outros aparelhos eletra´nicos para invadir as salas de aula.
Por Ascom UFF/ MaisConhecer - 10/02/2020


Divulgação

Os desenhos japoneses são um sucesso entre os adolescentes brasileiros. Com milhões de fa£s espalhados pelo mundo, os animes - como são popularmente conhecidos - chegaram ao Brasil no final dos anos 60, mas foi são a partir da década de 90 que começam a se tornar mais influentes para a juventude dopaís. Atualmente, as animações orientais deixaram de estar somente nas televisaµes e outros aparelhos eletra´nicos para invadir as salas de aula. Um exemplo éo projeto de iniciação a  docaªncia da UFF, “Animes no ensino da Quí­mica: investigação do potencial dida¡tico”, desenvolvido ao longo de 2017 e 2018 e finalizado em 2019.

A coordenadora do projeto e professora do Departamento de Quí­mica de Volta Redonda Andranãa Aparecida Ribeiro Alves explica que essas animações passaram a ser utilizadas como recurso para aplicar um manãtodo de ensino alternativo da disciplina. “O contato com adolescentes e seus gostos por desenhos japoneses foi o grande ponto de partida para o uso deste tipo de recurso. Então, passamos a analisar alguns animes e identificar potencial de cunho qua­mico e cienta­fico em seus episãodios”.

No segundo semestre de 2019, a implantação da metodologia teve ini­cio no Colanãgio Municipal JoséBotelho Athayde, localizado em Volta Redonda. A então orientanda e aluna (atualmente formada) do curso de Quí­mica, Marina de Monroe, foi a responsável pela iniciativa inovadora na escola. JoséTeles, professor de Quí­mica da escola, foi quem primeiro autorizou a inclusão da atividade na grade curricular da escola. “Ela acompanhava o docente hádois anos no local como estagia¡ria da disciplina de ‘Pesquisa e Pra¡tica de Ensino’. Apa³s conhecer o projeto e seus objetivos, ele nos cedeu alguns tempos de aula para que a dina¢mica fosse aplicada com a turma de terceiro ano, composta por 35 alunos. Num segundo momento houve uma reunia£o também com a direção, que concordou com a intervenção da bolsista em classe”, explica a coordenadora.

Apesar de ser uma grande fa£ dos animes, Andranãa Alves reconhece que o conteaºdo, ainda que muito popular, não éum consenso entre os jovens. Portanto, antes desta dida¡tica ser apresentada aos estudantes, foi realizada uma pesquisa de opinia£o para saber se a dina¢mica seria bem recebida pela turma. “O resultado foi muito positivo.Todos aprovaram a novidade, votando a favor da inserção do recurso no ensino da matéria. Por ser algo diferente do que eles estavam acostumados a ver no dia a dia escolar, mesmo aqueles que não gostavam de animes foram receptivos”, destaca.

Preparação e premiação

Antes de sua aplicação, o projeto passou por um longo processo de elaboração e aperfeia§oamento. O ini­cio da preparação ocorreu em 2017, quando Marina conheceu a ideia a partir da disciplina da graduação, “Metodologia e Instrumentação para o Ensino de Quí­mica I”, ministrada por Andranãa Alves. Desde então, as duas passaram a analisar trechos de animes que utilizavam conceitos químicos dentro da construção de suas histórias. Feito isso, aluna e professora passaram a organizar uma sequaªncia dida¡tica para relacionar o conteaºdo qua­mico com o que era apresentado nas animações.

O manãtodo foi repetido duas vezes ao longo do ano de 2018. Na ocasia£o, Marina teve a chance de dar aulas para os graduandos do curso, seguindo a estrutura criada em conjunto com a idealizadora do trabalho. “A experiência ao longo daquele ano foi importante porque possibilitou que todos os ajustes necessa¡rios fossem feitos antes do ini­cio da aplicação do projeto na escola”, relata a coordenadora.

Segundo Marina, a adaptação a essa nova ferramenta não foi um processo simples. Mesmo sendo uma amante das animações que foram objeto de estudo, ela teve dificuldade em encontrar pesquisas que tratassem da inserção dessas obras no universo escolar. “Muita vezes quando vamos utilizar algum tipo de recurso, já possua­mos toda uma bagagem tea³rica e demonstrativa para servir como base na montagem da sequaªncia dida¡tica ou do plano de aula. Contudo, a partir do pouco material que encontramos e com o auxa­lio da professora Andranãa, conseguimos atingir um resultado bem satisfata³rio”.

Todo o esfora§o empregado foi recompensado. Em 2018, o “Animes no Ensino da Quí­mica” venceu o praªmio Sueli Camargo Ferreira, destinado aos projetos de estudantes que cursam licenciaturas na universidade. A premiação foi realizada durante a Agenda Acadaªmica da UFF, no evento “Mostra de Iniciação a  Docaªncia”.

Dina¢mica das aulas

Para colocar em prática todo o trabalho desenvolvido durantes os anos anteriores, o recorte escolhido por Andranãa e Marina foi a química nuclear. A relação dessa tema¡tica com os animes aconteceu de forma organizada. Foram selecionados dois desenhos: Hadashi no Gen e Hunter x Hunter. O primeiro foi utilizado inicialmente para problematizar a questãodas bombas nucleares, já que consiste numa história sobre o ataque norte-americano a s cidades de Hiroshima e Nagasaki, após a Segunda Guerra Mundial. A obra norteou as discussaµes da turma a respeito do efeito das radiações no corpo humano e sobre como éproduzido o poder devastador dessas armas de destruição em massa.

Já a segunda animação utilizada funcionou como uma aplicação de todo o conhecimento adquirido nas aulas anteriores. Neste caso, os alunos foram levados a investigar o motivo da morte de um dos antagonistas centrais da narrativa, o “Rei Formiga”, que faleceu devido a uma contaminação proveniente de uma minibomba atômica.

“A primeira coisa que eu fiz foi separar dois animes que tratavam de uma tema¡tica parecida (Hadashi no Gen e Hunter x Hunter); poranãm, com abordagens diferentes. Isso possibilitou que eles fossem transpostos em momentos distintos na sequaªncia dida¡tica escolhida. Tudo que era feito em sala de aula tinha ligação com o que eles viam, não são dentro da ludicidade das animações, mas também na vida real. Conseguimos, dessa maneira, mostrar que mesmo dentro da fantasia do desenho existem também aspectos da vida real, cabendo  a noso olhar crítico para distingui-los”, descreve Marina.  

Recentemente formada pela UFF de Volta Redonda, a ex-aluna ressalta  a importa¢ncia dessa experiência para sua formação profissional. Para ela, a realização desse projeto ajudou muito na sua observação sobre a dina¢mica escolar, na qual nem sempre tudo acontece do jeito que se planeja. A experiência também levou Marina a reconhecer a importa¢ncia de um planejamento de aula. “O contato que tive com a turma, as reações dos alunos, as indagações feitas por eles no decorrer da aula me inspiraram de uma forma inexplica¡vel. O desejo de permanecer ensinando e transformando a vida desses adolescentes vale mais do que qualquer coisa”, comemora.

O professor de química JoséTeles, do Colanãgio Municipal JoséBotelho Athayde, mostrou-se muito satisfeito com a relação estabelecida entre a UFF e a escola em prol de um ensino de qualidade. “A utilização de recursos digitais ligados a culturas que atraem a atenção e mantem uma proximidade com a vivaªncia dos jovens são muito va¡lidas. Os alunos gostaram muito da atividade e responderam com grande a­ndice de acertos nas provas da disciplina, baseados na prática .” - ressalta.

 

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