'É na convivência diária que cada um de nós contribui para a construção da nação'
A educadora, pesquisadora e ativista Petronilha Gonçalves e Silva é a primeira titular da Cátedra Encontro de Saberes, da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento

Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva - Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Com uma respeitada carreira marcada pela luta contra o racismo e pela promoção de uma educação inclusiva, a educadora Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva tomou posse como a primeira titular da Cátedra Encontro de Saberes, da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP).
"Ser titular de uma cátedra em uma instituição como a Universidade de São Paulo é uma oportunidade para estreitar o convívio com colegas de diferentes áreas e com diferentes propostas. Espero que esta Cátedra proporcione longas conversas, com algumas brigas, é claro, mas sobretudo que todos possamos contribuir, a partir de cada experiência, para a construção da nação", afirmou a catedrática Petronilha Gonçalves e Silva.
Para o reitor Carlos Gilberto Carlotti Junior, “as cátedras foram criadas a partir de um desejo de interagir mais com a sociedade, convidando personalidades para participar da nossa vida, trazendo problemas, novas ideias, qualificando ainda mais a discussão”.
"A inclusão ainda é um processo que está sendo construído na Universidade. Não temos todas as respostas, não temos todas as soluções. Estamos aprendendo com o processo, analisando outras experiências e criando políticas internas. Dessa forma, podemos colaborar estendendo essas discussões para toda a sociedade, ajudando na construção do Brasil que queremos", ressaltou o reitor.
Criada pela Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento, a Cátedra deve contribuir para o aprimoramento das políticas de diversidade nas universidades, promovendo o diálogo com diversos atores da sociedade, construindo parcerias e discutindo políticas públicas e de inovação.
"Desde o início da PRIP, nós tínhamos uma enorme expectativa de como mostrar que as ações afirmativas e políticas de inclusão e pertencimento qualificam a Universidade e não estão dissociadas da excelência acadêmica. Por isso, o nome desta Cátedra Encontro de Saberes simboliza as possibilidades e a pertinência de todas essas questões", explicou a pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lanna
A vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda ressaltou que “é com esse perfil de encontro de saberes que esta Cátedra marca o reconhecimento da importância que a PRIP adquiriu no âmbito da USP. Inovação não se restringe apenas ao avanço tecnológico e a criação de Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento foi uma inovação desta gestão que tem sido tomada como modelo para outras universidades”.
A cerimônia de posse foi realizada ontem, dia 21 de agosto, na Sala do Conselho Universitário.

[A partir da esquerda] Ana Lanna, Petronilha Gonçaves e Silva, Carlos Gilberto Carlotti Junior, Maria Arminda do Nascimento Arruda e Miriam Debieux Rosa - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Cátedra Encontro de Saberes
A Cátedra Encontro de Saberes tem a proposta de gerar e disseminar conhecimento sobre temas de pesquisas que tenham impactos na sociedade em âmbito local, nacional e internacional. A pró-reitora adjunta de Inclusão e Pertencimento, Miriam Debieux Rosa, fez a saudação à catedrática e explicou que o projeto a ser desenvolvido pela Cátedra terá como tema as Políticas de Diversidade na Universidade por uma educação das relações étnico-raciais.
Além de proferir conferências, Petronilha coordenará atividades de natureza acadêmica, atividades de cultura e extensão universitária e atividades relacionadas à inclusão e ao pertencimento na USP. As atividades serão abertas à participação de lideranças sociais e pesquisadores populares do Brasil e do exterior.
“As universidades exercem um papel importante na construção da sociedade. Todos nós que pertencemos às universidades – dirigentes, docentes, técnicos administrativos – estamos construindo a sociedade que queremos, a nação que queremos. Nosso papel é provocar a discussão, mesmo que seja uma conversa não muito animadora. Assim, a pergunta fundamental para esta Cátedra é: que universidade estamos construindo e para que tipo de sociedade?”, explicou a catedrática Petronilha Gonçalves e Silva.
Petronilha também defendeu que “essa construção de nação não se restringe aos estudos, às pesquisas, aos artigos que publicamos, ela se processa no dia a dia, quando passamos uns pelos outros pelo campus, no convívio com os alunos, no nosso olhar, no nosso acolhimento ou na nossa rejeição. Nos estabelecimentos de ensino, a educação sobre as relações étnico-raciais não ocorre unicamente em uma disciplina, em momentos de discussão, mas ocorre na convivência diária e permanente. É aí que se estabelece o espírito educacional das nossas instituições e vai muito além dos conteúdos e técnicas que desenvolvemos”.
Selo Petronilha
Nascida em Porto Alegre (Rio Grande do Sul), Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva foi aluna da primeira turma do ginásio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), iniciando uma relação com o colégio e com o tema da educação que influenciaria toda a sua carreira.
Formou-se na Faculdade de Letras da UFRGS, no curso de Línguas Neolatinas, e começou a atuar como professora de francês no mesmo Colégio de Aplicação em que estudou e, posteriormente, tornou-se docente da UFRGS e da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Atuou como conselheira da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, de 2002 a 2006, sendo a relatora do parecer que estabeleceu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
Aposentou-se como docente no Programa de Pós-Graduação em Educação e no Departamento de Metodologia do Ensino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em 2012, recebendo o título de Professora Emérita da universidade. Em 2024, também recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela UFRGS. Entre suas principais publicações estão as obras O jogo das diferenças: o multiculturalismo e seus contextos, de 1998, e Histórias de operários negros, de 1987.
Reconhecida por sua dedicação à educação e à valorização da cultura afro- brasileira, Petronilha foi agraciada com diversos prêmios e homenagens, como a Ordem Nacional do Mérito, no Grau de Cavaleiro, concedida pela presidente da República Dilma Rousseff, em 2011.
Em janeiro de 2025, a Diretoria de Políticas de Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola do Ministério da Educação criou o Selo Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, que reconhece secretarias de educação do País comprometidas com as políticas educacionais voltadas à equidade racial e quilombola.
Em sua edição inaugural, o Selo Petronilha 2025 foi concedido a 436 secretarias de educação — sendo 428 municipais e oito estaduais. Dentre essas redes, 20 secretarias foram selecionadas para receber destaque nacional por suas práticas estruturantes e inspiradoras e, além do Selo, também foram premiadas com recursos financeiros destinados ao fortalecimento de suas ações.