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Observatório COVID-19 BR ajuda paºblico a compreender evolução da pandemia no Brasil
“Queremos que qualquer pessoa entre no site e consiga interpretar os dados, assim como olha a previsão do tempo ou cotaa§a£o do da³lar”, diz Paulo Prado, professor da USP e um dos criadores da plataforma
Por Fabiana Mariz - 23/03/2020



Um grupo de professores, pesquisadores e alunos de três universidades públicas brasileiras se uniu para ajudar o paºblico na busca por dados confia¡veis para entender a dina¢mica da Covid-19. Idealizado por profissionais da USP,  da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Federal do Grande ABC (UFABC), o Observatório Covid-19 BR éuma plataforma on-line que disponibiliza, em tempo real, a situação da pandemia no Paa­s. E traz um diferencial: permite ao usua¡rio trabalhar com cenários que mudam quase todos os dias .
A plataforma utiliza dados do Ministanãrio da Saúde e, por meio de ferramentas matemáticas, mostra gra¡ficos com diferentes análises sobre a doena§a. “Queremos que qualquer pessoa entre no site e consiga interpretar os dados, assim como elas olham a previsão do tempo ou cotação do da³lar”, explica Paulo Ina¡cio Prado, bia³logo e professor do Instituto de Biociências (IB) da USP. “Nãoésempre que a gente consegue dar significado aos números, então, essa éuma boa oportunidade para mostrar o quanto eles são importantes, principalmente em uma situação de pandemia como a que estamos vivendo”.

Na pa¡gina do Observatório COVID-19 BR, existem gra¡ficos com dados sobre o número de casos no Brasil, rapidez de propagação da doença e a eficácia do isolamento social, por exemplo. “Pegamos os casos suspeitos, confirmados e descartados, além do número de a³bitos do dia, e usamos para construir o que a gente chama de curva epidemiola³gica”, explica Paulo Roberto Guimara£es Junior, um dos idealizadores do projeto e também professor do IB. “A partir daa­, fazemos projeções sobre o aumento ou diminuição do número de ocorraªncias ao longo do tempo, como a doença vem se comportando ou, ainda, a importa¢ncia da quarentena”. 

Da concepção a  concretização do projeto, foram necessa¡rios apenas alguns dias. Muitos integrantes do grupo já haviam trabalhado juntos na criação de um site sobre a situação do sistema Cantareira, maior reservata³rio ha­drico do Estado de Sa£o Paulo, durante a crise ha­drica de 2014. “Nosso perfil éo de analisar dina¢micas complexas, pois reunimos pessoas com diversas habilidades em diferentes ferramentas matemáticas”, diz Paulo Prado, que também éidealizador da plataforma. “Percebemos que coletar dados simples e mostrar como as coisas estãoevoluindo no tempo eram ações muito aºteis, tanto para a sociedade quanto para os tomadores de decisão”.

Varia¡veis no caminho

Construir um gra¡fico em epidemiologia não éalgo tão simples. Guimara£es Junior esclarece que épreciso levar em conta as incertezas associadas aos dados empa­ricos. Para gerar uma informação confia¡vel, épreciso considerar se o sistema de saúde conseguira¡ coibir a propagação do va­rus, se todas as pessoas manifestam os sintomas na mesma velocidade ou, ainda, se o isolamento social vai ser eficiente. “Se houver alguma mudança, em algum momento esse gra¡fico se modificara¡ e, nós, que trabalhamos com modelagem matemática, precisamos prever essas varia¡veis no processo”.

Vamos usar como exemplo a aba que traz um gra¡fico com a quantidade de casos e a projeção para os pra³ximos dias. No dia 23 de mara§o, dia de publicação dessa reportagem, o Brasil tinha 1546 casos, 25 mortes (dados divulgados pelo Ministanãrio da Saúde a s 16 horas do dia 22). O site do Observatório COVID-19 prevaª que, no dia 27 de mara§o, o Brasil tera¡ entre 6321 e 8348 casos. Os cientistas trabalham com um intervalo de cinco dias. “A lógica funciona assim: se as coisas continuarem do jeito que estão, daqui a cinco dias a situação seráessa”, elucida Paulo Prado.  

Já na parte da projeto que mostra para quantas pessoas cada infectado transmite a doena§a, no momento esse valor estãoentre 2,6 e 5,5. A linha azul no gra¡fico representa a estimativa em um intervalo de sete dias. A faixa cinza indica o intervalo de confianção dessas estimativas. O que podemos perceber éque o limite ma­nimo do intervalo de confianção estãobem acima de um, indicando que a epidemia estãorápida expansão.  

Redes de interação

“Mostrei esse jogo para a minha ava³ e ela conseguiu entender o quanto éimportante ficar em casa nesse momento”, diz Guimara£es Jaºnior, aliviado. Foi dele a ideia de criar a seção interativa do site que mostra como o isolamento social influencia a dina¢mica de propagação da epidemia. “Em uma de nossas conversas, Prado sugeriu foi que seria interessante construir algo para mostrar a importa¢ncia da rede social”, diz, esclarecendo que não estãofalando de Facebook ou o Twitter, mas da rede social de fato, presencial, formada entre pessoas. A ideia émostrar como as pessoas, ao se conectarem, ao se tocarem e ao se falarem, acabam propagando epidemias. 

Guimara£es Junior já trabalha com interações sociais em ecologia e estuda a evolução e o conva­vio entre as espanãcies. “Descobri uma plataforma que tinha uns joguinhos para ilustrar conceitos bem ba¡sicos e bem teóricos de análises de redes e os adaptei para o nosso atual cena¡rio”, explica. 

Usar o site bem fa¡cil. O modelo ao qual Guimara£es Junior se refere mostra várias pessoas e um Espaço, e cada uma delas tem um número de contatos, que estãoespalhadas e conectadas. As linhas azuis são as pessoas sauda¡veis e as vermelhas, as infectadas. Os números não se referem a estimativas da covid-19, são apenas valores sugeridos para desenvolver uma intuição e reduzir a propagação de um va­rus. Suponha, por exemplo, que uma pessoa tenha 20 contatos em sua rede social. a‰ possí­vel ver quantas ela pode infectar se continuar com o conva­vio dia¡rio “A ideia dessa aba éexperimentar. Tente reduzir o número de contatos para quatro e observe a diferença”, instrui Guimara£es Junior. “Porque vocêreduziu o contato social, a doença não consegue cobrir a população”.

Ciência e sociedade

Uma maneira de refletir a importa¢ncia da ciência éimaginar que os cientistas estãotrabalhando e, em algum momento, os futuros achados va£o se reverter em benefa­cio da população. Paulo Prado, no entanto, adiciona uma outra vertente. “Podemos perguntar, também, se os estudiosos estãoaptos a resolver certos problemas quando eles aparecem, mesmo que não seja a área especa­fica de atuação dele”, pondera. “O nosso grupo adquiriu experiências anteriores que foram aplicadas em um caso completamente diferente do que esta¡vamos acostumados”. 

Prado comenta também que a população estãoa¡vida por saber quando teremos um achatamento da curva de transmissão da doena§a. “Boa ciência faz previsão sempre considerando as medidas de incertezas inerentes ao processo. Por isso, queremos comunicar de forma simples, para que o paºblico absorva as informações sobre a covid-19 da mesma maneria que olham a previsão do tempo ou a evolução do da³lar”.

“Os nossos dados são abertos e os pesquisadores tera£o a  disposição uma sanãrie de materiais e de análises que podem ser muito aºteis no futuro, principalmente para as próximas epidemias que acontecera£o”, completa Guimara£es Junior.

 

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