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Auranãlio, caçador de borboletas
Ou, na verdade, de palavras-borboletas, como lembra Cezar Motta no recanãm-lana§ado livro que conta a história do diciona¡rio famoso e de seu autor
Por Marcello Rollemberg - 05/12/2020


Fotomontagem: Camila Paim/Jornal da USP com imagens de Arquivo e Freepik

Um caçador de borboletas, a correr com uma rede em busca das palavras que voavam. Era assim que Auranãlio Buarque de Holanda oscriador do mais prestigioso diciona¡rio brasileiro, aquele que leva seu nome e, mais do que isso, o define, substantivo absoluto osconceituava seu trabalho de dicionarista. Escritor talentoso que poderia ter ido longe na literatura se não houvesse sucumbido ao prazer de caçar palavras com uma rede metafa³rica para, então, disseca¡-las em verbetes, hedonista, inquieto, grande conversador e contador de histórias, Auranãlio também acumulava outros predicados menos abonadores e bem complexos: desorganizado, descumpridor de prazos e um tanto desleixado. Esse rápido retrato pessoal pode ser a sa­ntese daquele intelectual que queria criar um diciona¡rio para chamar de seu e que por décadas deu com os burros n’ águaosmuito devido a s caracteri­sticas listadas hápouco, muito também por causa de um mercado editorial reticente. E, no final, o livro, o “pai dos burros” definitivo acabou saindo e se tornou o maior sucesso editorial do Paa­s, com mais de 15 milhões de exemplares vendidos em pouco mais de 25 anos desde que foi lana§ado, em 1975. O diciona¡rio osuma proeza osficou 42 semanas seguidas na lista dos mais vendidos da revista Veja, isso quando tanto listas quanto a publicação tinham bem mais presta­gio. Mas a história não étão simples assim osnunca anã. 

E esse axioma, por assim dizer, pode ser agora comprovado com o lana§amento de Por Tra¡s das Palavras, do jornalista Cezar Motta. Lana§ado pela recanãm-criada editora Ma¡quina de Livros, a obra conta as aventuras e desventuras que marcaram a criação e edição do Novo Diciona¡rio da La­ngua Portuguesa. Quem? Pode esquecer o nome pomposo e oficial. a‰ são chama¡-lo de “Auranãlio” osno final das contas, o tí­tulo acabou sendo Novo Diciona¡rio Auranãlio da La­ngua Portuguesa. 

Mas não adianta procurar essa definição os“Auranãlio” osde diciona¡rio no pra³prio. Ela não estãola¡. Nunca esteve e, provavelmente, nunca estara¡. “Seria pernóstico e pretensioso”, explicou ostalvez com falsa modanãstia oso “Mestre”, como amigos e disca­pulos chamavam Auranãlio Buarque de Holanda. Ou, como definiu certa vez Mauro de Salles Villar, braa§o direito de Anta´nio Houaiss oso autor da obra que compete com o “Auranãlio” pelo lugar mais alto no pa³dio da lexicografia em portuguaªs, apesar de, como diz Motta, ser mais “rebuscado”: “O uso de ‘Auranãlio’ como significado de diciona¡rio anã, na verdade, uma metona­mia”.

Figuras de reta³rica a  parte, o livro de Cezar Motta conta de forma instigante todas as idas e vindas que envolveram a edição do diciona¡rio, tendo, obviamente, como ator principal o seu criador. O trabalho de Motta osoficialmente equilibrado em seis capa­tulos, sem suma¡rio ospode também ser dividido em duas partes: a primeira, marcada por descumprimentos de prazos, fracassos, frustrações e pela incansa¡vel e conturbada busca por um mecenas, aquela figura patrocinadora generosa, protetora das artes e das letras oscomo bem define, claro, o “Auranãlio”. A segunda, com o estrondoso sucesso após o lana§amento, em 1975, e as subsequentes e intestinas disputas judiciais pela coautoria e por direitos autorais que levaram anos para serem dirimidas. Esta¡ tudo la¡. Contar histórias da confecção de diciona¡rios pode ser muito mais eletrizante do que imagina a va£ filosofia do leitor menos atento osainda mais quando fala-se de um que, ao sair a  luz, pesava pouco mais de três quilos, custava o equivalente hoje a R$ 120,00, tinha 1.536 pa¡ginas em papel-ba­blia e apresentava 120 mil verbetes.

Dr. Johnson, Webster e Oxford

Auranãlio Buarque de Holanda Ferreira (1910-1989) nasceu em Passo do Camaragibe, no interior de Alagoas, e aos 13 anos foi viver com a familia em Maceia³. Adolescente de fartos cabelos avermelhados, alto e inquieto, Auranãlio não era necessariamente um aluno exemplar, mas chamava a atenção. Mas, por mais que se esforçasse, quem atraa­a mesmo a atenção entre os colegas de classe era um tal de Pela³pidas Guimara£es Branda£o Gracindo, que a dramaturgia brasileira passaria a conhecer décadas mais tarde como Paulo Gracindo. “Logo de ina­cio, o novato se mostrara inquieto e insubordinado. Ele era de natureza um tanto avessa a quanto lhe limitasse os impulsos”, o descreveu um outro colega de turma no liceu alagoano, Arnon de Mello, que viria  a ser governador de Alagoas e pai de Fernando Collor de Mello.

Depois que saiu da escola aguentou empregos burocra¡ticos no governo alagoano até1938, quando surgiu uma oportunidade de se mudar para o Rio de Janeiro, então Distrito Federal. Foi trabalhar na Revista do Brasil, dirigida pelo historiador Octa¡vio Tarqua­nio de Sousa e, aos poucos, foi angariando prestígio junto a  intelectualidade da então capital federal, atéestrear como ficcionista com o livro Dois Mundos, lana§ado em 1942. 

Ele começou a ganhar fama como dicionarista nos anos 1950, quando assumiu a condição de revisor principal do Pequeno Diciona¡rio Brasileiro da La­ngua Portuguesa, editado pela Civilização Brasileira. “Mas o cargo não era suficiente para Auranãlio, que mais tarde renegaria o Pequeno Diciona¡rio e passaria a sonhar com um de sua autoria exclusiva”, conta Cezar Motta. Isso, mesmo ele sabendo que a vida de dicionarista nunca foi nada fa¡cil, como bem definiu o dr. Samuel Johnson, grande lexica³grafo inglês do século 18, ele mesmo autor de um dos primeiros diciona¡rios na la­ngua de Shakespeare. Para ele, com certa rabugice, quem se dedicava a essa atividade era “um burro de carga, um inofensivo trabalhador de uma tarefa ingla³ria, exaustiva e sem nenhum reconhecimento da sociedade”. 

O pra³prio Auranãlio tinha uma outra definição para dicionarista. Quem quisesse trabalhar com diciona¡rio deveria ser “muito vivo, inteligente; e um bocado burro”, afirmou ele em uma entrevista ao Pasquim em 1975, na anãpoca do lana§amento do seu diciona¡rio. “Se vocêfor violentamente inteligente, parte com muita sede ao pote e não faz nada. As palavras são muito ariscas”, continuou ele na entrevista reproduzida no livro de Motta. Buscar o sentido das palavras não éalgo simples e tudo muda com o tempo. Para se ter uma ideia, a primeira edição da hista³rica Enciclopanãdia Brita¢nica, de meados do século 18, trazia esta definição para mulher: “female of the man”. Nada mais. Laca´nica, reducionista e machista atéas polainas do rei Jorge III. Mas era o retrato de sua anãpoca. No “Auranãlio”, verbetes de outros diciona¡rios ganharam, a s vezes, dezenas de definições a mais.

Para fazer seu diciona¡rio, Auranãlio tinha em mente duas grandes obras: o Webster americano e o Oxford inglês. O primeiro, publicado desde 1828 e que estabeleceu um padrãopara o inglês falado nos Estados Unidos, écriação do advogado, professor, jornalista e lexica³grafo Noah Webster. Chamava-se An American Dictionary of the English Language. Ok. Va¡ procura¡-lo por esse nome. Nada feito. Mas se pedir um “Webster”… Pois anã, cada la­ngua com seu Auranãlio. Quando foi lana§ado, o diciona¡rio foi um fracasso editorial, vendendo apenas 2.500 exemplares. Mas a história se encarregou de consertar esse deslize.

Já o Oxford tem uma história um pouco mais curiosa. Em 1878, a Sociedade Filola³gica da Inglaterra decidiu fazer o seu pra³prio diciona¡rio, uma obra definitiva que abrangesse não são o inglês falado na Gra£-Bretanha, mas também nos Estados Unidos e nas cola´nias, como Canada¡ e Austra¡lia. E escolheram, por a³bvias razões acadaªmicas e financeiras, a Universidade de Oxford para cuidar da empreitada. E os acadaªmicos da prestigiosa universidade elegeram o professor escocaªs James Murray para pilotar o projeto. Murray não se fez de rogado e colocou anaºncios em jornais ingleses, americanos e das cola´nias pedindo ajuda volunta¡ria com palavras de toda e qualquer especialidade. O mais prola­fico colaborador de Murray era um camarada chamado William Chester Minor, que toda semana enviava cem pa¡ginas caprichosamente manuscritas com sugestaµes de lanãxicos sobre história, medicina e guerras. Curioso, Murray decidiu finalmente conhecer seu assa­duo colaborador. E descobriu que ele era, na verdade, um médico veterano da guerra civil americana internado em um asilo para loucos nos arredores de Londres. Dado a surtos psica³ticos, Minor havia matado um opera¡rio a tiros. Essa história émuito bem contada no livro O Professor e o Demente, de Simon Winchester ose virou um filme interessante, estrelado por Mel Gibson e Sean Penn. 

Bem se vaª, a tarefa de dicionarista não éfa¡cil, nem deve ser solita¡ria osAuranãlio Buarque chegou a ter cerca de 120 colaboradores para pesquisar palavras as mais diversas e criar seus verbetes. E émais sanãria ainda quando não se tem nem dinheiro nem editora. E quando se tem as duas coisas, não se cumpre os prazos.

Sucesso e brigas judiciais

Essa era, na verdade, a cornuca³pia de problemas que rondavam Auranãlio Buarque de Holanda e seu diciona¡rio. Claro que sua fama de intelectual são fez aumentar ao longo dos anos osao ponto de ele ser eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1961. Mas sua fama de desorganizado e descumpridor de prazos também era uma constante. E os colaboradores mais pra³ximos, de primeira hora, como Joaquim Campelo osguardem esse nome ose Margarida dos Anjos (filha do poeta Cyro dos Anjos), além de sua mulher, Marina Baird, viam como era difa­cil conseguir uma editora. Mas estavam todos dedicados a editar “o diciona¡rio”, aquele que desbancaria qualquer outro, principalmente o Caldas Aulete, o, digamos, “Auranãlio” do Brasil de finais da década de 1950.

Auranãlio Buarque de Holanda ao tomar posse como membro da
Academia Brasileira de Letras, em 1961 osFoto: Reprodução/
Extraa­da do livro Por Tra¡s das Palavras

“No fim dos anos 50, todos os principais editores do Paa­s já acreditavam  que seria Auranãlio Buarque de Holanda  o autor do grande diciona¡rio da la­ngua portuguesa que o mercado editorial tanto esperava. Mas Joaquim Campelo via um grave problema: na confluaªncia da busca da perfeição com a realidade prática do trabalho, Auranãlio se perdia”, escreve Cezar Motta, citando Joaquim Campelo, que passou a colaborar diretamente com Auranãlio desde meados dos anos 1950 e ficou ao seu lado por três décadas. Foi Campelo, mais prático, que ficou encarregado de conseguir possa­veis financiamentos para viabilizar o diciona¡rio e também tentar tornar o trabalho mais objetivo. Isso, sem nunca ter recebido um tostão de Auranãlio oso dicionarista considerava que a experiência e os conhecimentos que passava ao auxiliar eram pagamento suficiente, conta Cezar Motta. Durante muito tempo, esse trabalho foi um insucesso são. E a culpa era do Mestre. “Disciplinado, Campelo estranhava os hábitos de Auranãlio, que acordava a s 10 ou 11 horas, era desorganizado e caa³tico. O Mestre, segundo ele, era um pesquisador brilhante, leitor compulsivo, mas preguia§oso a  sua maneira; fazia anotações de forma desconexa, acumulava papanãis com novas palavras e definições nos bolsos, baaºs e gavetas”, afirma Motta em seu livro. Isso, sem se falar em outra caracterí­stica de Auranãlio: ser centralizador.

Em todas as tentativas de levar o diciona¡rio adiante, a equipe osseguindo uma rotina de trabalho, buscando ideias e palavras em outros diciona¡rios para aprimorar e aumentar seus significados em novos verbetes e preparando abonações (as citações litera¡rias que referendam a definição dada) osse via paralisada justamente por quem menos deveria impedir o trabalho de caminhar. “A coisa empacava justamente no Mestre Auranãlio, que retinha  o trabalho pelo seu natural perfeccionismo. Era comum que verbetes simples ganhassem mais de cem acepções diferentes. Auranãlio não tinha qualquer disciplina ou compromisso com prazos”, escreve Cezar Motta. Isso aconteceu nas várias vezes em que houve a tentativa de se tirar o diciona¡rio do mundo das ideias. Foi assim com a revista O Cruzeiro, nos anos 1950, e com a Editora Delta, nos anos 1960, para ficarmos em apenas dois exemplos. Em ambos  os casos, a situação foi a mesma: interesse grande na obra, entusiasmo inicial e depois… nada mais. Nas duas situações, Auranãlio recebeu adiantamentos ou sala¡rio mensal, repassou trabalho para a equipe e prometeu entregar os verbetes. E fez como se a expressão “cumprimento de prazo” não estivesse entre eles osCezar Motta afirma em seu livro que havia a desconfianção de que Auranãlio atrasava propositadamente a entrega de originais para continuar recebendo seu sala¡rio. Para a revista, não entregou uma pa¡gina sequer dois anos depois de assinar o contrato ose o acordo foi encerrado. Com a Delta, do empresa¡rio Abraha£o Koogan, a mesma coisa: dois anos depois de assinado o contrato, nada feito. Resumindo: todos os editores e possa­veis financiadores estavam agora escaldados e ninguanãm queria embarcar em uma barca lexicogra¡fica furada. Mas Joaquim Campelo, que trabalhava também no Jornal do Brasil, continuava tentando osmesmo com dinheiro curto ou sem nenhum. Atéo ex-presidente Juscelino Kubitscheck, então dono de uma financeira, foi procurado, mas educadamente declinou da proposta.

Atéque a editora Regina Bilac Pinto, dona da Forense, fez uma sugestão: que tal Carlos Lacerda, dono da Editora Nova Fronteira? Campelo foi a  editora osAuranãlio não sabia negociar nada além de palavras -, falou com executivos da Nova Fronteira e com o pra³prio Lacerda, que, em um primeiro momento, não gostou da ideia. Mas acabou convencido pelo escritor e jornalista Joa£o Condanã: “Foi Condéque convenceu Carlos Lacerda de que a Editora Nova Fronteira daria um passo hista³rico com a publicação do diciona¡rio ‘Auranãlio’”, escreve Cezar Motta. E, finalmente, a coisa andou. O contrato foi firmado em 17 de abril de 1974.

Em um ritmo frenanãtico de entrega de originais, da letra A atéa Z, o “Auranãlio” ganhou forma e foi lana§ado no Rio de Janeiro, com toda a pompa e circunsta¢ncia, no dia 11 de julho de 1975, “o ponto mais alto da carreira de um dos grandes fila³logos brasileiros”, como atesta Motta. Mas o cartapa¡cio de mais de 1.500 pa¡ginas já estava nas livrarias desde mara§o, com uma tiragem inicial de 18 mil exemplares ose com cerca de mil erros, corrigidos nas reimpressaµes seguintes. O livra£o não parou mais de vender. Em 11 anos, o “Auranãlio” venderia o triplo de toda a obra reunida de Jorge Amado. E a disputa legal por seus direitos autorais começou.

Isso porque Campelo, o fiel escudeiro que entrara na pa¡gina de rosto do diciona¡rio como colaborador, havia sido exclua­do de novos contratos de edição e reimpressão tanto do “Auranãlio” quanto de seu filhote, o Minidiciona¡rio Auranãlio, uma ideia que Sanãrgio Lacerda, filho do dono da Nova Fronteira, teve em 1977. A relação de Campelo e Auranãlio já tinha azedado ainda em 1974, quando o ainda amigo achou que o Mestre estava pedindo dinheiro a Lacerda a  sua revelia. O colaborador ameaa§ou colocar fogo nos originais do diciona¡rio, mas a situação amainou osmas não cicatrizou. Com a nova perspectiva sobre os direitos autorais, Campelo processou Auranãlio e a Nova Fronteira, mas perdeu todas as disputas, aténo STF. A pendenga são acabou em 1985, mas a ma¡goa de Campelo permaneceu osatéporque Auranãlio, no prefa¡cio a  primeira edição, cita 43 nomes de pessoas que foram determinantes para a confecção da obra. Joaquim Campelo não estãoentre eles.

O “Auranãlio” teve outros filhotes além do Minidiciona¡rio: o Auranãlio escolar, o Mini Auranãlio Infantil oscom ilustrações de Ziraldo ose suas versaµes eletra´nicas, primeiro ainda com a Nova Fronteira, depois com a Editora Positivo, detentora de seus direitos desde o começo do século 21. A concorraªncia aumentou muito nos últimos anos, mas a obra continua uma referaªncia essencial ose éatualizado periodicamente pela lexica³grafa carioca Renata Menezes.

Auranãlio Buarque de Holanda morreu no dia 27 de fevereiro de 1989, dois meses antes de completar 79 anos, depois de padecer por oito anos do mal de Parkinson. Morreu em casa, já que nos últimos tempos se recusava a ir a hospitais. Em sua última internação, poranãm, ele ainda conseguiu dar uma mostra de como, mesmo doente, ainda tinha uma ligação intensa com as palavras e com a la­ngua portuguesa, como conta Beto Sales, filho do escritor Herberto Sales, no prefa¡cio de Por Tra¡s das Palavras:

“Na última vez que vi o Mestre, fui com meu pai visita¡-lo no hospital, sua derradeira internação. Minado pela luta contra o mal de Parkinson, o Auranãlio que estava ali na cama em nada lembrava a vibrante presença do homem que aproximou o brasileiro de sua la­ngua. Mal balbuciava muxoxos guturais. De saºbito, entra no quarto a médica que vinha acompanhando seu delicado quadro naqueles dias, e triunfalmente cumpre a  risca o rito de mostrar bom humor diante da nossa patanãtica impotaªncia: ‘Grande mestre, vim aqui são para lhe ver!’. Aquele uso errado da transição do verbo ‘ver’ era a centelha para saber se de fato o Mestre ainda guardava com o nosso mundo algum elo. Olhei para a cama e vi Auranãlio se retorcer com incra­vel dificuldade, seu tronco e braa§os enrijecendo como a preceder um movimento brusco que lhe seria impratica¡vel, sua boca abrir além do que a letargia da doença permitia, e num esfora§o brutal sussurrar: ‘Vaª-lo, vaªaªaª-lo’”. 

 

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