Campus

Cuidando da mente, do corpo e da espiritualidade
Evento virtual aborda temas sensa­veis a  saúde pela perspectiva de estudantes inda­genas. Organizada pela DIV e Dasu, roda ocorre no dia 12 de abril
Por Gisele Pimenta - 09/04/2021


No abril inda­gena, evento e ações da UnB da£o visibilidade a temas que perpassam as vivaªncias de diferentes povos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB
 
Da comunidade inda­gena de Tapereira para Santa Isabel do Rio Negro. Do munica­pio amazonense para Manaus. Da capital estadual para Brasa­lia. Desconsiderando as muitas idas e vindas, os mais de quatro mil quila´metros percorridos por Suliete Gerva¡sio Monteiro ilustram, geograficamente, sua trajeta³ria educacional, do ensino ba¡sico a  pós-graduação na Universidade de Brasa­lia.

“Sair de Manaus para vir para a UnB foi tão impactante quanto sair da minha comunidade para continuar a segunda parte da educação fundamental em Santa Isabel. Foi bem difa­cil, mas agarrei a oportunidade com unhas e dentes”, orgulha-se Suli Baranã, como gosta de ser chamada.

A mudança foi a  anãpoca da sua aprovação no vestibular da Universidade. Hoje, aos 34 anos, a engenheira florestal faz mestrado em Direitos Humanos. “Nãoescolhi a UnB. Foi a UnB e seu pioneirismo no processo de reserva de vagas para estudantes inda­genas que me escolheram”, conta.

Entre as tantas dificuldades vivenciadas pela pa³s-graduanda durante sua vida acadaªmica, uma chama a atenção. “Nãofoi fa¡cil colar grau. Em vários momentos pensei em desistir, tive ansiedade e acho que tive uma ‘semidepressão’. Mas são consegui perceber depois que me formei, conversando com alguns colegas”; confessa Suli.

LAa‡OS DE SAašDE osDar visibilidade a s tema¡ticas que perpassam a saúde inda­gena éum caminho para evitar que relatos como esse se repitam ou se agravem. Essa éa ta´nica de um bate-papo virtual que ocorre nesta segunda-feira (12), a s 16h, com transmissão pelo canal da Diretoria de Atenção a  Saúde da Comunidade Universita¡ria (Dasu/DAC) no YouTube.

Na conversa, Suliete Barée mais dois estudantes da UnB, Debora Tupinikin e Faªtxawewe Tapuya Guajajara, compartilhara£o experiências e esclarecera£o daºvidas relacionadas a  sanidade e bem-estar mental, a  saúde da mulher e do homem e também sobre o Ambulata³rio de Saúde Inda­gena do Hospital Universita¡rio de Brasa­lia (ASI/HUB).

A iniciativa éuma realização da Coordenação de Articulação de Redes para Prevenção e Promoção da Saúde (CoRedes/Dasu) e da Coordenação da QuestãoInda­gena (Coquei/DIV).

“Enxergar a saúde por nossa perspectiva enquanto povos inda­genas e origina¡rios e ocupar os Espaços de fala sobre o tema são pontos fundamentais. Fiquei muito honrado com a oportunidade, sobretudo porque estarei ao lado de duas mulheres guerreiras, das quais admiro o trabalho”, sinaliza Faªtxa.

No evento, o graduando em Ciências Sociais e liderana§a jovem da Comunidade Santua¡rio Sagrado dos Pajé(DF) pretende falar sobre saúde mental, corporal, sexual, espiritual e da alma, além da perspectiva inda­gena sobre saúde no territa³rio. “Acredito muito nesta troca de saberes e de energia, ainda mais sendo mais jovem, me traz força para tocar em questões mais sensa­veis”, projeta.

Na visão de Debora Tupinikin, mestranda em Pola­tica Social, o principal desafio enfrentado pelos inda­genas no a¢mbito da saúde éa falta do acesso a s políticas públicas especa­ficas, fato que tem se agravado no contexto da pandemia.

“No período em que nos encontramos em Brasa­lia, por exemplo, não temos acesso a  pola­tica de saúde inda­gena, pois ela édestinada a s terras demarcadas e não reconhece os inda­genas que estãonos Espaços urbanos. Um exemplo éa vacina contra covid-19”, pontua a assistente social. 

AMBULATa“RIO osInda­gena da etnia Tupinikin, Debora argumenta que o atendimento a  saúde, quando feito de forma não diferenciada, acarreta em choque cultural, situação muitas vezes violenta. Neste sentido, ressalta a releva¢ncia da criação e ampliação do ASI, fruto de uma parceria do coletivo dos estudantes inda­genas com o Departamento de Saúde Coletiva da UnB.

“O Ambulata³rio tem contribua­do para diminuir as dificuldades do não acesso a  pola­tica de saúde inda­gena no contexto urbano, mas ainda estãolonge de representar a concretização de um direito que deve ser garantido pelo Estado”, opina.

A coordenadora da Coquei, Claudia Renault, detalha que ha¡, na unidade, um convaªnio para atender pacientes não residentes em Brasa­lia encaminhados para tratamento. “Essa assistaªncia foi estendida aos estudantes inda­genas, considerados população em tra¢nsito e que necessitam de atenção a  saúde na qual exista uma junção de saberes.”

“Os alunos inda­genas da UnB são oriundos de diversas regiaµes e culturas. A maioria tem os cuidados ao corpo associados a  medicina tradicional e a  medicina cienta­fica e alopa¡tica. Por cultura e tradição, muitos cuidados ba¡sicos de saúde são realizados concomitantes ou atémesmo após o esgotamento das orientações dos anciaµes, pajanãs e curandeiros”, complementa a coordenadora. 

Referaªncia no atendimento especializado aos inda­genas que residem no Distrito Federal, o ASI se estrutura a partir do trabalho intercultural e interdisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, preceptores inda­genas, profissionais indigenistas e estudantes estagia¡rios. “Buscamos o atendimento diferenciado, respeitando as especificidades dos inda­genas”, aponta Debora Tupinikin, uma das preceptoras.

A pa³s-graduanda Suli Barétambém atua como preceptora no Ambulata³rio e explica que sua função éestar junto dos profissionais de saúde para acolher o paciente. “Acompanho o atendimento, observo e oriento os estagia¡rios não inda­genas. Muitas pessoas não conhecem nada da nossa realidade, então, fazemos essa ponte, esse dia¡logo para esclarecer as especificidades”, detalha.

Durante a pandemia causada pelo novo coronava­rus, a maior parte dos atendimentos do ASI ocorre de forma remota, por chamadas de va­deo ou de telefone. Os inda­genas interessados em tirar daºvidas sobre consultas e procedimentos podem enviar mensagem de texto (via WhatsApp) para o telefone: (61) 2028-5422.

“O Ambulata³rio hoje éum projeto muito interessante e muito bom, pois atende a s necessidades dos povos inda­genas, nos respeitando acima de tudo”, acrescenta Suli.

INDaGENAS NA UnB osSegundo a Coquei, a UnB tem hoje 204 estudantes inda­genas ativos da graduação, ingressantes do convaªnio com a Fundação Nacional do andio (Funai) e outros quatro ingressantes por meio do Vestibular e do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Na pós-graduação, são 25 discentes. Ao todo, são 39 povos diferentes.

Claudia Renault destaca que a Universidade atua em várias frentes para acolher os estudantes. a‰ o caso dos projetos internos de escolha de padrinhos inda­genas, que acompanham os ingressantes durante o percurso acadaªmico, e da recepção dos discentes quando eles chegam a  cidade e a  instituição.

Ha¡ também a disponibilização de tutorias e tutores em diversos cursos no a¢mbito do Projeto Raa­zes, parceria do Decanato de Ensino de Graduação (DEG), da Coquei e da Secretaria de Assuntos Internacionais (INT).

“Algumas parcerias com professores, departamentos e faculdades desenvolvem ações bem especa­ficas, como o envio de material pelos Correios ou o uso de recursos midia¡ticos diversos para fazer com que os conteaºdos cheguem aos estudantes em suas comunidades”, relata a coordenadora.

Durante a pandemia, a Universidade garantiu auxa­lio alimentação para os 104 estudantes inda­genas que permaneceram em Brasa­lia e ofereceu auxa­lio deslocamento para que, em momento seguro, eles pudessem retornar a s suas comunidades, embora poucos tenham regressado.

“Semanalmente, a Coquei realiza uma conferaªncia on-line com o grupo e conversa ao telefone com aqueles que precisam de atendimento individual. Nas situações mais vulnera¡veis e sensa­veis, chegamos a atender presencialmente e encaminhar os casos para o ASI ou para o acompanhamento psicola³gico da DIV [Diretoria da Diversidade], da Dasu e do Caep [Centro de Atendimento e Estudos Psicola³gicos]”, revela Claudia.

Além dessas ações, ela reforça que a Coquei busca o dia¡logo com os discentes, pois apenas eles são capazes de dar respaldo ao que estãosendo feito, bem como mostrar as suas principais necessidades e demandas.

“Esses estudantes, depois de formados, ira£o retornar a s suas comunidades para ocupar cargos hoje preenchidos por não inda­genas, e assim autogerir seus territa³rios. Seja assumindo as salas de aulas nas escolas inda­genas, as Unidades Ba¡sicas de Saúde, os estudos sociola³gicos e antropola³gicos nas instituições de pesquisas, os cargos de engenheiros nas empresas de proteção e reflorestamento, os cargos de professores inda­genas nas universidades, dentre tantos outros postos”, salienta a gestora.

Servia§o
Saúde inda­gena - Projeto Laa§os na Saúde (Coredes/Dasu e Coquei/DIV)
Dia 12 de abril, a s 16h
Transmissão no canal da Dasu no YouTube
Saiba mais sobre as inscrições aqui 
Informações sobre os palestrantes disponí­veis em @dasu_unb

 

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