Evento virtual aborda temas sensaveis a saúde pela perspectiva de estudantes indagenas. Organizada pela DIV e Dasu, roda ocorre no dia 12 de abril

No abril indagena, evento e ações da UnB da£o visibilidade a temas que perpassam as vivaªncias de diferentes povos. Foto: Beto Monteiro/Secom UnB
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Da comunidade indagena de Tapereira para Santa Isabel do Rio Negro. Do municapio amazonense para Manaus. Da capital estadual para Brasalia. Desconsiderando as muitas idas e vindas, os mais de quatro mil quila´metros percorridos por Suliete Gerva¡sio Monteiro ilustram, geograficamente, sua trajeta³ria educacional, do ensino ba¡sico a pós-graduação na Universidade de Brasalia.
“Sair de Manaus para vir para a UnB foi tão impactante quanto sair da minha comunidade para continuar a segunda parte da educação fundamental em Santa Isabel. Foi bem difacil, mas agarrei a oportunidade com unhas e dentesâ€, orgulha-se Suli Baranã, como gosta de ser chamada.
A mudança foi a anãpoca da sua aprovação no vestibular da Universidade. Hoje, aos 34 anos, a engenheira florestal faz mestrado em Direitos Humanos. “Nãoescolhi a UnB. Foi a UnB e seu pioneirismo no processo de reserva de vagas para estudantes indagenas que me escolheramâ€, conta.
Entre as tantas dificuldades vivenciadas pela pa³s-graduanda durante sua vida acadaªmica, uma chama a atenção. “Nãofoi fa¡cil colar grau. Em vários momentos pensei em desistir, tive ansiedade e acho que tive uma ‘semidepressão’. Mas são consegui perceber depois que me formei, conversando com alguns colegasâ€; confessa Suli.
LAa‡OS DE SAašDE osDar visibilidade a s tema¡ticas que perpassam a saúde indagena éum caminho para evitar que relatos como esse se repitam ou se agravem. Essa éa ta´nica de um bate-papo virtual que ocorre nesta segunda-feira (12), a s 16h, com transmissão pelo canal da Diretoria de Atenção a Saúde da Comunidade Universita¡ria (Dasu/DAC) no YouTube.
Na conversa, Suliete Barée mais dois estudantes da UnB, Debora Tupinikin e Faªtxawewe Tapuya Guajajara, compartilhara£o experiências e esclarecera£o daºvidas relacionadas a sanidade e bem-estar mental, a saúde da mulher e do homem e também sobre o Ambulata³rio de Saúde Indagena do Hospital Universita¡rio de Brasalia (ASI/HUB).
A iniciativa éuma realização da Coordenação de Articulação de Redes para Prevenção e Promoção da Saúde (CoRedes/Dasu) e da Coordenação da QuestãoIndagena (Coquei/DIV).
“Enxergar a saúde por nossa perspectiva enquanto povos indagenas e origina¡rios e ocupar os Espaços de fala sobre o tema são pontos fundamentais. Fiquei muito honrado com a oportunidade, sobretudo porque estarei ao lado de duas mulheres guerreiras, das quais admiro o trabalhoâ€, sinaliza Faªtxa.
No evento, o graduando em Ciências Sociais e liderana§a jovem da Comunidade Santua¡rio Sagrado dos Pajé(DF) pretende falar sobre saúde mental, corporal, sexual, espiritual e da alma, além da perspectiva indagena sobre saúde no territa³rio. “Acredito muito nesta troca de saberes e de energia, ainda mais sendo mais jovem, me traz força para tocar em questões mais sensaveisâ€, projeta.
Na visão de Debora Tupinikin, mestranda em Polatica Social, o principal desafio enfrentado pelos indagenas no a¢mbito da saúde éa falta do acesso a s políticas públicas especaficas, fato que tem se agravado no contexto da pandemia.
“No período em que nos encontramos em Brasalia, por exemplo, não temos acesso a polatica de saúde indagena, pois ela édestinada a s terras demarcadas e não reconhece os indagenas que estãonos Espaços urbanos. Um exemplo éa vacina contra covid-19â€, pontua a assistente social.Â
AMBULATa“RIO osIndagena da etnia Tupinikin, Debora argumenta que o atendimento a saúde, quando feito de forma não diferenciada, acarreta em choque cultural, situação muitas vezes violenta. Neste sentido, ressalta a releva¢ncia da criação e ampliação do ASI, fruto de uma parceria do coletivo dos estudantes indagenas com o Departamento de Saúde Coletiva da UnB.
“O Ambulata³rio tem contribuado para diminuir as dificuldades do não acesso a polatica de saúde indagena no contexto urbano, mas ainda estãolonge de representar a concretização de um direito que deve ser garantido pelo Estadoâ€, opina.
A coordenadora da Coquei, Claudia Renault, detalha que ha¡, na unidade, um convaªnio para atender pacientes não residentes em Brasalia encaminhados para tratamento. “Essa assistaªncia foi estendida aos estudantes indagenas, considerados população em tra¢nsito e que necessitam de atenção a saúde na qual exista uma junção de saberes.â€
“Os alunos indagenas da UnB são oriundos de diversas regiaµes e culturas. A maioria tem os cuidados ao corpo associados a medicina tradicional e a medicina cientafica e alopa¡tica. Por cultura e tradição, muitos cuidados ba¡sicos de saúde são realizados concomitantes ou atémesmo após o esgotamento das orientações dos anciaµes, pajanãs e curandeirosâ€, complementa a coordenadora.Â
Referaªncia no atendimento especializado aos indagenas que residem no Distrito Federal, o ASI se estrutura a partir do trabalho intercultural e interdisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, preceptores indagenas, profissionais indigenistas e estudantes estagia¡rios. “Buscamos o atendimento diferenciado, respeitando as especificidades dos indagenasâ€, aponta Debora Tupinikin, uma das preceptoras.
A pa³s-graduanda Suli Barétambém atua como preceptora no Ambulata³rio e explica que sua função éestar junto dos profissionais de saúde para acolher o paciente. “Acompanho o atendimento, observo e oriento os estagia¡rios não indagenas. Muitas pessoas não conhecem nada da nossa realidade, então, fazemos essa ponte, esse dia¡logo para esclarecer as especificidadesâ€, detalha.
Durante a pandemia causada pelo novo coronavarus, a maior parte dos atendimentos do ASI ocorre de forma remota, por chamadas de vadeo ou de telefone. Os indagenas interessados em tirar daºvidas sobre consultas e procedimentos podem enviar mensagem de texto (via WhatsApp) para o telefone: (61) 2028-5422.
“O Ambulata³rio hoje éum projeto muito interessante e muito bom, pois atende a s necessidades dos povos indagenas, nos respeitando acima de tudoâ€, acrescenta Suli.
INDaGENAS NA UnB osSegundo a Coquei, a UnB tem hoje 204 estudantes indagenas ativos da graduação, ingressantes do convaªnio com a Fundação Nacional do andio (Funai) e outros quatro ingressantes por meio do Vestibular e do Programa de Avaliação Seriada (PAS). Na pós-graduação, são 25 discentes. Ao todo, são 39 povos diferentes.
Claudia Renault destaca que a Universidade atua em várias frentes para acolher os estudantes. a‰ o caso dos projetos internos de escolha de padrinhos indagenas, que acompanham os ingressantes durante o percurso acadaªmico, e da recepção dos discentes quando eles chegam a cidade e a instituição.
Ha¡ também a disponibilização de tutorias e tutores em diversos cursos no a¢mbito do Projeto Raazes, parceria do Decanato de Ensino de Graduação (DEG), da Coquei e da Secretaria de Assuntos Internacionais (INT).
“Algumas parcerias com professores, departamentos e faculdades desenvolvem ações bem especaficas, como o envio de material pelos Correios ou o uso de recursos midia¡ticos diversos para fazer com que os conteaºdos cheguem aos estudantes em suas comunidadesâ€, relata a coordenadora.
Durante a pandemia, a Universidade garantiu auxalio alimentação para os 104 estudantes indagenas que permaneceram em Brasalia e ofereceu auxalio deslocamento para que, em momento seguro, eles pudessem retornar a s suas comunidades, embora poucos tenham regressado.
“Semanalmente, a Coquei realiza uma conferaªncia on-line com o grupo e conversa ao telefone com aqueles que precisam de atendimento individual. Nas situações mais vulnera¡veis e sensaveis, chegamos a atender presencialmente e encaminhar os casos para o ASI ou para o acompanhamento psicola³gico da DIV [Diretoria da Diversidade], da Dasu e do Caep [Centro de Atendimento e Estudos Psicola³gicos]â€, revela Claudia.
Além dessas ações, ela reforça que a Coquei busca o dia¡logo com os discentes, pois apenas eles são capazes de dar respaldo ao que estãosendo feito, bem como mostrar as suas principais necessidades e demandas.
“Esses estudantes, depois de formados, ira£o retornar a s suas comunidades para ocupar cargos hoje preenchidos por não indagenas, e assim autogerir seus territa³rios. Seja assumindo as salas de aulas nas escolas indagenas, as Unidades Ba¡sicas de Saúde, os estudos sociola³gicos e antropola³gicos nas instituições de pesquisas, os cargos de engenheiros nas empresas de proteção e reflorestamento, os cargos de professores indagenas nas universidades, dentre tantos outros postosâ€, salienta a gestora.
Servia§o
Saúde indagena - Projeto Laa§os na Saúde (Coredes/Dasu e Coquei/DIV)
Dia 12 de abril, a s 16h
Transmissão no canal da Dasu no YouTube
Saiba mais sobre as inscrições aquiÂ
Informações sobre os palestrantes disponíveis em @dasu_unb