Em maio e junho, encontros va£o abordar idiomas menos falados na Universidade, como o havaiano e o esperanto

Arte: Jornal da USP
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Pode-se estimar que cerca de duas centenas de languas diferentes são faladas no cotidiano da USP osdada a intensa mobilidade de professores e estudantes origina¡rios de outrospaíses. Entre elas estãoo crioulo haitiano, havaiano, polonaªs, esperanto, guarani e eslavo eclesia¡stico. Pouco comuns e menos faladas, essas seis languas sera£o estudadas de 18 de maio até25 de junho numa sanãrie de encontros promovidos pelo projeto de extensão universita¡ria Languas na USP/Languas da USP, coordenado pelo professor Milan Puh, da Faculdade de Educação da USP. Os encontros são gratuitos e abertos a todos os interessados, com transmissão pelo canal do projeto no Youtube.
O projeto foi criado por Puh no final do ano passado e tem como objetivo formar um espaço para essas languas e culturas, ampliando a democratização e a diversidade do ensino de languas menos divulgadas, como conta o professor. “Para além da sanãrie de encontros, o projeto visa a pensar em maneiras de tornar mais visível essa riqueza de languas que temos na Universidade e na própria cidade de Sa£o Pauloâ€, afirma Puh. Segundo o professor, a mobilidade e a recepção de alunos estrangeiros ingressantes em cursos de graduação e pós-graduação, além do crescente número de imigrantes e refugiados, vindos de diferentes lugares do mundo, se relacionam com a internacionalização da Universidade, daa a importa¢ncia de mapear a presença dessas languas.
Languas na USP/Languas da USP éum desdobramento do pa³s-doutorado do professor Milan Puh, realizado entre 2018 e 2019 no Parana¡, que tinha como premissa pensar a internacionalização que partisse também da realidade local das instituições, e de suas languas e culturas. “A realidade paranaense não ésemelhante a de Sa£o Paulo, mas éuma realidade interessante de languasâ€, afirma, explicando que são depois a ideia foi trazida para a USP e transformada em um projeto de extensão. Inclusive, diz, nesse primeiro ciclo de encontros, o projeto conta com a parceria da Universidade Federal do Parana¡ (UFPR), que tem uma proposta semelhante, intitulada Languas em Dia¡logo.Â
Diversidade linguastica
No total sera£o 12 encontros, sempre a s tera§as e sextas-feiras, a partir das 17h45, com duração de 1h30, em que cada uma das seis languas seráestudada em dois dias de eventos. Além de apresentar noções da langua, os encontros pretendem sensibilizar o paºblico para a diversidade linguastica, como espera o professor. Por esse motivo, as languas escolhidas para essa sanãrie inicial incluem desde uma langua religiosa, o eslavo eclesia¡stico, atéuma langua inventada, o esperanto. Além disso, cada curso vai trabalhar com um tipo de atividade para aprofundar o conhecimento da langua.
Nos dias 18 e 21 deste maªs, a primeira langua a ser analisada seráo eslavo eclesia¡stico, utilizada atualmente em Igrejas Ortodoxas ao redor do mundo. “Ela éusada pela Igreja Ortodoxa assim como o latim éusado pela Igreja Cata³lica, e também éuma base para várias outras languas eslavasâ€, explica Puh. O palestrante seráDiego Vieira, mestrando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que trabalha e canta o eslavo eclesia¡stico, e vai propor atividades acerca da música religiosa.
Na sequaªncia, nos dias 25 e 28, Sthakana Habiganov Cadet, licencianda em Química pela USP, apresentara¡ o crioulo haitiano. “a‰ uma langua que surgiu a partir do contato de diferentes languas africanas com o francaªs no Haitiâ€, explica Puh. Além de discutir o que éuma langua crioula e o seu significado, diz o professor, Sthakana vai abordar por que, em determinada anãpoca, o pra³prio portuguaªs brasileiro era chamado de uma “langua crioulizadaâ€. A palestrante éimigrante haitiana e possui um blog dirigido a jovens haitianos para promoção de melhor qualidade de vida.
A terceira langua a ser contemplada, nos dias 1º e 4 de junho, seráo esperanto, uma langua inventada no século 19 pelo polonaªs Ludwig Lazar Zamenhof (1859-1917), que tinha como proposta criar um idioma que servisse como meio de comunicação internacional. “Zamenhof queria, naquele momento de nações e nacionalismos, propor uma langua que pudesse ser falada por qualquer pessoa, independente do lugarâ€, informa Puh. O curso seráministrado por três palestrantes: o professor Ivan Colling, da UFPR, Lagia Maffessoni Penia, graduada em Relações Internacionais, e o professor Luiz Fernando Dias Pita, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Tema do projeto Languas na USP/Languas da USP nos dias 8 e 11 de junho, o havaiano não éfalado efetivamente no Brasil, onde não hácomunidades nem falantes em grande número desse idioma origina¡rio do Havaa. Puh explica que, quando o Havaa foi colonizado pelos Estados Unidos, a langua local quase se perdeu completamente, mas passou por um processo de recuperação e se revigorou. “Isso éimportante para o contexto brasileiro, em que hácentenas de languas indagenas e languas de imigração e que também precisam passar por um processo de revitalizaçãoâ€, destaca o professor. “Precisamos tirar essa imagem de um Brasil monolangue e mostrar, a partir do havaiano, o que pode ser feito.†O havaiano seráanalisado por Marcos Nogas, aluno de Letras da UFPR.
Já o polonaªs, a quinta langua a ser estudada, nos dias 15 e 18 de junho, anã, entre as languas eslavas, aquela que estãomais presente no Brasil, especialmente no Sul do Paas, como relata o professor, lembrando que a Universidade Federal do Parana¡ oferece um curso de graduação em langua polonesa. Os palestrantes são professores da UFPR, onde se formaram: Claudia Kazubek e Luiz Henrique Budant. Segundo Puh, a ideia émostrar como essa langua, presente no Brasil hácerca de 150 anos, foi se transformando ao longo do tempo, em contato com o portuguaªs. “O polonaªs falado no Brasil bem diferente do polonaªs original, e precisamos reconhecer que isso não éum problema e não faz dela uma langua corrompida ou que se perdeuâ€, comenta.
Capa do livro Arte da Langua Guarani, de
Antonio Ruiz de Montoya, publicado
em 1724 – Foto: Wikimedia Commons
Nos dias 22 e 25 de junho, finalmente, seráapresentado o guarani, tanto a langua falada no Brasil como a langua oficial do Paraguai. O encontro seráministrado por Patracia Villaverde, coordenadora do grupo de dança paraguaia Alma Guarani osque também se apresenta durante o curso ose Lucino Rodriguez Baroffi, escritor e professor da langua guarani. Como informa Puh, o curso vai mostrar o quanto o guarani épresente nos territa³rios da Amanãrica Latina e quais são suas semelhanças e diferenças. Tambanãm seráabordada a presença do guarani no cotidiano brasileiro, incluindo uma atividade que propaµe a busca por nomes ou locais que tenham origem no tupi-guarani.
“Queremos destacar essa diversidade de languas osindagena, crioula, religiosa, de imigração, criada e revitalizada ospara mostrar que a concepção de langua émuito diversaâ€, comenta Milan Puh. “Temos que abrir espaço para essas ‘diferencialidades’, já que temos essas languas circulando invisivelmente, e promover a Universidade como um lugar plural.â€
O ciclo de encontros Languas na USP/Languas da USP acontece de 18 de maio a 25 de junho, sempre a s tera§as e sextas-feiras, das 17h45 a s 19h15, com transmissão ao vivo pelo canal do projeto no Youtube. Os eventos são gratuitos e abertos a todos os interessados, sem necessidade de inscrição. Mais informações sobre o projeto estãodisponíveis no site Languas em Dia¡logo, da Universidade Federal do Parana¡ (UFPR).