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Cerca de 200 la­nguas podem estar em circulação nos campi da USP
Em maio e junho, encontros va£o abordar idiomas menos falados na Universidade, como o havaiano e o esperanto
Por Claudia Costa - 15/05/2021


Arte: Jornal da USP
 
Pode-se estimar que cerca de duas centenas de la­nguas diferentes são faladas no cotidiano da USP osdada a intensa mobilidade de professores e estudantes origina¡rios de outrospaíses. Entre elas estãoo crioulo haitiano, havaiano, polonaªs, esperanto, guarani e eslavo eclesia¡stico. Pouco comuns e menos faladas, essas seis la­nguas sera£o estudadas de 18 de maio até25 de junho numa sanãrie de encontros promovidos pelo projeto de extensão universita¡ria La­nguas na USP/La­nguas da USP, coordenado pelo professor Milan Puh, da Faculdade de Educação da USP. Os encontros são gratuitos e abertos a todos os interessados, com transmissão pelo canal do projeto no Youtube.

O projeto foi criado por Puh no final do ano passado e tem como objetivo formar um espaço para essas la­nguas e culturas, ampliando a democratização e a diversidade do ensino de la­nguas menos divulgadas, como conta o professor. “Para além da sanãrie de encontros, o projeto visa a pensar em maneiras de tornar mais visível essa riqueza de la­nguas que temos na Universidade e na própria cidade de Sa£o Paulo”, afirma Puh. Segundo o professor, a mobilidade e a recepção de alunos estrangeiros ingressantes em cursos de graduação e pós-graduação, além do crescente número de imigrantes e refugiados, vindos de diferentes lugares do mundo, se relacionam com a internacionalização da Universidade, daa­ a importa¢ncia de mapear a presença dessas la­nguas.

La­nguas na USP/La­nguas da USP éum desdobramento do pa³s-doutorado do professor Milan Puh, realizado entre 2018 e 2019 no Parana¡, que tinha como premissa pensar a internacionalização que partisse também da realidade local das instituições, e de suas la­nguas e culturas. “A realidade paranaense não ésemelhante a  de Sa£o Paulo, mas éuma realidade interessante de la­nguas”, afirma, explicando que são depois a ideia foi trazida para a USP e transformada em um projeto de extensão. Inclusive, diz, nesse primeiro ciclo de encontros, o projeto conta com a parceria da Universidade Federal do Parana¡ (UFPR), que tem uma proposta semelhante, intitulada La­nguas em Dia¡logo. 

Diversidade lingua­stica

No total sera£o 12 encontros, sempre a s tera§as e sextas-feiras, a partir  das 17h45, com duração de 1h30, em que cada uma das seis la­nguas seráestudada em dois dias de eventos. Além de apresentar noções da la­ngua, os encontros pretendem sensibilizar o paºblico para a diversidade lingua­stica, como espera o professor. Por esse motivo, as la­nguas escolhidas para essa sanãrie inicial incluem desde uma la­ngua religiosa, o eslavo eclesia¡stico, atéuma la­ngua inventada, o esperanto. Além disso, cada curso vai trabalhar com um tipo de atividade para aprofundar o conhecimento da la­ngua.

Nos dias 18 e 21 deste maªs, a primeira la­ngua a ser analisada seráo eslavo eclesia¡stico, utilizada atualmente em Igrejas Ortodoxas ao redor do mundo. “Ela éusada pela Igreja Ortodoxa assim como o latim éusado pela Igreja Cata³lica, e também éuma base para várias outras la­nguas eslavas”, explica Puh. O palestrante seráDiego Vieira, mestrando da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, que trabalha e canta o eslavo eclesia¡stico, e vai propor atividades acerca da música religiosa.

Na sequaªncia, nos dias 25 e 28, Sthakana Habiganov Cadet, licencianda em Quí­mica pela USP, apresentara¡ o crioulo haitiano. “a‰ uma la­ngua que surgiu a partir do contato de diferentes la­nguas africanas com o francaªs no Haiti”, explica Puh. Além de discutir o que éuma la­ngua crioula e o seu significado, diz o professor, Sthakana vai abordar por que, em determinada anãpoca, o pra³prio portuguaªs brasileiro era chamado de uma “la­ngua crioulizada”. A palestrante éimigrante haitiana e possui um blog dirigido a jovens haitianos para promoção de melhor qualidade de vida.

A terceira la­ngua a ser contemplada, nos dias 1º e 4 de junho, seráo esperanto, uma la­ngua inventada no século 19 pelo polonaªs Ludwig Lazar Zamenhof (1859-1917), que tinha como proposta criar um idioma que servisse como meio de comunicação internacional. “Zamenhof queria, naquele momento de nações e nacionalismos, propor uma la­ngua que pudesse ser falada por qualquer pessoa, independente do lugar”, informa Puh. O curso seráministrado por três palestrantes: o professor Ivan Colling, da UFPR, La­gia Maffessoni Penia, graduada em Relações Internacionais, e o professor Luiz Fernando Dias Pita, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Tema do projeto La­nguas na USP/La­nguas da USP nos dias 8 e 11 de junho, o havaiano não éfalado efetivamente no Brasil, onde não hácomunidades nem falantes em grande número desse idioma origina¡rio do Havaa­. Puh explica que, quando o Havaa­ foi colonizado pelos Estados Unidos, a la­ngua local quase se perdeu completamente, mas passou por um processo de recuperação e se revigorou. “Isso éimportante para o contexto brasileiro, em que hácentenas de la­nguas inda­genas e la­nguas de imigração e que também precisam passar por um processo de revitalização”, destaca o professor. “Precisamos tirar essa imagem de um Brasil monola­ngue e mostrar, a partir do havaiano, o que pode ser feito.” O havaiano seráanalisado por Marcos Nogas, aluno de Letras da UFPR.

Já o polonaªs, a quinta la­ngua a ser estudada, nos dias 15 e 18 de junho, anã, entre as la­nguas eslavas, aquela que estãomais presente no Brasil, especialmente no Sul do Paa­s, como relata o professor, lembrando que a Universidade Federal do Parana¡ oferece um curso de graduação em la­ngua polonesa. Os palestrantes são professores da UFPR, onde se formaram: Claudia Kazubek e Luiz Henrique Budant. Segundo Puh, a ideia émostrar como essa la­ngua, presente no Brasil hácerca de 150 anos, foi se transformando ao longo do tempo, em contato com o portuguaªs. “O polonaªs falado no Brasil bem diferente do polonaªs original, e precisamos reconhecer que isso não éum problema e não faz dela uma la­ngua corrompida ou que se perdeu”, comenta.

Capa do livro Arte da La­ngua Guarani, de
Antonio Ruiz de Montoya, publicado
em 1724 – Foto: Wikimedia Commons


Nos dias 22 e 25 de junho, finalmente, seráapresentado o guarani, tanto a la­ngua falada no Brasil como a la­ngua oficial do Paraguai. O encontro seráministrado por Patra­cia Villaverde, coordenadora do grupo de dança paraguaia Alma Guarani osque também se apresenta durante o curso ose Lucino Rodriguez Baroffi, escritor e professor da la­ngua guarani. Como informa Puh, o curso vai mostrar o quanto o guarani épresente nos territa³rios da Amanãrica Latina e quais são suas semelhanças e diferenças. Tambanãm seráabordada a presença do guarani no cotidiano brasileiro, incluindo uma atividade que propaµe a busca por nomes ou locais que tenham origem no tupi-guarani.

“Queremos destacar essa diversidade de la­nguas osinda­gena, crioula, religiosa, de imigração, criada e revitalizada ospara mostrar que a concepção de la­ngua émuito diversa”, comenta Milan Puh. “Temos que abrir espaço para essas ‘diferencialidades’, já que temos essas la­nguas circulando invisivelmente, e promover a Universidade como um lugar plural.”

O ciclo de encontros La­nguas na USP/La­nguas da USP acontece de 18 de maio a 25 de junho, sempre a s tera§as e sextas-feiras, das 17h45 a s 19h15, com transmissão ao vivo pelo canal do projeto no Youtube.  Os eventos são gratuitos e abertos a todos os interessados, sem necessidade de inscrição. Mais informações sobre o projeto estãodisponí­veis no site La­nguas em Dia¡logo, da Universidade Federal do Parana¡ (UFPR).

 

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