Campus

Iniciativa com participação da USP propaµe reescrever decisaµes judiciais sob perspectiva feminista
Proposta éde usar lentes de gaªnero para gerar outras interpretaa§aµes dos casos sem romper com as decisaµes originais
Por Brenda Marchiori - 13/12/2021


Foto: Ma­dia Ninja
 
Acadaªmicas e juristas de diversospaíses do mundo estãoatuando em uma rede colaborativa e reescrevendo decisaµes judiciais a partir de olhar feminista. Trata-se da iniciativa global Projetos de Julgamentos Feministas que integra a USP e outras 60 instituições brasileiras.

A ação no Brasil da rede Reescrevendo Decisaµes Judiciais em Perspectivas Feministas começou no ini­cio de setembro deste ano a partir de um workshop promovido pelo Instituto de Estudos Avana§ados (IEA) da USP. Segundo a professora da Faculdade de Direito de Ribeira£o Preto (FDRP) da USP, Fabiana Severi, responsável por implementar o projeto na Universidade, a reescrita de decisaµes judiciais, de acordo com abordagens feministas, quer demonstrar a existaªncia de outras formas de pensar os casos judiciais sob o ponto de vista das mulheres e outros grupos marginalizados.

A ideia, adianta a professora da USP, não éromper com as decisaµes originais e sim “considerar as decisaµes hista³ricas, verificando se alguma coisa naquela decisão poderia ser diferente ao aplicarmos uma lente de gaªnero ou as abordagens metodola³gicas feministas”, esclarece. A preocupação das feministas étornar as decisaµes judiciais mais sensa­veis aos interesses de mulheres e outros grupos marginalizados, uma vez que, em muitos casos, os sistemas de justia§a produzem resoluções “prejudiciais a  garantia dos direitos das mulheres”, usando esterea³tipos, afirma Fabiana.

A professora enfatiza que não se trata de avaliar a correção dos julgamentos e questionar as condições que geraram a decisão original, mas refletir se diferentes resultados e argumentos são possa­veis, dentro dos limites legais, e se as resoluções de casos podem ser diferentes conforme as interpretações dos jua­zes. 

Assim, continua Fabiana, as experiências que realizam consideram as questões hista³ricas, o contexto e o perfil do tribunal em que a decisão original foi escrita, analisando se “épossí­vel uma reescrita com uma abordagem feminista também ser aceita. E, sendo aceita, quemudanças traria para o caso original”.
.
Julgamentos feministas no Brasil 

O desenvolvimento do projeto no Paa­s acontece tanto como exerca­cio pedaga³gico (em aulas tea³ricas e prática s de direito nas universidades) quanto para introduzir e intensificar a circulação “dessa linha tea³rica que épouco abordada ainda nos cursos de direito”, conta a professora. a‰ que, segundo Fabiana, “esse conteaºdo, atéhoje, apesar de ser relativamente vigoroso, épouco conhecido ainda se considerar os quase 3 mil cursos de direito nopaís”. 

E o esfora§o da rede colaborativa de feministas quer superar os conteaºdos das disciplinas das aulas de direito osimpacto primeiro do projeto ose ganhar ambientes jura­dicos fora das universidades. Fabiana acredita que a adoção dessa perspectiva de gaªnero feminista deve acabar por “problematizar a forma como o judicia¡rio brasileiro, e de vários outrospaíses do mundo, tem tradicionalmente legitimado as suas decisaµes”, já que, a s vezes, existem várias decisaµes possa­veis para um determinado caso. “E essas várias decisaµes possa­veis tem a ver não são com a resposta que estãodada pela lei, mas, sim, pelo perfil da pessoa que estãoanalisando e construindo a decisão”, afirma. 

O projeto conta com uma rede de mais de 60 participantes de instituições públicas e privadas de todas as regiaµes do Brasil e deve durar atéagosto de 2022, com workshops e atividades formativas para o compartilhamento de resultados, além de favorecer o debate crítico e produzir impactos para além das universidades.

 

.
.

Leia mais a seguir