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Literatura entre Fronteiras (áfrica)
Em 2017, atendendo a uma demanda dos alunos, uma nova área foi criada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), e a docente tornou-se responsável pelas disciplinas de literaturas africanas e estudos pa³s-coloniais.
Por Luiz Sugimoto - 23/03/2022


Unicamp lana§a projeto no Instagram neste 21 de mara§o, Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial

Em seu discurso de agradecimento ao Praªmio Nobel de Literatura de 2021, Abdulrazak Gurnah dedicou a la¡urea aos refugiados - pessoas que procuram abrigo, seja humanita¡rio, econa´mico ou pola­tico. Natural de Zanzibar (hoje Tanza¢nia), Gurnah observa que os refugiados nunca chegam a outrospaíses de ma£os vazias, sem nada para oferecer, apesar dos inúmeros problemas que enfrentam. Ele, Nadine Gordimer, Nobel de 1991, e Tayeb Salih são os primeiros autores contemplados pelo Projeto  'Literatura entre Fronteiras' (áfrica), lana§ado em 21 de mara§o no Instagram da Ca¡tedra Sanãrgio Vieira de Mello. 

"A tema¡tica do refaºgio e da viagem ébastante presente nos autores da  áfrica Subsaariana. Gurnah, que chegou ao Reino Unido como refugiado,  dedica boa parte de sua obra a  questãodas migrações internas ao continente africano, da costa para o interior, bem como do hemisfanãrio sul para o hemisfanãrio norte", explica a curadora do projeto, professora Elena Brugioni.

Elena Brugioni, responsável pela curadoria do projeto “Literatura se fronteiras”: a partir
de uma demanda dos alunos, ela criou o curso de literaturas
africanas e estudos pa³s-coloniais no IEL

Em 2017, atendendo a uma demanda dos alunos, uma nova área foi criada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), e a docente tornou-se responsável pelas disciplinas de literaturas africanas e estudos pa³s-coloniais. Ela pesquisa autores de várias origens, inclusive dospaíses africanos de la­ngua oficial portuguesa, sobre os quais já existem estudos consolidados no Brasil. "Trabalho em uma linha comparatista, com literaturas em la­nguas diversas, que podem ser lidas no original ou em tradução. Aanãpoca do Nobel de Gurnah, fui procurada por muitos jornais e revistas, já que seu nome aparece em meus projetos de pesquisa. Percebi que esta¡vamos lidando com um ilustre desconhecido, alguém ainda não publicado no Brasil. Mas aparentemente a Companhia das Letras se apressou em adquirir os direitos de publicação de sua obra e em breve teremos um dos seus livros acessa­veis ao paºblico brasileiro."

Segundo Brugioni, surgiu naquele momento a ideia de promover obras africanas menos conhecidas e marcadas por uma tema¡tica tão importante e atual como a do refaºgio e da viagem. “Vamos comea§ar com By the Sea  (Junto ao Mar, 2001), de Gurnah, um pouco para celebrar o Nobel, e seguiremos com autores de trajeta³rias, la­nguas epaíses diversos, produzindo conteaºdos a serem divulgados no Instagram.”

A ideia éproduzir informações de acesso imediato, a fim de despertar o interesse do paºblico, sobretudo entre jovens e estudantes. “Seria interessante estabelecer um envolvimento maior entre a Ca¡tedra Sanãrgio Vieira de Mello e os estudantes da Unicamp, mas também com o paºblico em geral, no Brasil e no exterior. Daa­ a escolha do Instagram, uma ma­dia social capaz de alcana§ar paºblicos diversos, com grande facilidade."

A Ca¡tedra Sanãrgio Vieira de Mello como refaºgio

A Unicamp mantanãm um acordo com a Agência da ONU para Refugiados, que resultou na implementação da Ca¡tedra Sanãrgio Vieira de Mello, presidida pela professora Ana Carolina Maciel. "Temos ações de acolhimento a estudantes em condições de refaºgio, políticas de permanaªncia e atividades de extensão. Aa­ se insere o projeto de divulgação de autores refugiados, cujas obras são ainda pouco conhecidas no Brasil. Tendo o tema do refaºgio como linha mestra, tais ações permitem expor o drama dos deslocamentos forçados a um paºblico mais amplo”, afirma Maciel.

”Nas primeiras décadas deste século enfrentamos um drama humanita¡rio. Segundo o último levantamento da ACNUR  (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), havia 82,4 milhões de pessoas deslocadas no mundo; com as atuais crises humanita¡rias do Afeganistão e da Ucra¢nia, infelizmente esse número aumentou vertiginosamente".

Para Maciel, são necessa¡rias políticas de acolhimento para essa população, mas também de divulgação, já que os refugiados, na maior parte das vezes, não tem acesso a  palavra. "Os autores abordados no projeto ajudam a entender o significado de ser refugiado pelo vianãs da literatura de cunho autobiogra¡fico, com toda a subjetividade que isso implica”, disse.

Primeiros autores do projeto "Literatura entre Fronteiras"

Nadine Gordimer, Praªmio Nobel em 1991, escreveu mais de 30 livros, em sua maioria romances, contos e crônicas, sobre a deterioração social que afetou a áfrica do Sul durante o regime do apartheid. Um dos seus textos de destaque éo romance O engate (The Pickup), de 2001, publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Ela faleceu em Joanesburgo, sua cidade natal, em julho de 2014.

Tayeb Salih explora a tema¡tica da colonização africana e suas repercussaµes em personagens que vagueiam entre dois mundos, o dos refugiados e o dos cidada£os  locais, seja na Inglaterra ou no Suda£o. Tempo de migrar para o norte (Mawsim al-Hijra ila ash-Shamal), de 1966 (publicado pela Editora Planeta), foi considerado pela Academia arabe de Damasco o mais importante romance a¡rabe do século XX. 

Para conhecer o projeto “Literatura entre fronteiras", acesse o Instagram da CSVM

 

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