Humanidades

Pior que nossos pais:mudanças climáticas já afetam a saúde das novas gerações
Doena§as infecciosas, enchentes, incaªndios florestais e escassez de alimentos pintam futuro sombrio para uma criana§a nascida hoje caso o ritmo de emissão de carbono continue nos na­veis atuais
Por Matheus Souza - 17/11/2019

Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Com sistema imunológico ainda em desenvolvimento, criana§as podem adquirir problemas de saúde que as acompanhara£o atéa vida adulta 

Ninguanãm mais duvida que asmudanças climáticas trazem consequaªncias catastra³ficas para o meio ambiente. Agora, um estudo elaborado por 120 especialistas de diferentespaíses estima quais são os efeitos dessasmudanças para a saúde dos seres humanos, e mostra que um grupo éespecialmente atingido: as criana§as.

Publicado na revista cienta­fica The Lancet, o relatório Countdown on Health and Climate Change 2019 (Contagem Regressiva sobre Saúde e Mudanças Clima¡ticas), lana§ado nesta quarta-feira (13), aponta que uma criana§a nascida hoje tera¡ prejua­zos ao longo de toda a vida caso o ritmo de emissão de carbono continue nos na­veis atuais. Com sistema imunológico ainda em desenvolvimento, elas são mais vulnera¡veis aos impactos.

O estudo também teve colaboração de pesquisadores brasileiros. Da USP, são coautores o professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina (FMUSP), e Carlos Nobre, presidente do Painel Brasileiro de Mudanças Clima¡ticas e pesquisador do Instituto de Ciências Avana§adas (IEA) da USP.

Nascer hoje no Brasil


Além do relatório geral, o estudo também levantou dados específicos de algunspaíses, de acordo com o impacto para cada regia£o. No caso do Brasil, por exemplo, asmudanças climáticas tornam o ambiente mais propa­cio para a proliferação da dengue e de outras doenças infecciosas, que afetam mais as criana§as. Desde os anos 1950, os mosquitos tem aumentada em 11% sua capacidade de transmitir dengue no Paa­s.

Outro efeito diz respeito a  alimentação. Com a elevação da temperatura média do planeta, a produção agra­cola édiretamente atingida. No Brasil, o potencial manãdio de produtividade da soja caiu mais de 6% desde a década de 60. Dessa forma, os bebaªs estara£o mais vulnera¡veis ao aumento do prea§o dos alimentos e a  desnutrição .

Durante a adolescaªncia, o impacto da poluição do ar piorara¡. O fornecimento de energia derivada do carva£o triplicou no Brasil nos últimos 40 anos e os na­veis perigosos de poluição atmosfanãrica ao ar livre contribua­ram para 24 mil mortes prematuras em 2016.

Eventos clima¡ticos extremos, como enchentes e tufaµes, se intensificara£o na idade adulta de quem nasce hoje. No Brasil, 1,6 milha£o de pessoas foram expostas a incaªndios florestais desde 2001/2004, e em todo o mundo houve um aumento recorde de 220 milhões de pessoas acima de 65 anos expostas a ondas de calor em 2018 em comparação com o ano 2000. Em relação a 2017, a alta foi de 63 milhões.


Para que uma criana§a nascida hoje cresa§a em um mundo que atingira¡ emissaµes zero atéseu 31º aniversa¡rio, em 2050, épreciso seguir as diretrizes do Acordo de Paris e limitar o aquecimento a umnívelbem abaixo de 2°C. Na avaliação dos autores, são isso pode garantir um futuro mais sauda¡vel para as próximas gerações.

O que émais sustenta¡vel também émais sauda¡vel


Para o professor Saldiva, o relatório éimportante porque destaca as consequaªncias diretas para o ser humano, chamando maior atenção da sociedade e das liderana§as políticas para a necessidade de políticas ambientais mais efetivas. “a‰ possí­vel divergir do ponto de vista pola­tico e econa´mico, mas existem poucos argumentos para se contrapor a  saúde”, coloca.

Conforme ele explica, existe uma diferença entre Gases de Efeito Estufa (GEE), como metano e gás carba´nico, e os chamados poluentes locais, como mona³xido de carbono, fuligem, hidrocarbonetos e outros. Os GEE tem baixa toxicidade local, mas longa permanaªncia na atmosfera, e por isso influenciam no aquecimento global. Já os poluentes locais tem curta permanaªncia na atmosfera, mas causam efeitos diretos a  saúde.

A questãocentral, aponta Saldiva, éque tanto os GEE quanto os poluentes locais tem a mesma origem de emissão. Um dos principais argumentos levantados para barrar a adoção de políticas que combatam asmudanças climáticas éo a´nus financeiro que elas trazem, poranãm, quando estimados o custos dos problemas de saúde causados pela poluição, fica evidente que a economia também seria beneficiada por políticas favoráveis ao meio ambiente.

“Os benefa­cios da redução dos poluentes locais são imediatos e ao mesmo combatem o aquecimento global. Ou seja, o que émais sustenta¡vel também émais sauda¡vel”, diz o professor.

Dentre as principais recomendações feitas no estudo estãoo investimento em transporte paºblico de baixa emissão de carbono, migração para fontes de energia sustenta¡veis e uso de biocombusta­vel, recomposição das áreas verdes no espaço urbano e, sobretudo, o comprometimento com as metas firmadas no Acordo de Paris.

 

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