Humanidades

Como construir um idioma
Os alunos do MIT estãoinventando linguagens construa­das - ou
Por Kathryn O'Neill e Emily Hiestand - 18/12/2019

Imagem: Allegra Boverman
Junior Alex Cuellar com sua linguagem construa­da. O quadro-negro diz: "Eu posso falar oafal".

Nãoseria a³timo se houvesse uma exclamação projetada especificamente para uso quando a bateria do seu celular acabar? Ou uma palavra que capta perfeitamente a ideia de fazer algo sem motivo?

Neste semestre, os alunos do MIT criaram essas palavras - mas não para o inglês ou qualquer outro idioma conhecido. Eles estãoconstruindo linguagens inteiramente novas, ou "conlangs", em uma classe que usa a lingua­stica, a ciência da linguagem, para fornecer os blocos de construção necessa¡rios.

Um aluno, que cursou 24.917 (ConLangs: Como construir uma linguagem) neste outono, criou uma linguagem para criaturas subaqua¡ticas que falam em tons de cor. Outro inventou uma linguagem que combina fala com assobio. A nova linguagem da sanãnior Jessica Lang épara as naves espaciais que falam. “Nãoéuma premissa super lógica”, diz ela, “mas émuito divertido enfrentar as restrições. E gosto de muitas palavras em 'nave espacial' porque são realmente muito estranhas. ”

Além das premissas imaginativas, o desafio dos alunos em 24.917 écriar algo que se comporte de maneiras fundamentalmente diferentes das la­nguas que eles já conhecem. Para conseguir isso, éútil "entender algo sobre como as la­nguas humanas realmente funcionam", diz o professor Norvin Richards, um estudioso de lingua­stica que ensina 24.917.

Compreender como as la­nguas funcionam éa essaªncia do campo linga¼a­stico, e 24.917 fornece uma introdução completa ao assunto - incluindo tópicos fundamentais como fonanãtica (emitir sons), morfologia (formar palavras) e sintaxe (desenvolver frases). A aula, que estreou em 2018, rapidamente se tornou uma das mais populares oferecidas pelo programa de linga¼a­stica de primeira linha do MIT.

Linguagem e mente

"Uma das coisas que vocêdescobre quando comea§a a aprender sobre a linguagem éque existem todo tipo de coisa que fazemos sem esfora§o, sem pensar, mas isso ébastante complicado", diz Richards. Por exemplo, o inglês tem uma regra bastante ra­gida para a compra de adjetivos - ésempre “um carro vermelho grande”, nunca “um carro vermelho grande”. Os novos alunos de inglês rotineiramente precisam memorizar essa regra longe de universal, enquanto os falantes nativos podem não atéesteja ciente disso.

“Um dos objetivos do 24.917 émostrar aos alunos um pouco do que sabemos sobre como as la­nguas funcionam, graças a todo o trabalho realizado em linga¼a­stica, que éo estudo do que exatamente vocêsabe quando conhece uma la­ngua”, Richards diz.

Quando solicitado a elaborar, Richards explica: “Existem certos tipos de tarefas linga¼a­sticas que as pessoas parecem realizar invariavelmente da mesma maneira, independentemente da la­ngua que falam.” Os linga¼istas se esforçam para explicar por que isso acontece. "Uma hipa³tese de trabalho éque parte de ser humano éter o tipo de mente que permite construir e usar a linguagem de certas maneiras, mas não de outras", diz Richards. “Estamos tentando descobrir quais são essas propriedades da mente humana; que tipos de criaturas são seres humanos? ”

Surpresas

24.917, que apresenta aos alunos algumas das principais questões da linga¼a­stica, estãoatraindo muitos estudantes do MIT para explorar o campo mais completamente. Surpresas não faltam.

Joseph Noszek, formado em engenharia civil e ambiental, diz que éfascinante aprender fonanãtica - incluindo o International Phonetic Alphabet (IPA), um sistema para pronunciar palavras desconhecidas. "Comea§amos conversando sobre como vocêobtanãm sons atravanãs de pontos de articulação e como agrupar consoantes com base em onde sua la­ngua esta¡, o que seus la¡bios estãofazendo e quanto ar vocêestãodeixando sair", diz Noszek. Com essas informações, além de alguma familiaridade com o IPA, ele descobriu que era possí­vel produzir sons com os quais não estava familiarizado antes. "Acho surpreendente que exista uma técnica para isso", diz ele.

Rebecca Sloan, graduada em química, ecoou esse sentimento, observando que os estudantes em 24.917 também assistiram a va­deos de fala gravados usando ressonância magnanãtica (RM), que lhes permitiu ver como as pessoas usavam seus órgãos de fala para formar sons. “A coisa mais surpreendente para mim na turma foi poder assistir as ressona¢ncias magnanãticas das pessoas dizendo palavras e perceber que vocêpode usar essas informações para descobrir coisas sobre sons diferentes”, diz ela.

De suaa­li a klingon

A turma também oferece um tour pelos idiomas do mundo, pois Richards demonstra pontos linga¼a­sticos usando exemplos de tagalo, passamaquoddy, tailandaªs, coreano, suaa­li, a¡rabe ega­pcio, O'odham, Dinka e galaªs.

Ao longo do caminho, ele ainda da¡ aos alunos algumas dicas sobre o funcionamento de duas la­nguas, Lardil e Wampanoag, nas quais Richards éum dos principais especialistas. Por décadas, Richards trabalhou com o povo Wampanoag do leste de Massachusetts, ao reviver com sucesso sua la­ngua nativa que, antes do ini­cio do projeto, havia sido falada pela última vez em 1800. Ele também passou anos trabalhando para combater a obliteração do Lardil, uma la­ngua abora­gine que antes era amplamente falada na Ilha Mornington, na Austra¡lia, mas agora quase extinta.

Como Richards descreve vários comportamentos linga¼a­sticos - como a formação de plurais ou sistemas de concorda¢ncia - ele geralmente inclui exemplos dessas la­nguas. Mas não surpreende que para uma aula de idiomas construa­dos, Richards também inclua exemplos de idiomas criados propositadamente - principalmente o Klingon, criado para o universo de entretenimento “Star Trek”, e o quenya e o sindarin, dois idiomas criados por JRR Tolkien para seus “ Romances do Senhor dos Ananãis. (Richards citara¡ facilmente algumas palavras de Klingon para enfatizar a questãolingua­stica, mas afirma que ele fala a la­ngua apenas "muito mal".)

“Klingon éútil ao falar sobre morfologia, que éo estudo de como criamos palavras com pedaço s de palavras”, diz Richards, observando que, embora o inglês não tenha muita morfologia, Klingon tem. a‰ o que éconhecido como linguagem “aglutinativa”, o que significa que geralmente forma novas palavras adicionando prefixos e atélongas sequaªncias de sufixos a s palavras-raiz. “a‰ como uma reação química acontecendo. Vocaª acrescenta essas coisas e as palavras mudam de uma coisa para outra. ”

Ferramentas para novos idiomas

Amedida que os alunos aprendem como vários idiomas formam tempos, plurais e termos de parentesco, bem como emprestam e modelam palavras extraa­das de outros idiomas, eles estãoganhando as ferramentas para criar idiomas totalmente novos. Richards diz: "Vocaª apresenta aos alunos um pequeno menu com os tipos de sons que vocêpode emitir, e os alunos estãoescolhendo e escolhendo, e algumas vezes escolhendo algo que nenhum idioma faz."

Outros novos idiomas que emergem da classe incluem um idioma projetado para soar como beatbox; uma linguagem que combina fala com linguagem de sinais, agrupando significado em sons e gestos; e uma linguagem projetada para seres aliena­genas que emitem sons tocando em seus exoesqueletos.

"Nossos alunos tem uma idanãia do tipo de coisa em que trabalhamos no campo da linga¼a­stica", diz Richards, "e então eles criam todo tipo de coisa maravilhosa".

 

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