Humanidades

Uma nova ligação entre medo, imitação e comportamento anti-social em criana§as
Em um par de estudos, pesquisadores da Penn e da Universidade de Boston oferecem insights sobre um conjunto de caracteri­sticas frequentemente caracterizadas pela falta de empatia e sensibilidade a s emoçoes dos outros.
Por Michele W. Berger - 06/01/2020



Por que algumas criana§as tem mais dificuldade em entender as emoções dos outros ou sentir pena depois de se comportarem mal? Por que alguns agem em determinadas situações e se comportam em outras? Como os adultos devem responder nessas circunsta¢ncias? 

Para os pais, esses quebra-cabea§as podem parecer insolaºveis, mas ter uma visão do funcionamento interno dessas situações se torna cada vez mais importante quando os comportamentos comea§am a interferir no funcionamento dia¡rio e no desenvolvimento sauda¡vel. 

Dois artigos das psica³logas Rebecca Waller, da Universidade da Pensilva¢nia, e Nicholas Wagner, da Universidade de Boston , um publicado no The Journal of Child Psychology and Psychiatry ,  o outro em Psychological Medicine , podem fornecer novas informações sobre um conjunto de comportamentos conhecidos como insensa­veis e sem emoção ( CU) caracterí­sticas. Os pesquisadores descobriram que criana§as pequenas que exibiam menos medo e desejo de conexão social e que se envolviam com menos frequência em um comportamento imitador chamado imitação arbitra¡ria desenvolveram mais caracteri­sticas da UC, que são conhecidas por levar a comportamentos anti-sociais mais tarde. 

Um va­nculo entre comportamento antissocial ou agressivo e caracteri­sticas da UC - caracterizado pela falta de empatia, culpa e sensibilidade reduzida a s emoções dos outros - já bem conhecido. Pesquisas anteriores revelaram que criana§as com essas caracteri­sticas tem maior probabilidade de desenvolver comportamento antissocial grave e persistente, geralmente expresso por violência e hostilidade.  

Na prática , isso se traduz em uma criana§a que é"menos compassiva, não se preocupa em violar as regras, não muda de comportamento quando lhes dizem: 'Se vocêfizer X, essa coisa ruim acontecera¡'", diz Waller, professor assistente do Departamento de Psicologia de Penn na Escola de Artes e Ciências e diretor do Laborata³rio de Emoção, Desenvolvimento, Meio Ambiente, Neurogenanãtica ou EDEN . "Eles também são mais propensos a serem agressivos para conseguir o que querem, porque não temem as consequaªncias." 

O que émenos compreendido são os mecanismos e processos que da£o origem a caracteri­sticas da UC, conhecimento com implicações importantes para o desenvolvimento e implementação de intervenções eficazes. Waller e Wagner analisaram duas idanãias: a primeira se concentra no medo e na pertena§a social, também conhecida como afiliação; o segundo estãorelacionado a  imitação.

Destemor e conexões sociais


Para testar sua primeira teoria, os pesquisadores usaram dados do Projeto Twin University da Boston, liderado pela professora Kim BUly Saudino . Durante duas visitas de laboratório de duas horas, aos 3 anos de idade e novamente aos 5 anos, as criana§as brincaram de vários cenários, como oferecer um “doce” dos pais de uma vasilha que realmente continha uma cobra empalhada, estourando bolhas ou separando contas de cores diferentes em pilhas. 

A análise do comportamento das criana§as mostrou que criana§as menos medrosas que se preocupavam menos com conexões sociais na primeira visita tinham maior probabilidade de desenvolver traa§os insensa­veis e não-emocionais na segunda. "O medo por si são não éo aºnico ingrediente", diz Waller. "Essas criana§as também não sentem, no mesmo grau, a motivação e a recompensa inerentes de ter um va­nculo social positivo com os outros". 

Os pesquisadores também descobriram que a paternidade severa, que inclui ta¡ticas como gritar e espancar, intensificou o destemor e fortaleceu o va­nculo com os traa§os posteriores da UC.

"Os pais tem um conjunto de ferramentas", diz Wagner, professor assistente da BU e diretor do Laborata³rio de Desenvolvimento Bio-comportamental e Socioemocional . “Se as criana§as são destemidas, inclusive quanto ao potencial de punição, aumenta a probabilidade de que pais severos exacerbem o risco. Isso se encaixa no modelo que os médicos já entendem. Sa£o necessa¡rios dois para dançar o tango; o que as criana§as trazem para a mesa se mistura com o que estãoexperimentando no ambiente. ” 

Eles publicaram essas descobertas na Psychological Medicine .

O destemor por si são não éo aºnico ingrediente. Essas criana§as também não sentem, no mesmo grau, a motivação e a recompensa inerentes por terem um va­nculo social positivo com os outros.

Rebecca Waller, psica³loga da Penn

Imitação arbitra¡ria vs. imitação funcional


O trabalho do Journal of Child Psychology and Psychiatry , realizado com um conjunto diferente de participantes do BU Twin Study de 2 e 3 anos de idade, comparou a imitação instrumental e arbitra¡ria. O primeiro significa copiar comportamentos que cumprem uma função, geralmente feitos para aprender uma habilidade. Este último significa seguir as ações alheias apenas para demonstrar o desejo de uma conexão social. 

"A imitação arbitra¡ria tem como objetivo criar laa§os", diz Wagner, "para mostrar a outra pessoa que vocêestãono grupo, que aceita os caminhos deles, que vocêpode e fara¡ o que eles estãofazendo". 

Para este trabalho, a equipe construiu um par de experimentos. No primeiro, as criana§as tiveram que libertar um pa¡ssaro empalhado de uma gaiola difa­cil de abrir. Um adulto mostrou-lhes como, intercalando instruções necessa¡rias com vocalizações desnecessa¡rias como “Olha, éum passarinho!”. Durante uma segunda tarefa, as criana§as tiveram que usar um graveto para liberar um biscoito preso no meio de um tubo transparente. Novamente, um adulto modelou os passos, misturando instruções essenciais e arbitra¡rias. 

Nos dois casos, os pesquisadores observaram e codificaram quais comportamentos as criana§as repetiam e quais ignoravam. 

Eles descobriram que as criana§as de 2 anos que se envolveram em imitações menos arbitra¡rias em geral - em outras palavras, aquelas que ignoraram mais ações desnecessa¡rias - corriam maior risco de desenvolver caracteri­sticas de UC mais tarde. "Isso nos diz que essas criana§as são menos motivadas a fazer conexões com outras criana§as ou adultos", diz Wagner. "O mesmo não se aplica a  imitação instrumental". 

Waller leva um passo adiante. "Nãoéque eles não sejam capazes de ver e ver alguém fazendo algo", diz ela. “Eles simplesmente não fazem a coisa do va­nculo social; o comportamento engraçado e peculiar depois disso criaria um bom momento social. ” 

Aconselhar os pais


Embora essas descobertas oferea§am pistas importantes sobre por que os traa§os da UC podem levar ao comportamento anti-social, os pesquisadores querem deixar claro que estãoanalisando padraµes gerais, e não casos pontuais. "Nãoqueremos assustar os pais", diz Waller. “Nãoécomo se vocênotar esses comportamentos uma vez, estãocom problemas. Faz parte de uma dimensão abrangente. ” 

Os pais, eles sugerem, podem apoiar positivamente esses aspectos do desenvolvimento social e emocional criando situações artificialmente, como aquela em que imitações arbitra¡rias acontecem, por exemplo.

“Incentive a criana§a a fazer o barulho ou movimento bobo que vocêfez; depois ria disso ”, diz Waller. "Vocaª explica de maneira mais expla­cita a situação do que se ela acontecesse naturalmente, mas as criana§as ainda recebem o reforço positivo, e isso pode se tornar um momento de unia£o". 

No que diz respeito a  destemor e a  filiação social, Wagner sugere se afastar da dureza, em direção ao calor. "Mudando as experiências das criana§as", diz ele, "éaa­ que podemos intervir".

 

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