Humanidades

Risco de morte durante ondas de calor no Brasil ligado a fatores socioeconômicos
Um novo estudo sugere que as ondas de calor estão exacerbando as desigualdades socioeconômicas no Brasil, com pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos potencialmente enfrentando maior risco de morte..
Por Biblioteca Pública de Ciência - 24/01/2024


O estudo sugere que as ondas de calor estão exacerbando as desigualdades socioeconômicas no Brasil. Crédito: Evandro Kluge, Pexels, CC0 (creativecommons.org/publicdomain/zero/1.0/)

Um novo estudo sugere que as ondas de calor estão exacerbando as desigualdades socioeconômicas no Brasil, com pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos potencialmente enfrentando maior risco de morte durante as ondas de calor. Djacinto Monteiro dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil, e colegas apresentam essas descobertas no PLOS ONE .

À medida que as mudanças climáticas avançam, as ondas de calor estão se tornando mais quentes, mais longas e mais frequentes em muitas regiões do mundo, inclusive no Brasil. As ondas de calor podem aumentar o risco de morte devido a uma doença crônica, como doenças cardíacas ou pneumonia.

Pesquisas anteriores relacionaram as ondas de calor no Brasil a um maior risco de morte. No entanto, poucos estudos exploraram o papel desempenhado pelos fatores socioeconômicos e demográficos nas mortes relacionadas ao calor no Brasil.

Para ajudar a esclarecer, Monteiro dos Santos e colegas analisaram as taxas de mortalidade durante ondas de calor entre 2000 e 2018 em 14 grandes áreas urbanas do Brasil, representando mais de um terço da população nacional.

Em linha com pesquisas anteriores, eles descobriram que o Brasil experimentou de três a 11 ondas de calor por ano na década de 2010, subindo de zero para três por ano na década de 1970. Entre 2000 e 2018, 48.075 mortes podem ser atribuídas a ondas de calor, sendo as causas de morte mais frequentes as doenças circulatórias, as doenças respiratórias e o cancro.

As taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor variaram entre as regiões geográficas do Brasil, o que os pesquisadores associaram às conhecidas desigualdades Norte-Sul relativas a indicadores socioeconômicos e de saúde, incluindo a expectativa de vida. As taxas de mortalidade relacionadas às ondas de calor foram maiores entre pessoas do sexo feminino, idosas, negras, pardas ou com níveis educacionais mais baixos.


Os investigadores também descobriram que uma técnica conhecida como análise de vigilância baseada em eventos – que procura sinais emergentes em rumores nas redes sociais ou outras fontes – não teria tido sucesso no fornecimento de alerta precoce sobre altas taxas de mortes relacionadas com ondas de calor, sugerindo que o calor extremo ondas são desastres negligenciados no Brasil.

Estas descobertas poderão ajudar a informar os esforços para reduzir as mortes durante futuras ondas de calor. Mais pesquisas poderiam abordar algumas das limitações deste estudo, abrangendo um período de tempo mais longo, incorporando mais indicadores socioeconômicos e utilizando dados de mais de uma estação meteorológica para cada área urbana.

Os autores acrescentam: “As ondas de calor foram responsáveis por mais de 48 mil mortes em áreas urbanas no Brasil. Mulheres, pessoas negras e pardas, idosos e pessoas com menor nível de escolaridade são os mais afetados, reforçando como as mudanças climáticas induzidas pelo homem têm exacerbou as desigualdades socioeconômicas no país."


Mais informações: Desigualdades demográficas e sociais do século XXI em termos de mortes relacionadas ao calor em áreas urbanas brasileiras, PLoS ONE (2024). DOI: 10.1371/journal.pone.0295766

Informações do periódico: PLoS ONE 

 

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