Humanidades

Arqueologia do Holocausto: Descobrir evidaªncias vitais para provar que os negadores estãoerrados
Faz 75 anos que as tropas sovianãticas libertaram o nota³rio campo da morte de Auschwitz e a grande maioria dos sobreviventes do Holocausto não estãomais conosco.
Por William Mitchel - 24/01/2020


Fragmento de Matzevah restaurado em 3D recuperado do cemitanãrio judeu de Oswiecim,
na Pola´nia.
Crédito: William Mitchell, Autor fornecido

Faz 75 anos que as tropas sovianãticas libertaram o nota³rio campo da morte de Auschwitz e a grande maioria dos sobreviventes do Holocausto não estãomais conosco. O impacto de continuar pesquisando o Holocausto não pode, portanto, ser subestimado. Quanto mais nos afastamos dos eventos e quanto mais testemunhas em primeira ma£o perdemos, mais desconectados nos sentimos, tanto individualmente quanto em sociedade.

Como arqueólogo, experimentei em primeira ma£o como o uso de uma abordagem cienta­fica e medida para a investigação dessas atrocidades pode ajudar a responder perguntas, curar comunidades, encerrar e permitir uma abordagem mais equilibrada da representação do sujeito.

A apresentação de evidaªncias cienta­ficas rigorosamente pesquisadas para apoiar a história conhecida (e a s vezes esquecida) tornou-se cada vez mais importante no momento em que isso édesafiado por informações erradas, narrativas concorrentes e movimentos populistas.

Como éo caso da maioria dos brita¢nicos, o que eu sabia sobre o Holocausto estava originalmente limitado ao que havia aprendido durante o ensino manãdio e atravanãs da minha exposição ao assunto na ma­dia. Nãoestudei o Holocausto emnívelde graduação nem fiz um esfora§o determinado para desenvolver uma maior conscientização. Agora, atravanãs do meu trabalho no campo da arqueologia do Holocausto, eu sei diferente.

Para a minha geração crescendo em uma anãpoca em que a Internet estava apenas emergindo, as informações sobre o Holocausto eram limitadas a pesquisas acadaªmicas disseminadas pela escola e pela ma­dia tradicional. Os alunos de hoje tem acesso a uma quantidade incontrola¡vel de material e a opção de pesquisar sem restrições. Mas esse acesso não garante maior conscientização ou conhecimento.

Pesquisas recentes sugeriram que uma em cada 20 pessoas no Reino Unido não acredita que o Holocausto aconteceu, enquanto um tera§o das pessoas de setepaíses europeus pesquisados ​​sabe pouco ou nada sobre esses eventos.

Além disso, um estudo das escolas secunda¡rias de inglês constatou que poucos estudantes poderiam descrever com precisão os eventos do Holocausto, mesmo que essa seja uma parte obrigata³ria do curra­culo. Esta éuma tendaªncia preocupante para as gerações futuras.

Tradicionalmente, a educação sobre o Holocausto se concentra em fontes hista³ricas e testemunhos de sobreviventes. Mas, como essas estata­sticas mostram, énecessa¡rio que manãtodos novos e inovadores de coletar e apresentar esses fatos sejam necessa¡rios para envolver e, crucialmente, gerar uma conscientização das pessoas para garantir que esses eventos não sejam esquecidos ou reescritos. O uso de uma abordagem arqueola³gica para pesquisar e apresentar o Holocausto anã, portanto, relevante e oportuno.

Nosso conhecimento do Holocausto tende a se concentrar nos campos principais, e não nas dezenas de milhares de locais mais diversos do Holocausto em toda a Europa. Muitos deles permanecem desprotegidos, pouco estudados e conhecidos apenas por relativamente poucas pessoas. Cada um desses sites contanãm histórias individuais que, quando contadas, podem ilustrar releva¢ncia direta para a nossa sociedade contempora¢nea.

O respeito permanece

A prática da arqueologia do Holocausto usa pesquisa de arquivo, imagens de satanãlite, fotografias aanãreas , sensoriamento remoto, levantamento topogra¡fico e técnicas geofa­sicas para identificar campos destrua­dos , locais de matana§a perdidos e valas comuns . a‰ importante ressaltar que essas técnicas evitam escavações que perturbariam restos humanos, uma prática proibida pela lei judaica. O Centro de Arqueologia da Universidade Staffordshire , do qual sou membro, já trabalhou em mais de 40 locais em toda a Europa.

Para dar um exemplo, vários locais de matana§a e valas comuns que foram considerados perdidos e sob ameaça imediata foram recentemente identificados por nossa equipe usando esses manãtodos arqueola³gicos inovadores. Sites em Rohatyn e nas regiaµes de Vinnytsia e Zhytomir na Ucra¢nia agora tem status de proteção e novos memoriais dedicados a s vitimas.

Os dados coletados podem ser visualizados de diversas maneiras inovadoras, com o objetivo principal de preservação digital, simplicidade de acesso e maior conscientização para um amplo paºblico.

Uma tarefa emocional

Durante meu tempo nesses projetos, eu pessoalmente vi e fui sujeito a evidaªncias inequa­vocas da verdadeira escala do Holocausto. Eu experimentei os efeitos profundos de ser apresentado com as sepulturas e os restos das vitimas e vi os efeitos positivos de apresentar as evidaªncias da pesquisa ao paºblico.

Minhas experiências foram vistas atravanãs dos olhos de alguém que conhecia nossa história moderna e estava ciente da escala e do efeito da guerra - mas não tive envolvimento direto nela. Minha formação arqueola³gica, no entanto, significava que eu estava mais familiarizado com nosso passado antigo do que a geração que me precedeu.

Trabalhando neste campo, o efeito em mim foi instigante e afirmador da vida. Simplificando, sou mais grato pelas oportunidades e liberdades cotidianas da vida. Pude ver as vitimas como indiva­duos, cujas vidas e aspirações foram interrompidas e cuja memória não deve ser tão facilmente manipulada ou esquecida.

Muitas dessas experiências teriam sido ainda mais difa­ceis sem o apoio coletivo de meus colegas. A discussão que segue a análise dos testemunhos das vitimas, fotografias hista³ricas e trabalho de campo arqueola³gico éuma parte importante do processamento da realidade bruta do Holocausto.

Meu trabalho nesse campo me levou a mais de 15 locais na Europa, da Noruega, Alemanha, República Tcheca, Croa¡cia a  Pola´nia e Ucra¢nia. a‰ evidente que as respostas governamentais e pessoais ao reconhecimento e apresentação desses sites variam em cadapaís. A negação do holocausto e o anti-semitismo estãosempre presentes no Reino Unido e em toda a Europa em geral - e isso éainda mais aparente nesses locais. a‰ em parte como resposta a essas pressaµes conta­nuas que esses projetos de pesquisa são realizados.

Sensibilização

Em muitas ocasiaµes, houve causas pessimistas sobre a natureza humana. Encontrei memoriais judaicos que foram usados ​​para praticar tiro ao alvo, locais de cemitanãrios que foram profanados hista³rica e recentemente e negação e hostilidade por parte dos moradores locais.

Curiosamente, houve vários locais que foram saqueados, resultando em restos humanos, roupas e pertences espalhados pelasuperfÍcie, talvez devido a  crena§a equivocada de que valas comuns contem itens de valor. Esses encontros destacam o fato de que a indiferença e os preconceitos, mas também as desigualdades sociais, ainda são predominantes.

Felizmente, eventos e realizações positivos superam os ruins. Os agradecimentos agradecidos de parentes, lideres religiosos e grupos do patrima´nio , a conscientização das comunidades, escolas e meios de comunicação e a identificação dos limites exatos das valas comuns e edifa­cios de acampamento, resultando em proteção e memorialização, são os sucessos a serem mantidos. .

Esses projetos também levam ao re-enterro de restos mortais. E, em locais que foram apagados pelos nazistas, fomos capazes de fornecer evidaªncias físicas relacionadas a  natureza do encarceramento e exterma­nio.

Sou grato por estar em posição de continuar contando a história e obter reconhecimento pelos sites que foram perturbados ou negligenciados por décadas. Ajudar a contar as histórias desses indivíduos perdidos éespecialmente importante no momento em que a intolera¢ncia e a indiferença estãose tornando uma parte aceita da sociedade.

A escala e extensão da devastação do Holocausto significa que ainda hámuito trabalho a ser feito, especialmente considerando os desafios atuais de preconceito e desinformação conta­nuos.

 

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