Humanidades

A igualdade no local de trabalho éo mecanismo oculto da economia?
Em 1960, 94% dos médicos e advogados eram homens brancos. Hoje esse número caiu para 60%, e a economia se beneficiou dramaticamente por causa disso.
Por Dylan Walsh - 25/01/2020


Os pesquisadores descobriram que pelo menos um quarto do crescimento do PIB dos EUA entre 1960 e 2010 éresultado de um maior equila­brio de gaªnero e raça no local de trabalho. | Reuters / Marko Djurica

Em uma música de 1989, Laurie Anderson se interrompe no meio do caminho para dar uma mini-palestra sobre paridade salarial entre homens e mulheres. Para cada da³lar que um homem ganha, ela explica, uma mulher ganha 63 centavos. Meio século antes, esse número era de 62 centavos. "Então, com esse tipo de sorte", diz ela, claramente preocupada, "sera¡ o ano de 3.888 antes de ganharmos dinheiro".

a‰ uma visão crua de um problema que os economistas estudaram profundamente. "Existe uma enorme literatura em economia do trabalho sobre discriminação e sala¡rios e participação da força de trabalho", diz Charles I. Jones , professor de economia da STANCO 25 na Stanford Graduate School of Business.

Como macroeconomista, poranãm, Jones reconheceu uma lacuna impressionante nessa linha de investigação. "As pessoas disseram coisas como 'discriminação reduz sala¡rios em X', mas ninguanãm tentou somar os efeitos e descobrir as conseqa¼aªncias agregadas desses problemas no mercado de trabalho".

Com três colegas, Jones fez exatamente isso, publicando recentemente as descobertas na revista Econometrica . Os resultados são nota¡veis: conservadoramente, 25% do crescimento do PIB dos EUA entre 1960 e 2010 pode ser atribua­do a um maior equila­brio de gaªnero e raça no local de trabalho, descobriram os pesquisadores. O número pode chegar a 40%.

Realocando Talento

Em 1960, aproximadamente 94% dos médicos e advogados nos EUA eram homens brancos. Cinqa¼enta anos depois, esse número estava pra³ximo de 60%. Ao modelar a maneira como essa distribuição distorcida mudou, Jones e seus colegas conseguiram descobrir como o equila­brio no local de trabalho contribui para o PIB.

O modelo matema¡tico que eles usam baseia-se em uma suposição simples e direta: a distribuição de talentos para a maioria das profissaµes éa mesma para homens e mulheres de todas as raças. (Existem exceções em ocupações que exigem força física, como a construção.) Dada essa suposição, o perfil demogra¡fico de, digamos, advogados deve refletir a demografia racial e de gaªnero dos Estados Unidos.

“O número de 94%, éclaro, estãomuito, muito, muito longe disso”, diz Jones, “o que sugere que em 1960, vocêtinha todos esses homens brancos não muito talentosos que eram médicos e advogados e muitos pessoas talentosas de outros grupos que foram exclua­dos. Nos últimos 50 anos, esses grupos tem mudado de lugar. ”

"Em 1960, vocêtinha todos esses homens brancos não muito talentosos que eram médicos e advogados e muitas pessoas extremamente talentosas de outros grupos que foram exclua­das. Nos últimos 50 anos, esses grupos tem mudado de lugar".

Charles I. Jones

Essa substituição da mediocridade por talento, diz Jones, éo que explica um aumento no PIB. Ele também deixa uma marca no sala¡rio dos homens brancos, representando uma queda de aproximadamente 12% em seus ganhos.

"a‰ claro que háum custo a considerar quando brancos, médicos e advogados do sexo masculino e outros profissionais são substitua­dos ou competem com outras pessoas", observa Jones. Mas, do outro lado desse custo, háganhos nota¡veis: maior oportunidade nos últimos 50 anos contribuiu para o crescimento de 29% dos ganhos entre homens negros, 51% entre mulheres negras e 77% entre mulheres brancas.

Reduzindo o “atrito”

Jones e seus colegas descrevem as barreiras ao emprego como "atritos". Essas podem assumir várias formas. Eles podem ser uma discriminação direta de empregadores que não desejam contratar mulheres ou minorias. Eles podem surgir devido a  falta de oportunidades educacionais para grupos específicos. E eles podem residir em normas sociais que, por exemplo, dissuadem as mulheres de ingressar na força de trabalho.

"Nos últimos 50 anos, mais de um quarto de todo o crescimento do PIB americano éatribua­vel a essas barreiras em decla­nio no mercado de trabalho", diz ele. "Se perguntarmos de onde, especificamente, esse crescimento veio, grande parte éde mulheres que saem do setor domanãstico e trabalham no mercado, especialmente em ocupações altamente qualificadas".

Curiosamente, apesar dos abismos nas perspectivas de emprego - uma mulher em 1980 tinha 250 vezes mais chances de ser secreta¡ria do que advogada - Jones descobriu que a diferença salarial permaneceu relativamente esta¡vel entre as profissaµes. Ou seja, tanto as advogadas quanto as secreta¡rias historicamente ganharam cerca de 30% menos do que suas colegas do sexo masculino.

"A discriminação realmente aparece em oportunidades de emprego especa­ficas", diz Jones. “Mas aparece, em média, nas diferenças salariais.” A razãopara isso éque as primeiras advogadas eram excepcionalmente talentosas - as Sandra Day O'Connors e Ruth Bader Ginsburgs do mundo - e seu talento monumental compensava parte da discriminação financeira que eles enfrentaram.

“O principal insight, poranãm, e o que eu acho interessante e surpreendente éo seguinte: olhando para o mundo nos anos 1960, éimpressionante o quanto grandes eram as diferenças em termos de homens e mulheres e negros e brancos no local de trabalho”, Jones diz. "Estamos muito mais pra³ximos de um equila­brio eqa¼itativo hoje, e éimportante estar ciente de que esses ganhos não são simplesmente bons para os grupos que obviamente se beneficiaram, mas para a economia como um todo - para todos nós".

 

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