Humanidades

Design, poder e justia§a
No novo livro “Design Justice”, a professora associada Sasha Costanza-Chock examina como fazer a tecnologia funcionar para mais pessoas na sociedade.
Por Peter Dizikes - 07/03/2020

Foto: Caydie McCumber
Sasha Costanza-Chock, Professora Associada de Desenvolvimento de Carreira da Mitsui
no programa Comparative Media Studies / Writing do MIT, éautora de um
novo livro, “Design Justice: Pra¡ticas da Comunidade para Construir os Mundos
que Precisamos”, publicado pela MIT Press.

Quando Sasha Costanza-Chock passa pela segurança do aeroporto, éuma experiência incomum e desconforta¡vel.

Costanza-Chock, professor associado do MIT, étransgaªnero e não-bina¡rio. Eles usam os pronomes eles / eles e seu corpo não corresponde a s normas bina¡rias. Mas os scanners de ondas milimanãtricas de segurança aeroportua¡ria são configurados com configurações bina¡rias, macho / faªmea. Para operar a ma¡quina, os agentes pressionam um botão com base em suas suposições sobre a pessoa que entra no scanner: azul para "menino" ou rosa para "menina". A ma¡quina quase sempre sinaliza Costanza-Chock para uma verificação prática pelos oficiais de segurança.

"Eu sei que estou quase certamente experimentando uma pesquisa embaraa§osa, desconforta¡vel e talvez humilhante ... depois que meu corpo émarcado como ana´malo pelo scanner de ondas milimanãtricas", eles escrevem, recontando um desses episãodios, em um novo livro sobre tecnologia, design e justia§a social.

Esta éuma experiência familiar para muitos que não se enquadram nas normas do sistema, explica Costanza-Chock: Os corpos de pessoas não conformes e de gaªnero, como os negros, os cabelos pretos das mulheres, os lena§os de cabea§a e os dispositivos de assistaªncia são regularmente sinalizados como "arriscados".

O scanner de segurança aeroportua¡ria éapenas um tipo de problema que surge quando a tecnologia não corresponde a  realidade social. Existem preconceitos embutidos nos objetos do cotidiano, incluindo interfaces de software, dispositivos médicos, ma­dias sociais e o ambiente construa­do, e esses preconceitos refletem as estruturas de poder existentes na sociedade.

O novo livro - “Justia§a de design: prática s conduzidas pela comunidade para construir os mundos de que precisamos”, publicado pela MIT Press - analisa amplamente essas deficiências e oferece uma estrutura para corrigi-las, levantando manãtodos de design de tecnologia que podem ser usados ​​para ajudar construir um futuro mais inclusivo.

"A justia§a do design éuma comunidade de prática e uma estrutura de análise", diz Costanza-Chock, professor associado de desenvolvimento de carreira da Mitsui no programa de estudos de ma­dia comparativa / redação do MIT. "No livro, estou tentando narrar o surgimento dessa comunidade, com base em minha própria participação, e repensar alguns dos conceitos centrais da teoria do design por meio dessa lente".

Quem projeta?

O livro tem suas raa­zes nas atividades da Design Justice Network (DJN), fundada em 2016 com o objetivo de "repensar os processos de design para que eles centralizem as pessoas que geralmente são marginalizadas pelo design", na descrição da própria organização. (Costanza-Chock participa do comitaª de direção da DJN.) O livro baseia-se nos conceitos de feminismo interseccional e na idanãia de que as tecnologias e a sociedade são mais amplamente estruturadas pelo que a socia³loga feminista negra Patricia Hill Collins chama de "matriz de dominação" sob a forma de supremacia branca, heteropatriarquia, capitalismo e colonialismo de colonos.

O livro também analisa a questãode quem projeta tecnologia, um assunto que Costanza-Chock examinou extensivamente - por exemplo, no relatório de 2018 "#MoreThanCode", que apontou a necessidade de mais esforços sistema¡ticos de inclusão e equidade no campo emergente do paºblico. tecnologia de interesse.

“Ha¡ uma conversa crescente sobre a falta de diversidade racial e de gaªnero no setor de tecnologia”, observa Costanza-Chock. “Muitas empresas do Vale do Sila­cio agora estãoproduzindo estata­sticas de diversidade a cada ano. … Mas são porque estãosendo reconhecido não significa que seráresolvido em breve. ”

O problema de projetar de maneira justa para a sociedade não étão simples quanto diversificar essa força de trabalho.

"A justia§a do design vai além ", diz Costanza-Chock. “Mesmo que tivanãssemos equipes extremamente diversas de pessoas trabalhando no Vale do Sila­cio, elas geralmente estariam organizando principalmente seu tempo e energia em torno da produção de produtos que seriam atraentes para uma fatia muito pequena da população global - pessoas com renda dispona­vel , conectividade sempre ativa a  Internet e banda larga ".

Ainda assim, os dois problemas estãorelacionados, e “Design Justice” faz referaªncia a uma ampla gama de áreas de inovação em que a falta de inclusão no design gera produtos problemáticos. Muitos usuários de produtos hámuito tempo planejam melhorias ad-hoc para a própria tecnologia. Por exemplo, as enfermeiras costumam ser inovadoras prola­ficas, mexendo com dispositivos médicos - um fena´meno parcialmente desenterrado, observa o livro, de Jose Gomez-Marquez, co-diretor do Little Devices Lab do MIT.

"Todos os dias, ao nosso redor, as pessoas estãoinovando de maneiras pequenas e grandes, com base nas necessidades dia¡rias", reflete Costanza-Chock. Embora não seja isso o que ouvimos de empresas de tecnologia, que costumam circular narrativas “sobre um inventor solita¡rio de gaªnio, que teve um momento de 'eureka', criou um produto e o trouxe ao mundo”.

Por exemplo, em uma história amplamente divulgada, as origens do Twitter fluem de um flash de insight do co-fundador Jack Dorsey. Outra versão atribui seu ini­cio a hackers e ativistas da rede Indymedia e ao então pesquisador do MIT Tad Hirsch, que em 2004 criou uma ferramenta para manifestantes chamada TXTMob, que serviu como design de demonstração para o primeiro prota³tipo do Twitter.

"Nãoestou reivindicando no livro a história de uma origem verdadeira", explica Costanza-Chock. “Estou enfatizando que a inovação tecnologiica e os processos de design são bastante confusos e que as pessoas são frequentemente marginalizadas pelas histórias que ouvimos sobre a criação de novas ferramentas. Os movimentos sociais geralmente são focos de inovação, mas suas contribuições nem sempre são reconhecidas. ”

Melhores hackers e mais colaboração

Costanza-Chock acredita que os processos de design podem ser mais inclusivos. No livro, eles contam com anos de experiência ensinando o MIT Collaborative Design Studio a sintetizar lições para inovação inclusiva. Por exemplo: Tente realizar um hackathon mais inclusivo do que o formato usual das sessaµes de maratona, atendendo apenas a vinte e poucos codificadores.

"Gosto muito de hackathons e participei de muitos deles", diz Costanza-Chock. “Dito isto, hackathons ... tendem a ser dominados por certos tipos de pessoas. Eles tendem a ser de gaªnero, mais acessa­veis a pessoas mais jovens que não tem filhos, podem levar um dia inteiro ou fim de semana para trabalho livre e que podem sobreviver com pizza e refrigerante. ”

Seja criando um hackathon ou construindo uma equipe de design de longo prazo, “existem muitas maneiras de ser melhor e mais inclusivo”, acrescenta Costanza-Chock. “Vocaª precisa de pessoas com experiência no doma­nio nas áreas em que trabalha, experiência pessoal ou profundo conhecimento do estudo. Se vocêtrabalha nos sistemas de transporte urbano de Boston, precisa de pessoas de diferentes lugares nesses sistemas em suas equipes de design, desde o MBTA [autoridade de tra¢nsito de Boston] atéas pessoas que viajam diariamente em tra¢nsito ”.

Os estudiosos que examinam a dimensão social da inovação elogiaram "Design Justice". A socia³loga da Universidade de Princeton, Ruha Benjamin, disse que o livro "oferece ferramentas essenciais para repensar e reimaginar a infraestrutura social do design de tecnologia".

Costanza-Chock, por exemplo, espera que o livro interesse as pessoas não apenas pelas cra­ticas que oferece, mas como uma maneira de avana§ar e implantar melhores prática s.

"Meu livro não éprimariamente ou apenas uma cra­tica", diz Costanza-Chock. “Uma das coisas sobre a Design Justice Network éque tentamos gastar mais tempo construindo do que destruindo. Eu acho que a justia§a do design éarticular uma cra­tica, enquanto constantemente tenta apontar para maneiras de fazer as coisas melhor”.

 

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