Humanidades

Livros de auto-ajuda, literatura e como eles nos ajudam a viver
Beth Blum traz como os dois gêneros se influenciaram ao longo da história
Por Manisha Aggarwal-Schifellite - 11/03/2020

Foto de Aaron Ye
Em um novo livro, a professora assistente de inglês de Harvard Beth Blum explora
a relação hista³rica entre autoajuda e literatura.

A Biblioteca Paºblica de Nova York informou recentemente que o best-seller de Dale Carnegie em 1936, "Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas", foi um dos livros mais solicitados da biblioteca de todos os tempos. Mas, apesar do sucesso de Carnegie e de outros autores de autoajuda ao longo das décadas, estudiosos e autores litera¡rios frequentemente descartam o gaªnero como mal escrito e comercial. Por outro lado, a literatura tem sido historicamente enquadrada por advogados de auto-aperfeia§oamento como uma distração improdutiva para os leitores que buscam crescimento pessoal. Em um novo livro, " A compulsão de auto-ajuda: buscando conselhos na literatura moderna ", professor assistente de inglês de Harvard Beth Blum traz a relação hista³rica entre “bolsistas ambivalentes” de auto-ajuda e literatura do século XIX atéo presente, destacando as diferentes maneiras pelas quais os dois tipos de escrita influenciaram uns aos outros e como os leitores se envolveram com os livros como guias para se tornarem pessoas melhores.

Perguntas e Respostas
Beth Blum


Por que vocêescolheu este ta³pico?

As sementes deste projeto começam quando eu estava dando uma aula chamada “Leitura para conselhos da vida: de Sa³crates a  auto-ajuda”. Enquanto lecionava, fiquei realmente interessado na história de Samuel Smiles, que escreveu o primeiro livro a ser chamado de "Autoajuda". O nome estava em circulação em outros textos, mas ele publicou "Autoajuda" em 1859, mais cedo do que eu pensava que a indústria havia comea§ado. O guia foi escrito como uma maneira de inspirar os trabalhadores da classe trabalhadora a perseverarem em melhorar suas condições atravanãs da auto-educação. O outro ponto que me interessou foi atéque ponto Smiles usou a literatura em seu manual. Um dos grandes conselhos de Smiles éque vocênão deve perder seu tempo lendo romances ou literatura, mas, ironicamente, havia citações da literatura ao longo do livro. As citações foram descontextualizadas e depois remontadas de maneiras interessantes. Então, já em um dos primeiros livros de auto-ajuda, vocêvaª uma confianção real na literatura e uma invocação da autoridade litera¡ria, mas ao mesmo tempo uma denaºncia da literatura como escapista e uma diversão. Isso despertou meu interesse nessa história dina¢mica e frequentemente rival entre a auto-ajuda e a literatura.

Vocaª achou que essas conexões continuavam sendo uma parte importante da auto-ajuda no século 20?

Quanto mais eu investigava, mais percebia que havia uma história realmente substancial que não havia sido explorada nos estudos litera¡rios: uma história de auto-ajuda que remonta mais ao que eu pensava, incluindo, por exemplo, o Movimento da nova filosofia do pensamento da década de 1920, que éuma filosofia fascinante de cura mental que surgiu na anãpoca do modernismo litera¡rio. Foi um precursor direto do movimento de "pensamento positivo" de hoje. Todos esses panfletos surgiram na década de 1920, argumentando que vocêpoderia usar sua mente para alcana§ar o que quisesse na vida atravanãs de visualização positiva, meditação e mantras repetidos.

Tambanãm fiquei surpreso ao descobrir exemplos dos chamados autores sanãrios que tiveram algum encontro com a auto-ajuda e estavam respondendo a ela. Um dos exemplos mais impressionantes éo caso de Virginia Woolf, que teve uma rivalidade famosa com Arnold Bennett, um romancista eduardiano que era considerado muito pesado. Woolf o criticou por ser realista, materialista e chato. Mas Bennett também foi um imensamente popular autor de auto-ajuda que escreveu livros como "Como viver 24 horas por dia", "Autogestãoe autogestão" e "Gosto litera¡rio: como se formar". Woolf estava ciente desses livros, então me tornou interessante considerar “Sra. Dalloway ”, que éum romance que acontece em um aºnico dia, ao lado de“ Como viver 24 horas por dia ”, de Arnold Bennett. Para um exemplo de um relacionamento semelhante, poranãm reverso, que discuto no livro, Tome a famosa resposta aborrecida de Dear Abby a "Miss Lonelyhearts", um conto de 1933 de Nathanael West sobre um colunista de conselhos sofrendo de um colapso nervoso. Esse éum caso realmente intrigante de auto-ajuda comentando os limites e manãtodos da ficção.

"Por que as pessoas recorrem a  literatura em busca de conselhos, quando existem tantas outras fontes de orientação mais dispostas?"


Como vocêtraz suas descobertas sobre a relação entre autoajuda e literatura para o seu ensino?

Uma das minhas aulas realmente populares se chama “Como Viver: Quando a Literatura Encontra a Auto-Ajuda”, onde lemos o romance contempora¢neo e abordamos diretamente perguntas como: Por que as pessoas recorrem a  literatura em busca de conselhos quando hátantas outras fontes de orientação? Qual éa relação entre a ascensão dos conselhos comerciais e o decla­nio da autoridade religiosa? Uma tarefa pede aos alunos que visitem a Coop ou a Harvard Book Store e examinem as diferentes maneiras pelas quais a auto-ajuda e a literatura são armazenadas, quem as laª e avalie o que a livraria estãotentando dizer sobre gaªnero e paºblico por diferentes pessoas. desenhos e displays. Em todas as minhas aulas, estou interessado na pergunta: como pode uma escolha litera¡ria formal - por exemplo, fluxo de consciência ou onisciaªncia narrativa - reflete uma discussão sobre como uma pessoa deve viver? a‰ uma preocupação que estãopresente em muitos dos meus ensinamentos. Os alunos estãoansiosos para pensar sobre a releva¢ncia da literatura para a vida, e éuma tendaªncia que os cra­ticos litera¡rios acadaªmicos profissionais são ambivalentes, mas, em geral, pode ser uma a³tima maneira de trazer um estudante para um texto e convida¡-lo a considerar a maneira como a literatura que eles estãolendo responde e nos prepara para os desafios da experiência dia¡ria.

Como éhoje o cena¡rio da auto-ajuda?

A auto-ajuda opera em ondas, então vocêtem uma tendaªncia e depois uma reação a essa tendaªncia. Por um longo tempo, o modelo de auto-ajuda popularizado por "Como fazer amigos e influenciar pessoas" foi focado em como agradar outras pessoas, dizer o que elas queriam ouvir para obter o que vocêprecisava delas. Grande parte da auto-ajuda contemporâneaestãoreagindo contra essa filosofia direcionada a outros e o a´nus que ela impaµe ao indiva­duo. Exemplos desse estilo incluem livros como "Garota, pare de se desculpar: um plano sem vergonha para abraçar e alcana§ar seus objetivos", de Rachel Hollis, "Vocaª éum dura£o: como parar de duvidar de sua grandeza e comea§ar a viver uma vida incra­vel", de Jen Sincero e "Solte a bola: realizando mais fazendo menos", de Tiffany Dufu. Todos esses livros contempora¢neos adotam uma abordagem agrada¡vel a s pessoas,

Ha¡Â  outras pessoas escrevendo sobre esses livros?

Grande parte da bolsa de estudos existente sobre esse tema concentra-se em suas implicações políticas bastante negativas, particularmente a ideia de que os indivíduos são responsa¡veis ​​por seu pra³prio bem-estar e felicidade, de uma maneira que isenta instituições e governos da responsabilidade de apoiar as pessoas e tornar as condições mais equitativas. . Esses argumentos são importantes, mas parte do que me atraiu para esse projeto foi a história um pouco mais afirmativa que eu vi na história de pessoas se voltando para a auto-ajuda, não apenas porque estavam sendo manipuladas ou por um senso pola­tico. desamparo, mas porque eles conseguiram usar livros para melhorar suas condições. Para mim, isso éalgo esperana§oso, porque mostra que háuma forte demanda por esse relacionamento de aconselhamento textual.

Esta entrevista foi editada para maior clareza e condensada por Espaço.

 

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