Humanidades

Formando novos hábitos na era do coronava­rus
Colin Camerer, o professor Robert Kirby de Economia Comportamental, diz que a pandemia resultou em um
Por Whitney Clavin - 27/04/2020

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Com a pandemia do coronava­rus, as pessoas estãorapidamente formando novos ha¡bitos, como lavar as ma£os com mais frequência e se comunicar com colegas por plataformas de va­deo como o Zoom. Quais desses hábitos permanecera£o quando a pandemia terminar e quais passara£o?

Colin Camerer, o professor Robert Kirby de Economia Comportamental e o Centro de T&C Chen para Liderana§a em Neurociaªncia de Decisão e Social no Tianqiao e Instituto de Neurociaªncia Chrissy Chen em Caltech, estãoanalisando essa questãoda formação de ha¡bitos, ou o que os cientistas chamam de habitação. Ele diz que a pandemia de coronava­rus pode ter efeitos colaterais que levam amudanças comportamentais duradouras nas áreas de saúde pública, educação e muito mais.

Camerer épioneiro no campo da economia comportamental , que combina economia, psicologia e Neurociênciapara entender melhor as escolhas que as pessoas fazem. Por exemplo, em 2018, ele e seus colegas realizaram um estudo mostrando que as pessoas preferem algo entre oito e 15 opções quando se trata de tomar decisaµes de compras; mais do que isso, e eles experimentam o que os psica³logos chamam de sobrecarga de escolha.

Agora, Camerer voltou sua atenção para os hábitos que as pessoas estãoformando no meio do surto de coronava­rus. Conversamos com ele sobre esses ha¡bitos, se persistirem, e seus planos para estudos futuros.

O que exatamente significa que algo se torne habitado?

Quando as pessoas acordam de manha£, durante os primeiros cinco minutos, fazem coisas que são muito rotineiras. Eles podem ir a  geladeira e procurar um cha¡ gelado ou fazer cafanã. a‰ quando o sistema motor assume o controle do cérebro, e vocêtem um ha¡bito. Os hábitos estãoeconomizando tempo e energia. Por exemplo, agora por causa do coronava­rus, as pessoas estãolavando as ma£os mais do que nunca. Isso pode se tornar ainda mais habitual no futuro. Vocaª ira¡ ao banheiro ou a  cozinha e vera¡ saba£o ou um dispensador de desinfetante quando estiver no aeroporto, e a visão dessas coisas funcionara¡ como o que chamamos de sugestão. a‰ basicamente o condicionamento cla¡ssico. Vocaª vera¡ a sugestãoe pensara¡: "Oh, no passado, quando a vi, lavei as ma£os". Pode ser muito automa¡tico.

Por que éimportante estudar ha¡bitos?

Combater o va­rus na linha de frente éextremamente importante, mas também érelevante pensar em mudar comportamentos. Veja o exemplo das ma£os para lavar. As pessoas chegaram a entender nesta pandemia que a gripe comum mata muitas pessoas, e esses são principalmente os mesmos tipos de pessoas vulnera¡veis ​​ao COVID-19: pessoas mais velhas e pessoas com sistema imunológico enfraquecido. Por décadas, os médicos vão dizendo: "Por favor, lave suas ma£os em casa e depois de aperta¡-las, etc." a‰ essencialmente o mesmo conselho que estamos recebendo para o COVID-19. Se as pessoas se habituarem a lavar as ma£os com mais regularidade no futuro, isso podera¡ salvar muitas vidas da gripe por muitos anos no futuro. Obviamente, isso éapenas especulação neste momento, mas éalgo que queremos examinar mais adiante.

Em geral, nossa equipe estãoplanejando fazer pesquisas sobre o que éhabitado e o que não anã. Muitas vezes, existem consequaªncias não intencionais ou efeitos colaterais de surtos como esse. Queremos saber se existem efeitos colaterais positivos do comportamento que devera­amos ter praticado o tempo todo. Agaªncias de financiamento como a NSF [National Science Foundation] e o NIH [National Institutes of Health] percebem isso e sabem que mudar o comportamento éuma parte importante da equação.

Existem exemplos de hábitos que se formaram após outros surtos de doena§as?

Sempre háum grande componente de comportamento das ciências sociais com surtos. Com a AIDS, vimosmudanças comportamentais, como pessoas que usam camisinha e programas para troca de agulhas. Estudar esses padraµes comportamentais éimportante porque se trata de saúde pública e, idealmente, aborda¡-los pode ser mais barato e mais fa¡cil do que usar incentivos financeiros.

Que outros hábitos vocêestãoestudando?

Tambanãm queremos ver a educação nonívelda faculdade. As universidades, incluindo a Caltech, migraram para o aprendizado on-line, o que tem muitas vantagens. Os alunos podem assistir a palestras on-line sempre que quiserem, e quando estiverem mais atentos e não estiverem com sono ou estressados, e podem pressionar retroceder. Penso que, daqui para frente, muitos professores adotara£o um modelo de sala de aula "invertida", onde fara£o va­deos para suas palestras e usara£o a sala de aula para discussão. Já vimos que, em muitos casos, os alunos gostam mais disso. A questãoem aberto que queremos examinar anã: que hábitos formados durante esta pandemia continuara£o na sala de aula física?

Existem outros hábitos que vocêacha que podem mudar?

Eu acho que muito trabalho de conhecimento, por exemplo, escrevendo trabalhos ou aqueles em direito e tecnologia, passara¡ para o teletrabalho. Se vocêperguntar a s pessoas o que as torna felizes e infelizes e o que as deixa loucas, as piores coisas são perder um emprego, perder um ca´njuge e outras coisas a³bvias que são realmente terra­veis. Se vocêperguntar sobre as coisas do dia-a-dia, ouvira¡ muitas pessoas reclamando sobre o deslocamento. Eles querem poder trabalhar em casa. O grande medo de muitas empresas em deixar as pessoas trabalharem em casa éque elas acham que as pessoas se sentam de pijama e se divertem. E geralmente hálguém em uma organização que resiste a  mudança.

Mas agora a mudança nos foi imposta. As empresas percebera£o que o teletrabalho érealmente uma vantagem valiosa, e os funciona¡rios são mais felizes e eficientes. Isso échamado de experimentação forçada. Os experimentos forçados tem um benefa­cio para os economistas comportamentais, porque nos permitem fazer perguntas: hácoisas que devera­amos ter feito antes, se forçadas a tentar agora, fara£o uma diferença realmente muito grande na maneira como trabalhamos, vivemos e ensinamos?

Existem outros exemplos de experimentação forçada que levam amudanças de ha¡bitos?

Vou contar uma história que éuma pequena evidência de que existem maneiras melhores de fazer coisas ou rotinas melhores que as pessoas nem sempre exploram. Houve um estudo sobre o metra´ de Londres, o metra´. a‰ um enorme sistema de expansão, e muitas pessoas viajam de metra´ pela manha£. Os trabalhadores do Tube entraram em greve porque não acharam que foram bem tratados, mas a greve durou apenas 48 horas e ocorreu apenas em parte do sistema do Tube.

Do ponto de vista cienta­fico, esse éum experimento natural: vocêpode ver o que aconteceu com as pessoas que viajavam diariamente nas áreas de greve, onde não havia trens circulando e as pessoas precisavam encontrar uma rota de trem diferente para chegar ao trabalho, e vocêpode compara¡-los com pessoas que, nos mesmos dias, poderiam manter seu trajeto regular. O resultado desse experimento forçado foi que 5% dos trabalhadores encontraram um deslocamento um pouco melhor.

O ponto principal de um ha¡bito éque vocêestãono piloto automa¡tico, não experimenta coisas novas. Mas experimentar coisas novas pode ser benanãfico.

 

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