Com enfoque em tema¡ticas raciais, escola reaºne produção acadaªmica, artastica e de extensão que vai de trabalhos de conclusão de curso a programas de entrevistas

O professor Almir Almas, chefe do Departamento de Cinema, Ra¡dio e Televisão da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP osFoto: Divulgação/SET Expo
O racismo éuma realidade dia¡ria para negros e negras em todo o mundo. E o assunto se impa´s com destaque inusual em função dos protestos antirracistas nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil. O papel de cada um na luta contra o racismo entrou em debate, e alguns porta-vozes desse movimento ganharam mais Espaço. A fim de que essa visibilidade não seja apenas momenta¢nea, a Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP compilou uma sanãrie de textos que tratam do conhecimento e da arte produzidos por seus alunos e professores negros. Â
“A pauta tem que ser o que nosproduzimos, ressaltando a importa¢ncia desse trabalhoâ€, afirma Almir Antonio Rosa, mais conhecido como Almir Almas, primeiro professor autodeclarado preto a chefiar o Departamento de Cinema, Ra¡dio e Televisão (CTR) da ECA. “Acho importante enfatizar essas produções não apenas por terem sido feitas por negros, mas principalmente pela qualidade desses trabalhosâ€, reitera ele. Na lista, isso fica ainda mais claro com os exemplos de Thaina¡ Santos, que deu uma palestra no lana§amento da Rede Afro Turismo, em 2019, depois de apresentar seu TCC sobre o Viajante afro-brasileiro, e do ilustrador, quadrinista e professor Marcelo D’Salete, que em 2018 ganhou o praªmio Eisner pela história em quadrinhos (HQ) Cumbe, que aborda a escravida£o no Brasil. O Eisner éa honraria máxima na área da HQ no mundo.
Hista³ria em quadrinhos (HQ) Cumbe, do desenhista e professor Marcelo D’Salete,
formado pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, que em 2018 ganhou
o praªmio Will Eisner, a maior honraria mundial na área da HQ osFoto: Reprodução
Mais especificamente quanto a sua área de atuação, Almas fala sobre a ausaªncia de pessoas negras. “Eu entrei para o departamento em função do meu trabalho no audiovisual, e esse meio édominado por uma elite branca e masculina, como mostram os dados da Anvisa de 2018 sobre gaªnero e raça. a‰ necessa¡rio ocupar cada vez mais esses Espaçosâ€, diz o professor. Ele desenvolveu sua carreira e hoje, além de chefe do departamento, também élivre-docente e coordenador do LabArteMadia, grupo que pesquisa e produz conteaºdo voltado para realidades virtuais, aumentadas e imersivas.
Nesses lugares éainda mais difacil encontrar negros. Romper essa barreira émuito importante e, na lista da ECA, o MidiaSon, grupo de estudos e produção em madia sonora do CTR, ajuda a fazer isso com o podcast Na³s, Mulheres Negras, apresentado pela aluna Ester Dias e liderado pelo professor Eduardo Vicente.Â
Nesse sentido, o professor chama a atenção para a necessidade da polatica de cotas, a fim de diversificar o perfil dos estudantes e professores. “Eu tive uma trajeta³ria muito desafiadora na anãpoca, porque nada disso existia, mas não deveria ser tão difacil assimâ€, afirma ele, lembrando que não se trata de uma questãode meritocracia, mas de oportunidade osque éfacilitada para uns e dificultada para muitos outros. De acordo com Almas, as políticas afirmativas precisam existir para romper com esse padrãobranco, pois éformando um corpo discente mais diverso que se conseguira¡, no futuro, mudar também o perfil do corpo docente. Dessa forma, as próprias referaªncias artasticas e tea³ricas podera£o deixar de ser centradas apenas em homens brancos.â€
Essa falta de acessibilidade precisa ser debatida em todos os Espaços. Por isso, a doutora pela ECA Alecsandra Matias de Oliveira, em suas pesquisas, faz o questionamento “Artes pla¡sticas: um lugar de todos?â€. Já Francisco Leite e Leandro Leonardo Batista escrevem sobre a necessidade de propagandas antirracistas no livro Publicidade Antirracista osReflexaµes, Caminhos e Desafios. Os dois projetos estãopresentes na lista da ECA, que contempla trabalhos feitos nas mais diversas áreas.Â
“Isso sem falar da pressão para não errar que muitos de nossofremosâ€, conta o professor, a respeito da responsabilidade dos negros que conseguem entrar nesses Espaços. Para eles, énecessa¡rio provar competaªncia o tempo todo, principalmente para evitar o discurso de quem écontra as políticas de cotas e de permanaªncia estudantil. “Ha¡ uma davida hista³rica com a população negra, e ela são serápaga se a gente se comprometer com essa luta e mudar o conceito que se tem da etniaâ€, afirma Almas. Ele mesmo reconhece a pressão que sofreu e as dificuldades que enfrentou em toda sua vida, mas a vontade de fazer um bom trabalho sempre prevaleceu. Uma prova disso vem de seus colegas de departamento, que expressam a vontade de que ele se recandidate ao cargo de chefia.