Humanidades

Branca de Neve e a escurida£o dentro de nós
Maria Tatar coleta versaµes do conto de todo o mundo e explica como elas nos da£o uma maneira de pensar sobre o que preferimos não fazer.
Por Manisha Aggarwal-Schifellite - 17/07/2020


Filme Branca de Neve e o Caa§ador 

Uma ilustração de 1923 de Branca de Neve descansando em um caixa£o de vidro por Gustaf Tenggren, um ilustrador sueco-americano que trabalhou como animador da The Walt Disney Co. na década de 1930.

“Branca de Neve e os Sete Anaµes”, de Walt Disney, foi lana§ado como o primeiro longa-metragem de animação em 1937 e, décadas depois, a fantasia musical baseada em um conto de fadas dos irmãos Grimm sobre as complicações e conflitos no relacionamento ma£e-filha ainda éuma pedra de toque cultural. A história praticamente eclipsou todas as versaµes dos muitos contados ao redor do mundo sobre garotas bonitas e seus rivais mais velhos, muitas vezes uma ma£e ou madrasta biológica cruel, mas a s vezes uma tia ou sogra. Em seu novo livro, “ A Mais Bela de Todas: Branca de Neve e 21 Contos de Ma£es e Filhas ”, Maria Tatar, o professor de pesquisa John L. Loeb de Folclore e Mitologia e La­nguas e Literaturas Germa¢nicas e um membro saªnior da Sociedade de Bolsistas de Harvard, coletou contos de várias nações, incluindo Egito, Japa£o, Sua­a§a, Armaªnia e andia. Ela falou na entrevista sobre seu fasca­nio ao longo da vida pela saga e como podemos olhar para os contos de fadas para navegar em tempos incertos.

Perguntas e Respostas
Maria Tatar


Por que vocêdecidiu seguir a história da Branca de Neve?

Enquanto trabalhava no meu livro anterior com Henry Louis "Skip" Gates Jr., " The Anktated African American Folktales, ”Me deparei com uma história sul-africana chamada“ A ma£e não natural e a garota com uma estrela na testa ”. Era basicamente o que chamamos de história da Branca de Neve, mas nela a “garota bonita” entra em transe catata´nico depois de vestir chinelos que sua ma£e ciumenta lhe deu. Foi quando eu caa­ no buraco dos contos de maravilhas e descobri histórias de todo o mundo em que uma jovem incrivelmente atraente desperta o ciaºme de uma mulher que geralmente ésua ma£e biológica. Os Irma£os Grimm, cuja história de 1812 inspirou Walt Disney a criar o filme de animação, tinham muitos contos vernaculares a  sua disposição, mas optaram por publicar aquele em que o rival éa madrasta, em parte porque não queriam violar a santidade. da maternidade. Agora, décadas depois, ainda énossa história cultural sobre as muitas complicações e conflitos no relacionamento ma£e-filha. Ele erradicou quase todos os vesta­gios de muitas histórias contadas em todo o mundo sobre garotas bonitas e suas rivais.

Por que essa história em particular permanece tão ressonante?

Todos os contos desta coleção são cambistas. Eles comea§am com o contra-factual "E se?" então nos deixe perguntando "o que vem a seguir?" e finalmente nos desafiamos a perguntar "Por quaª?" Essas histórias foram originalmente contadas em ambientes comunita¡rios, e fizeram as pessoas falarem sobre todos os conflitos, pressaµes e injustia§as na vida real. Como vocêcria um final que não éapenas para sempre feliz, mas também “o mais justo de todos”? O que vocêfaz quando se depara com os piores cenários possa­veis? O que vocêprecisa para sobreviver a  crueldade, ao abandono e ao assalto? Nos contos de fadas, a resposta geralmente vem na forma de inteligaªncia, inteligaªncia e desenvoltura, por um lado, e coragem, por outro. Com seus mistanãrios melodrama¡ticos, eles despertam nossa curiosidade e nos fazem se importar com os personagens.

“Todos os contos desta coleção são cambistas. Eles comea§am com o contrafactual "E se?" então nos deixe perguntando 'o que vem a seguir?' e finalmente nos desafiamos a perguntar 'Por quaª?' ”


Vocaª pode explicar a conexão entre a cor da pele de Branca de Neve e sua inocaªncia e bondade?

O ca³digo de cores vermelho, branco e preto em muitas versaµes europeias dessa história me lembra de como os Grimms acreditavam que essas eram as cores da poesia. A garota bonita é"branca como a neve, vermelha como sangue e preta como a madeira nessa moldura da janela". Foi a Disney quem mudou isso para "la¡bios vermelhos como a rosa, cabelos pretos como anãbano e pele branca como neve". Quando vocêolha para outras versaµes da história, percebe que, geralmente, a cor da pele da filha não éum problema, embora, curiosamente, exista uma versão samoana do conto com uma garota com albinismo que épa¡ria. O fato de a garota bonita em um repertório global de histórias sobre ma£es e filhas ser estereotipada como tendo pele branca como a neve por causa da influaªncia das versaµes de Grimm e Disney limita a ressonância cultural global da história.

Quais são alguns dos temas ou costumes que vocêencontrou nos contos que coletou para este volume?

Contos sobre garotas bonitas circulavam em culturas de contar histórias para adultos, em ambientes comunita¡rios. Eles deram aos pais uma maneira de conversar, pensar e abordar seus pra³prios sentimentos complicados e ressentimentos não reconhecidos por criar filhos, apenas para que eles cresa§am e superem vocêde uma maneira ou de outra. Mitos e contos de fadas encenam todas as fantasias, medos, ansiedades e terrores armazenados em nossas imaginações sobre as quais normalmente temos medo de falar. Ao ampliar e exagerar os conflitos da vida real, os contos populares animaram nossos ancestrais, fazendo com que se sentassem, escutassem e pensassem. No espaço seguro de “Era uma vez”, eles podiam explorar assuntos tabus e falar sobre o lado sombrio da natureza humana. Sa£o as histórias simba³licas que nos ajudam a falar e navegar no real.

Mas hámais nessas histórias do que libertação cata¡rtica. Os contos de fada também são uma excelente zona de contato para todas as gerações, permitindo que pensemos mais e pensemos mais sobre crises, recursos e recuperação em uma variedade de situações: fome, expulsão, abdução, perda, desapropriação, escravida£o e assim por diante, todas as coisas terra­veis que podem acontecer conosco.

Houve alguma versão da história que o surpreendeu na abordagem deles?

Eu acho que quase todas as versaµes de Branca de Neve me surpreenderam de uma maneira ou de outra. Ha¡ uma história sua­a§a chamada “A Morte dos Sete Anaµes”, na qual vocêtem todos os tropos da história da Branca de Neve, mas subiu. Uma criana§a sem-teto encontra proteção com sete anaµes, e uma mulher idosa bate a  porta, procurando uma cama para si mesma. Quando a menina se recusa a oferecer abrigo, a velha a denuncia como uma vagabunda e a acusa de dormir com todos os sete anaµes. Isso éalgo bastante inebriante, e esse conto deixou claro para mim que essas histórias nunca foram realmente para criana§as. Eles foram feitos para entreter adultos enquanto giravam, costuravam, reparavam ferramentas e realizavam tarefas tarde da noite. John Updike nos diz que os contos de fadas eram a televisão e a pornografia de uma idade anterior,

Vocaª diz que os contos de fada são maiores que a vida e podem refletir e ampliar nossos medos e ansiedades. O que vocêacha que os contos de fadas podem proporcionar durante esse período de incerteza e medo durante a pandemia do COVID-19?

Um dos meus contos de fadas favoritos, "Hansel e Gretel", comea§a em um momento de fome. Como vocêconsegue se manter vivo quando seus pais o expulsam? O fila³sofo Walter Benjamin disse isso de maneira bela quando disse que os contos de fadas transmitem uma grande lição: vocêprecisa de inteligaªncia e coragem para enfrentar os monstros na floresta.

Nãoháconselhos práticos ou sabedoria a serem extraa­dos do folclore do passado. Mas nossos ancestrais usaram essas histórias para conversar entre si sobre as ferramentas de que vocêprecisa para sobreviver, e o que geralmente émodelado nos contos de fadas éum instinto de compaixa£o e colaboração. Penso aqui em todos os animais agradecidos que não são abatidos e depois aparecem para ajudar a realizar uma tarefa impossí­vel. No tempo de uma pandemia, algo global que afeta a todos nós, a rede dourada de contar histórias nos lembra tudo o que compartilhamos, que somos todos humanos e que a solidariedade e o cuidado maºtuo constroem um caminho para o desenvolvimento de ferramentas e ferramentas. conhecimento que precisamos para a cura.

A entrevista foi editada para maior clareza e duração.

 

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