Humanidades

Trabalhando um caminho para a Silkroad
Novo diretor artistico discute missão e criação musical na era de COVID
Por Colleen Walsh - 02/10/2020


Foto de Ebru Yildiz

Uma cantora de a³pera com formação cla¡ssica, violinista talentosa e tocadora de banjo, Rhiannon Giddens sabe muito sobre várias tradições musicais, e agora ela estãotrazendo esse conhecimento para o Silkroad . Recebedor da bolsa MacArthur e cofundador do Grammy Carolina Chocolate Drops, Giddens foi recentemente nomeado diretor artistico da Silkroad, a organização sem fins lucrativos com sede na universidade concebida pelo violoncelista e graduado em Harvard Yo-Yo Ma '76 em 2000 para promover a arte multicultural troca. Giddens falou sobre como sua própria formação musical ajudou a prepara¡-la para seu novo papel, sobre as colaborações do Silkroad em Harvard e sobre o caminho a seguir.

Perguntas & Respostas
Rhiannon Giddens


O que o atraiu para este papel?

GIDDENS: Aconteceu em um momento muito oportuno da minha vida. Eu tenho cavado, obviamente, na música americana por um tempo agora e meio que descobrindo coisas e tentando adicionar a  conversa de uma forma positiva, particularmente com as contribuições afro-americanas para o filme. Mas, alguns anos atrás, conheci e comecei a formar uma parceria e amizade com [o multi-instrumentista indicado ao Grammy] Francesco Turrisi, e o que isso fez foi colocar em foco onde a música americana estãoem um contexto global, e a ideia do que aconteceu de antema£o, antes de as pessoas comea§arem a vir para a Amanãrica, e como todos aqueles padraµes musicais aconteciam continuamente. Comecei a ter uma consciência mais ampla disso, de onde a música americana se encaixa em um contexto global. E entao, Eu estive sentado com isso e percebendo que éonde eu queria comea§ar a concentrar minha energia. E então surgiu esta oportunidade, e parecia que era a coisa certa na hora certa. Se tivesse acontecido alguns anos antes, eu não teria certeza. Eu teria pensado que ainda não sabia o suficiente. Eu não teria sido equipado naquela anãpoca. Mas agora sinto que estou pelo menos mais consciente e posso aprender as coisas que preciso aprender.

Vocaª pode falar um pouco mais sobre sua formação musical e se acha que sua experiência o ajudara¡ nessa posição?

GIDDENS: A maior parte da minha experiência émuito parecida com o posicionamento de uma ponte. Eu sou formado em a³pera e canto cla¡ssico, e estudei muito música de arte ocidental. Tive um aprendizado na tradição popular com um violinista afro-americano mais velho. Minha familia émultirracial, então estou vendo os dois lados aa­. Cresci passando parte da minha vida no campo, parte da minha vida na cidade. Portanto, em muitos aspectos da minha vida, posso ver os dois lados da moeda. E eu acho que esse tipo de flexibilidade émuito bom para uma posição como essa, para entender que não existe uma maneira de fazer as coisas. Estou muito conforta¡vel para dizer o que sei e muito conforta¡vel para dizer o que não sei, porque sei que hámuito o que aprender.

O Silkroad se envolve com música de todo o mundo, mas dada sua formação, vocêtentara¡ trazer um foco ainda mais na­tido para a tradição musical americana?

GIDDENS: O foco sempre foi a ideia de culturas encontrando e pegando essas culturas, especialmente no ini­cio aquelas culturas que marcaram a Rota da Seda, e explorando como somos mais parecidos do que diferentes. Em minha mente, a parte americana disso nunca foi realmente explorada completamente. Eu sinto que isso éparte do que estou trazendo para o papel, porque sou muito baseado na história. Estou muito interessado em todos os elementos culturais que constituem a Amanãrica, e eles são globais. a‰ uma questãode examinar o que aconteceu aqui em 1800; o que aconteceu aqui em 1900; e perguntando: “Como isso afeta nossa música? Como isso afeta quem somos no mundo? ” Todas as tradições refletidas na Rota da Seda apareceram na Amanãrica.

Disseram-nos que a história americana éum tipo muito estreito de triunfo americano do tipo WASP, mas não énada disso. Vocaª olha para a Amanãrica e vaª essas colaborações culturais incrivelmente multifacetadas e multicamadas acontecendo em todo o lugar. E então vocêtem estruturas de supremacia branca capitalistas e suprimidas, dividindo e colocando em divisaµes artificiais onde culturalmente as coisas se reaºnem. Então, eu acho que hámuitas oportunidades para expandir, para conectar a missão ainda mais profundamente com o que estãoacontecendo aqui porque, como podemos ver, essas divisaµes não são superficiais e não ira£o embora tão cedo. Qualquer coisa que possamos fazer para promover a ideia de que essas divisaµes são falsas, que a raça éuma construção completamente artificial, éfundamental. A música éuma daquelas maneiras pelas quais as pessoas veem como naturalmente nos aproximamos.

Vocaª acha que as artes, e a música mais especificamente, podem nos ajudar a caminhar em direção a uma sociedade mais inclusiva e tolerante?

GIDDENS: Acho que mostra o melhor de nós. Ninguanãm nasce que não precise de música de alguma forma - apesar do que as pessoas estãodizendo sobre quem éessencial e quem não anã, e para quem devemos ajudar e dinheiro. As artes parecem estar completamente esquecidas, embora todos digam: “Oh, vocêestãonos ajudando a superar essa pandemia. Por favor, coloque os shows. Fazem isto; faz isso." Todo mundo precisa, mas não parece que seja respeitado da mesma forma. Essa não bem a resposta para sua pergunta, mas estãotudo conectado porque as artes precisam ser respeitadas e porque os artistas são embaixadores culturais. Na³s respondemos ao que estãoacontecendo na cultura em nossa arte; Acho que a melhor arte sim. E mostra o melhor da humanidade. Então, por que não celebramos isso ainda mais?

“Ninguanãm nasce que não precise de música de alguma forma.”


Essas divisaµes nos Estados Unidos não apenas surgiram; eles sempre estiveram aqui. Agora, eles são um pouco mais a³bvios, um pouco mais nasuperfÍcie. E a música éuma ferramenta poderosa, mas vocêtem que usa¡-la de uma forma que esteja enraizada na compreensão e no conhecimento, porque écontando essas histórias de nossas raa­zes musicais que eu acho que a plenitude do poder do que fazemos musicalmente , o que fazemos artisticamente como cultura, sai. a‰ saber de onde vem o banjo, saber que éum instrumento de origem africana. Então vocêcomea§a a entender o tipo de conversa cultural que vai e volta por centenas de anos e influenciou todas essas diferentes formas musicais. E diferentes culturas assumiram diferentes aspectos dele, e foi esse verdadeiro emblema da Amanãrica por muito tempo e depois foi distorcido por certas razaµes. Quer dizer, se vocêsegue a história da música, vocêrealmente segue a história de quem somos. E então, acho que divulgar essa história éa chave.

Além disso, a música éirrepreensa­vel de várias maneiras. a‰ muito difa­cil ficar bravo com uma música. Alguma arte écriada para ser incendia¡ria, racista ou o que seja. Mas no geral, a música e o que sai das pessoas tocando juntas éinocente. E acho que éuma ferramenta poderosa por esse motivo, porque émuito difa­cil ficar ofendido se vocêestãomaravilhado com essa música. Em vez disso, éuma forma de absorver a ideia de que somos mais semelhantes do que diferentes. E as formas como somos diferentes são formas de ser celebradas porque todas refletem a mesma coisa: a essaªncia de quem somos, como humanos. Temos as mesmas preocupações; temos os mesmos desejos. a‰ que a forma como falamos sobre eles e como os expressamos édiferente, como nos expressamos artisticamente édiferente. Mas porque eles são sobre as mesmas coisas,

Quais são seus planos para se conectar com a comunidade de Harvard?

GIDDENS: Sempre háideias demais. As ideias e o que fazer nunca sera£o um problema. Acho que o importante émanter e desenvolver relacionamentos, e também examinar como eles estãoretribuindo a  comunidade, como as coisas estãosendo representadas e como as coisas que o Silkroad estãocriando estãosendo expandidas de forma ainda mais eficaz em parcerias importantes . Vocaª sempre pode se empenhar por mais, e definitivamente tenho muitas ideias sobre como todas essas formas de arte funcionam juntas.

Depois, hás conexões hista³ricas com algumas dessas músicas e como ela interage com a história americana, como ela interage com a história mundial. Acho que hámuito espaço para projetos colaborativos e maneiras de disseminar a mensagem do Silkroad em várias plataformas, não apenas shows ou shows, embora essa seja uma pea§a importante. Existem também as conexões acadaªmicas e tornando essas conexões ainda mais fortes e sendo realmente claro sobre como isso pode ser uma coisa mais amplamente conhecida. Estou muito orgulhoso porque éuma organização e conjunto tão bonitos e a quantidade de talento envolvida neste grupo ésimplesmente fenomenal. Uma das razões pelas quais aceitei éque sempre achei que o [Silkroad] Ensemble não éconhecido o suficiente. Sa³ acho que deveria haver mais consciência do que o Silkroad estãofazendo. E,

Como épara vocêfazer música na era do COVID? 

GIDDENS: Para mim, pessoalmente, ainda sou capaz de fazer música a  distância com as pessoas e lana§ar a música e fazer va­deos. Mas vocêsabe, éum tipo diferente de arte. Vocaª se adapta ao que vocêtem. E, claro, ninguanãm quer fazer isso para sempre. Mas existem coisas que vocêpode encontrar que não teria encontrado antes. Estou falando com pessoas com quem nunca falei antes. Nunca fiz Zoom. Nunca me conectei dessa maneira. Então, vocêtira tudo de bom que vocêpode ter de se adaptar. Vocaª tem que fazer um piva´ e apenas dizer: “OK, éaqui que estamos. O que podemos tirar desse momento? E a s vezes ébastante. ”

“[Os] modos como somos diferentes são formas de ser celebrados porque todos eles refletem a mesma coisa: a essaªncia de quem somos, como humanos.”


Vocaª ficou agradavelmente surpreso com alguma coisa enquanto trabalhava remotamente?

GIDDENS: Bem, apenas as possibilidades como quando Yo-Yo Ma estendeu a ma£o e perguntou se eu queria fazer algo para Juneteenth . Anteriormente, eu teria dito “Dia de junho de 2022 ou 2023?” porque normalmente estamos lotados. Mas então esta¡vamos ambos em nossas casas, e de repente isso tornou possí­vel uma colaboração que antes não era possí­vel. Eu tinha acabado de escrever essa música; foi um esfora§o para responder ao que estava acontecendo durante o grosso dos protestos. E então, eu gravei parte disso, e ele acrescentou, e então vocêsenta e assiste e pensa: “Isso émuito legal”. Agradea§o muito aqueles momentos que não teriam acontecido nos tempos antigos, como os chamamos.

Qual seráo envolvimento de Yo-Yo daqui para frente?

GIDDENS: Vocaª não tem o Silkroad sem Yo-Yo Ma, porque ele éa gaªnese disso. Ele estãona história; ele estãono DNA. Ele vai continuar envolvido. Ele não vai estar la¡ o tempo todo, mas quando houver momentos isso faz sentido para ele, e faz sentido para o Silkroad, isso vai acontecer. Mas acontea§a o que acontecer com o quanto Yo-Yo pode brincar com o Silkroad, parte da minha missão éfazer com que as pessoas saibam o que éo Silkroad, independentemente do envolvimento de Yo-Yo, em outras palavras, dar ao Silkroad uma identidade fora do Yo-Yo. E isso significa que ele pode se envolver com o conjunto de uma forma orga¢nica, e háessa conexão especial, éclaro, por causa de seu envolvimento de longo prazo.

Em relação a  sua música “Build a House” para comemorar o danãcimo terceiro maªs de junho, vocêescreveu: “Esta música bateu hácerca de uma semana e eu tive que abrir a porta e deixa¡-la entrar. O que posso dizer sobre o que estãoacontecendo, o que aconteceu, e o que continua acontecendo, nestepaís, no mundo? Ha¡ muitas palavras e nenhuma ao mesmo tempo. Então deixei a música falar, como sempre. Que coisa para marcar este 155º aniversa¡rio de Junete com aquela linda alma Yo-Yo Ma. a‰ uma honra taª-lo divulgado no mundo. ” Vocaª estãotrabalhando em outra música que fala com este momento?

GIDDENS: Adoro colaborar e quando as pessoas estendem a ma£o e querem dizer algo e doar dinheiro para algo que érealmente importante, adoro fazer isso. Acabei de lana§ar um cover de “It's a Fire” do Portishead com Amanda Palmer em um estilo muito diferente do que costumo fazer. Todos os rendimentos dessa música apoiam o Free Black University Fund. Então, enquanto isso continuar, conforme as oportunidades vierem, eu farei isso. Em termos de composição, quando vem atravanãs de mim, e as emoções vão e acontece, eu escrevo. A danãcima quinta pea§a, “Build a House,” foi a tempestade perfeita para escrevaª-la e então ter a oportunidade de fazer o va­deo com Yo-Yo. Em breve vou lana§ar uma música que escrevi hácinco anos em resposta ao massacre de Charleston na [Igreja Episcopal Metodista Africana Emanuel, onde o nacionalista branco Dylann Roof atirou e matou nove afro-americanos durante o estudo da Ba­blia]. Sempre seráuma parte do que eu faa§o. Eu me sinto tão impotente aqui morando na Irlanda. Toda a minha familia estãonos Estados Unidos e eu simplesmente continuo lendo as manchetes todas as manha£s e pensando: “Meu Deus. O que eu posso fazer?" Então, eu apenas faa§o o que posso e coloco para fora.

Vocaª antecipa esse tipo de colaboração acontecendo com o Silkroad?

GIDDENS: Sim, e isso me deixa animado com o futuro. Por mais estranho que parea§a agora, vocêdeve estar animado porque hámuito o que ficar deprimido. Eu me sinto muito sortuda porque este éum lugar realmente lindo na minha vida e estou conhecendo pessoas do grupo, e eles são todos seres humanos maravilhosos além de serem criadores e artistas incra­veis. E hámuito amor e muito desejo de fazer a diferença. Então, éaqui que temos que viver, na esperana§a de fazer coisas que possam ajudar a tornar o mundo um lugar melhor. a‰ onde estou morando agora.

A entrevista foi ligeiramente editada para maior clareza e extensão.

 

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