Humanidades

Como tomamos decisaµes morais
Em algumas situaa§aµes, perguntar
Por Anne Trafton - 03/10/2020


Pesquisadores do MIT e de Harvard mostraram que as pessoas usam um tipo de racioca­nio conhecido como universalização para ajuda¡-las a tomar decisaµes morais em certos tipos de situações. Essa estratanãgia émais aplica¡vel em dilemas sociais chamados de “problemas de limiar”, nos quais o dano pode ocorrer se todos, ou um grande número de pessoas, realizarem determinada ação. Créditos:Imagem: ilustração iStock editada por MIT News

Imagine que um dia vocêestãode trem e decide pular na catraca para não pagar a passagem. Provavelmente não tera¡ um grande impacto no bem-estar financeiro de seu sistema de transporte local. Mas agora pergunte a si mesmo: "E se todos fizessem isso?" O resultado émuito diferente - o sistema provavelmente iria a  falaªncia e ninguanãm poderia mais andar no trem.

Os fila³sofos morais hámuito acreditam que esse tipo de racioca­nio, conhecido como universalização, éa melhor maneira de tomar decisaµes morais. Mas as pessoas comuns usam espontaneamente esse tipo de julgamento moral em sua vida cotidiana?

Em um estudo com várias centenas de pessoas, pesquisadores do MIT e da Universidade de Harvard confirmaram que as pessoas usam essa estratanãgia em situações especa­ficas chamadas de "problemas de limiar". Esses são dilemas sociais nos quais podem ocorrer danos se todos, ou um grande número de pessoas, realizarem determinada ação. Os autores desenvolveram um modelo matema¡tico que prediz quantitativamente os julgamentos que eles provavelmente fara£o. Eles também mostraram, pela primeira vez, que criana§as a partir dos 4 anos podem usar esse tipo de racioca­nio para julgar o certo e o errado.

“Esse mecanismo parece ser uma forma de descobrirmos espontaneamente quais são os tipos de ações que posso fazer e que são sustenta¡veis ​​em minha comunidade”, disse Sydney Levine, pa³s-doutoranda no MIT e Harvard e principal autora do estudo.

Outros autores do estudo são Max Kleiman-Weiner, um pa³s-doutorado no MIT e Harvard; Laura Schulz, professora de ciências cognitivas do MIT; Joshua Tenenbaum, professor de ciência cognitiva computacional no MIT e membro do Centro de Canãrebros, Mentes e Ma¡quinas e Laborata³rio de Ciência da Computação e Inteligaªncia Artificial do MIT (CSAIL); e Fiery Cushman, professor assistente de psicologia em Harvard. O artigo estãoaparecendo esta semana no Proceedings of the National Academy of Sciences .

Julgando a moralidade

O conceito de universalização foi inclua­do nas teorias filosãoficas desde pelo menos 1700. A universalização éuma das várias estratanãgias que os fila³sofos acreditam que as pessoas usam para fazer julgamentos morais, junto com o racioca­nio baseado em resultados e o racioca­nio baseado em regras. No entanto, existem poucos estudos psicola³gicos de universalização e muitas questões permanecem sobre a frequência com que essa estratanãgia éusada e em que circunsta¢ncias.

Para explorar essas questões, a equipe do MIT / Harvard pediu aos participantes de seu estudo que avaliassem a moralidade das ações tomadas em situações nas quais poderia ocorrer dano se muitas pessoas executassem a ação. Em um cena¡rio hipotanãtico, John, um pescador, estãotentando decidir se deve comea§ar a usar um novo anzol, mais eficiente, que lhe permitira¡ pescar mais. No entanto, se todos os pescadores de sua aldeia decidissem usar o novo anzol, logo não haveria mais peixes no lago.

Os pesquisadores descobriram que muitos sujeitos usaram a universalização para avaliar as ações de John, e que seus julgamentos dependiam de uma variedade de fatores, incluindo o número de pessoas que estavam interessadas em usar o novo gancho e o número de pessoas que o utilizariam para desencadear uma resultado.

Para descobrir o impacto desses fatores, os pesquisadores criaram várias versaµes do cena¡rio. Em um, ninguanãm mais na aldeia estava interessado em usar o novo anzol e, nesse cena¡rio, a maioria dos participantes considerou aceita¡vel que John o usasse. No entanto, se outras pessoas na aldeia estivessem interessadas, mas optassem por não usa¡-lo, a decisão de John de usa¡-lo foi considerada moralmente errada.

Os pesquisadores também descobriram que poderiam usar seus dados para criar um modelo matema¡tico que explica como as pessoas levam em consideração diferentes fatores, como o número de pessoas que querem realizar a ação e o número de pessoas que o fazem que causariam danos. O modelo prevaª com precisão como os julgamentos das pessoas mudam quando esses fatores mudam.

Em seu último conjunto de estudos, os pesquisadores criaram cenários que usaram para testar julgamentos feitos por criana§as com idades entre 4 e 11 anos. Uma história mostrava uma criana§a que queria pegar uma pedra de um caminho em um parque para sua coleção de pedras. As criana§as foram solicitadas a julgar se isso estava OK, em duas circunsta¢ncias diferentes: em uma, apenas uma criana§a queria uma pedra e, na outra, muitas outras criana§as também queriam levar pedras para suas coleções.

Os pesquisadores descobriram que a maioria das criana§as considerava errado pegar uma pedra se todos quisessem, mas era permitido se apenas uma criana§a quisesse. No entanto, as criana§as não foram capazes de explicar especificamente por que haviam feito esses julgamentos.

“O que éinteressante sobre isso éque descobrimos que, se vocêconfigurar esse contraste cuidadosamente controlado, as criana§as parecem estar usando esse ca¡lculo, embora não consigam articula¡-lo”, diz Levine. “Eles não podem fazer uma introspecção em sua cognição e saber o que estãofazendo e por quaª, mas parecem estar implantando o mecanismo de qualquer maneira.”

Em estudos futuros, os pesquisadores esperam explorar como e quando a capacidade de usar esse tipo de racioca­nio se desenvolve em criana§as.

Ação coletiva

No mundo real, existem muitos casos em que a universalização pode ser uma boa estratanãgia para a tomada de decisaµes, mas não énecessa¡ria porque as regras já existem para governar essas situações.

“Existem muitos problemas de ação coletiva em nosso mundo que podem ser resolvidos com a universalização, mas eles já estãoresolvidos com regulamentação governamental”, diz Levine. “Nãocontamos com que as pessoas tenham que fazer esse tipo de racioca­nio, apenas tornamos ilegal andar de a´nibus sem pagar.”

No entanto, a universalização ainda pode ser útil em situações que surgem repentinamente, antes que quaisquer regulamentos ou diretrizes governamentais tenham sido implementados. Por exemplo, no ini­cio da pandemia de Covid-19, antes que muitos governos locais comea§assem a exigir máscaras em locais paºblicos, as pessoas que pensavam em usar máscaras podem ter se perguntado o que aconteceria se todos decidissem não usar uma.

Os pesquisadores agora esperam explorar as razões pelas quais as pessoas a s vezes parecem não usar a universalização nos casos em que ela poderia ser aplica¡vel, como no combate a smudanças climáticas. Uma possí­vel explicação éque as pessoas não tem informações suficientes sobre o dano potencial que pode resultar de certas ações, diz Levine.

A pesquisa foi financiada pela John Templeton Foundation, pela Templeton World Charity Foundation e pelo Center for Brains, Minds and Machines.

 

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