Humanidades

As criana§as usam agressão e violência de faz de conta para lidar com colegas mal-humorados
As criana§as são mais propensas a introduzir temas violentos em suas brincadeiras de faz de conta, como brigas ou mortes imagina¡rias, se estiverem com companheiros de brincadeira que os colegas consideram mal-humorados, sugere uma nova pesquisa.
Por Tom Kirk - 06/10/2020


Menino brincando com uma arma de brinquedo de madeira - Crédito: woodleywonderworks via flickr

“Para algumas criana§as, isso pode realmente ser uma forma de desenvolver suas habilidades sociais e emocionais“

Zhen Rao

Acadaªmicos da Universidade de Cambridge acreditam que a tendaªncia das criana§as de introduzir temas agressivos nessas situações - o que parece acontecer sejam elas pessoalmente fa¡ceis de irritar ou não - pode ser porque eles estão'ensaiando' estratanãgias para lidar com amigos teimosos .

A descoberta vem de um estudo observacional de mais de 100 criana§as em uma escola na China, que foram convidadas a brincar com brinquedos em pares. Criana§as cujos parceiros de brincadeira foram considerados mal-humorados por seus colegas tinham 45% mais probabilidade de introduzir temas agressivos em suas brincadeiras do que aquelas cujos parceiros eram considerados melhores em controlar seu temperamento.

Poranãm, éimportante ressaltar que o pra³prio temperamento da criana§a não prediz onívelde agressão faz de conta. Em vez disso, as criana§as frequentemente pareciam introduzir esses temas especificamente em resposta a ter um companheiro irrita¡vel.

Isso pode significar que, embora muitos adultos compreensivelmente desencorajem as criana§as de brincadeiras que parea§am agressivas, em certos casos isso pode realmente ajudar em seu desenvolvimento social e emocional. Os autores do artigo enfatizam, entretanto, que mais pesquisas sera£o necessa¡rias antes que eles possam fornecer uma orientação definitiva para pais ou profissionais.

O Dr. Zhen Rao, do Centro de Pesquisa sobre Brincadeiras na Educação, Desenvolvimento e Aprendizagem (PEDAL) , da Faculdade de Educação da Universidade de Cambridge, disse: “Se as criana§as tem um amigo que se irrita facilmente, especialmente se eles não tem ' Para lidar bem com esse comportamento, épossí­vel que procurem maneiras de explora¡-lo por meio de brincadeiras. Isso lhes da¡ um contexto seguro no qual podem experimentar diferentes maneiras de lidar com situações difa­ceis na próxima vez que surgirem na vida real. ”

Brincadeiras agressivas de fingir tem sido objeto de pesquisas mais amplas, muitas das quais tem como objetivo entender se elas prevaªem comportamentos agressivos semelhantes na vida real. A maioria desses estudos, entretanto, tende a enfocar se essas associações estãoligadas ao pra³prio temperamento da criana§a, e não ao das criana§as com quem estãobrincando.

O estudo de Cambridge teve como objetivo compreender atéque ponto a brincadeira de faz de conta agressiva estãoassociada não apenas a  própria expressão das criana§as, mas também a  expressão da raiva de seus parceiros. Tambanãm distinguia entre brincadeiras de simulação agressivas e sua variante "não agressiva, negativa": por exemplo, brincadeiras de simulação que envolvem imaginar alguém que estãodoente ou infeliz.

A pesquisa foi realizada com 104 criana§as, de sete a 10 anos, de uma escola em Guangzhou, na China, como parte de um projeto mais amplo que a equipe estava desenvolvendo naquela regia£o.

Os participantes foram convidados a se organizarem em pares - muitos deles escolhendo amigos - e foram filmados jogando por 20 minutos. Os brinquedos que receberam tinham um cara¡ter deliberadamente neutro (por exemplo, não havia armas de brinquedo), e as criana§as podiam brincar como quisessem.

Os pesquisadores então codificaram amostras de 10 minutos de cada par em 120 segmentos de cinco segundos, marcando insta¢ncias de brincadeiras, temas agressivos e temas negativos não agressivos.

Separadamente, eles também pediram aos colegas que avaliassem a tendaªncia das criana§as de ficarem zangadas. Cada uma das 104 criana§as no estudo foi avaliada por, em média, 10 outras pessoas, que foram solicitadas a decidir se eram boas em controlar a paciaªncia, se irritavam facilmente ou se 'estavam em algum ponto intermediário'.

Os pesquisadores então analisaram os dados usando um modelo estata­stico denominado Modelo de Interdependaªncia Ator-Parceiro , que éum meio de medir e testar a influaªncia que dois indivíduos tem um sobre o outro. Isso permitiu que descobrissem atéque ponto as criana§as estavam brincando de uma certa maneira por sua própria vontade e atéque ponto estavam sendo influenciadas pelo parceiro.

Em média, as criana§as passaram apenas cerca de um quinto da sessão gravada participando de brincadeiras de faz de conta, das quais cerca de 10% envolveram temas agressivos e 8% envolveram temas negativos não agressivos. Brincadeiras fingidas foram observadas em todas as criana§as. Mais da metade (53,5%) apresentou pelo menos uma ocorraªncia de brincadeira de faz-de-conta agressiva e 43% das criana§as mostraram pelo menos uma ocorraªncia de brincadeira de faz-de-conta negativa.

A habilidade das próprias criana§as de controlar seu temperamento, conforme relatado por seus colegas, não prediz significativamente a quantidade de suas brincadeiras envolvendo temas agressivos. No entanto, se eles tivessem um parceiro de brincadeira considerado rápido para ficar com raiva, eles tinham 45% mais probabilidade de criar situações de fingimento que envolviam algum tipo de elemento agressivo. Essa porcentagem éatécerto ponto moldada pela forma como os dados foram segmentados, mas, mesmo assim, indica uma maior probabilidade de que as criana§as fazm isso se estiverem brincando com alguém que seus colegas consideram fa¡cil de irritar.

Nãohouve evidaªncias que sugerissem que o temperamento de qualquer uma das criana§as influenciava a frequência de brincadeiras de faz de conta negativas e não agressivas. Os pesquisadores também descobriram que os meninos eram 6,11 vezes mais propensos a se envolver em brincadeiras agressivas de simulação do que as meninas.

A teoria de que as criana§as podem introduzir esses temas para ensaiar maneiras de lidar com colegas mal-humorados éapenas uma explicação possí­vel. Por exemplo, também pode representar uma tentativa de impedir que os companheiros fiquem com raiva, dando-lhes uma situação de fingimento para "desabafar", ou simplesmente para mantaª-los jogando apelando para sua natureza.

“Nosso estudo destaca a importa¢ncia de levar em consideração a expressão emocional de um parceiro social ao entender o fingimento agressivo”, acrescentou Rao. “Mais pesquisas são claramente necessa¡rias para nos ajudar a entender melhor isso em diferentes contextos sociais. A possibilidade de as criana§as estarem descobrindo como lidar com situações complicadas por meio de brincadeiras de faz de conta sugere que, para algumas criana§as, isso pode realmente ser uma forma de desenvolver suas habilidades sociais e emocionais. ”

A pesquisa foi publicada no British Journal of Developmental Psychology . A pesquisa do Dr. Rao éfinanciada por uma bolsa de pa³s-doutorado do ESRC.

 

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