Humanidades

Dietas sustenta¡veis: não éuma fantasia
O clima e os sistemas alimentares estãoinextricavelmente ligados - danos a um levam a danos ao outro. Mas melhorar um significa melhorar o outro também, diz Jess Fanzo.
Por Christine Grillo - 16/10/2020


MIKE MILLI / UNIVERSIDADE JOHNS HOPKINS

A mudança climática continua a se provar uma ameaça real e tanga­vel, especialmente quando se considera o ciclo de feedback formado pelasmudanças climáticas e sistemas alimentares, diz Jess Fanzo , distinto professor da Bloomberg de pola­tica alimentar global e anãtica no Instituto Johns Hopkins Berman de Bioanãtica , Johns Hopkins SAIS e o Departamento de Saúde Internacional da Escola de Saúde Paºblica Bloomberg.

“A mudança climática desestabiliza os sistemas terrestres, o que perturba os sistemas alimentares”, diz ela. "Mas os sistemas alimentares também contribuem para a degradação ambiental. O que fazemos a respeito?"

Fanzo dedicou sua carreira ao estudo de como os sistemas alimentares, a economia e o clima afetam o acesso a dietas sauda¡veis, ambientalmente sustenta¡veis ​​e equitativas, especialmente em áreas do planeta onde os recursos são limitados ou limitados. Ela diz que não acha mais que haja uma grande janela para agir para prevenir asmudanças climáticas, e podera­amos estar caminhando para uma cata¡strofe climática na qual os sistemas terrestres assumiriam e os humanos não seriam mais capazes de fazer a diferença.

“Temos mais conhecimento do que nunca”, diz Fanzo. "Então, por que não vimos um impacto quando sabemos tanto?"

No ano passado, ela se juntou a uma comissão de 37 cientistas de todo o mundo para publicar um relatório que descrevia uma "dieta sauda¡vel para o planeta". De acordo com o relatório, a dieta poderia alimentar 10 bilhaµes de pessoas ao mesmo tempo em que opera dentro dos limites do planeta - uma dieta sauda¡vel que não exacerba asmudanças climáticas. Mas a dieta pretendia ser uma visão, não um plano.

"A MUDANa‡A CLIMaTICA DESESTABILIZA OS SISTEMAS TERRESTRES, O QUE PERTURBA OS SISTEMAS ALIMENTARES. MAS OS SISTEMAS ALIMENTARES TAMBa‰M CONTRIBUEM PARA A DEGRADAa‡aƒO AMBIENTAL. O QUE FAZEMOS A RESPEITO DISSO?"

Jess Fanzo
Professor ilustre da Bloomberg de pola­tica e anãtica alimentar global

"Foi grandioso", disse Fanzo, que dirige o Programa Global de a‰tica e Pola­tica Alimentar da Johns Hopkins . "As pessoas usam a palavra 'roteiro'" para descrever o relatório, diz Fanzo, "mas a dieta mencionada não pretendia ser um roteiro".

O relatório não colocou etiquetas de prea§o em nada, por exemplo, nem abordou as desigualdades na nutrição ou especificou onde deveria estar o fardo da mudança. Alguns cra­ticos recuaram porque o relatório parecia posicionar a dieta vegana como o Santo Graal, enquanto algunspaíses dependem de alimentos de origem animal para uma nutrição adequada.

Mas, além de estabelecer metas para nutrição e saúde planeta¡ria, a outra meta do relatório era fazer com que especialistas em sistemas alimentares e especialistas em clima conversassem entre si. Isso fez com que os cientistas fizessem perguntas sobre as fronteiras planeta¡rias que não deveriam ser cruzadas e como essas barreiras afetam os sistemas alimentares. Por exemplo, quanta terra selvagem pode ser convertida em terras agra­colas? Quanta águadoce pode ser usada para o cultivo de alimentos? Quanta perda de biodiversidade éaceita¡vel e quando cruzamos a linha?

"A dieta fez com que os legisladores pensassem sobre a interconexa£o, quanto custaria, que políticas seriam necessa¡rias", disse Fanzo.

Ela espera que a Caºpula da Alimentação das Nações Unidas, que ocorrera¡ em outubro de 2021, seja consumida com a questãoda acessibilidade dos alimentos. Todos tem que trabalhar juntos para agir, diz ela, mas com a crise econa´mica iminente causada pela pandemia do coronava­rus, as nações do mundo se unira£o para promulgar políticas eficazes?

"O abastecimento de alimentos estãose movendo novamente, mas as pessoas podem comprar comida?" ela diz. "Daqui a um ano équando realmente veremos a queda livre da economia global. O que estamos vendo agora éapenas a proverbial ponta do iceberg."

Um dos projetos atuais da Fanzo, em colaboração com vários outros parceiros, éum painel de sistemas de alimentos. Com o painel, o objetivo étornar os dados que temos sobre os sistemas alimentares mais digera­veis, mais acessa­veis aos formuladores de políticas e pessoas que podem tomar decisaµes que afetam o tipo de alimento produzido e o tipo de alimento consumido.

Ela acredita que, apesar de quanto se sabe sobre sistemas alimentares e clima, mais dados ainda são necessa¡rios - o tipo certo de dados, que são mais difa­ceis de obter. Os cientistas ainda não sabem realmente o que as pessoas estãocomendo ao redor do mundo, por exemplo, ou por que fazem as escolhas que fazem e de onde obtem seus alimentos. Ha¡ uma seção do painel de sistemas alimentares chamada "Comportamento do consumidor", que édividida em quatro seções - aquisição, preparação, prática s de alimentação e armazenamento - para a qual nenhum dado éoferecido. Fanzo espera que a mensagem "nenhum indicador dispona­vel" do painel sinalize para outros pesquisadores as lacunas de dados que existem e os tipos de pesquisa que precisam de financiamento.

“O que vocênão sabe, vocênão consegue”, diz ela.

O outro problema com os dados, além das lacunas, éo enfraquecimento constante da pesquisa no clima pola­tico atual. “Isso éabertamente desconsiderado”, diz Fanzo. Existem muitas soluções que podem resolver o problema, e ela espera que os governos assumam o controle das questões relacionadas a  segurança do sistema alimentar.

“Presumir que os consumidores fara£o a escolha certa não éverdade”, diz Fanzo. "Os governos precisam ajudar as pessoas a fazer escolhas fa¡ceis e boas."

Uma maneira dos governos fazer isso émanter os participantes do setor sob controle. A indústria dedica enormes quantias de dinheiro para combater as regulamentações governamentais, mas mecanismos como os impostos sobre os refrigerantes parecem estar produzindo resultados positivos, assim como os ra³tulos de advertaªncia nas embalagens dos alimentos. No Chile e no Manãxico, por exemplo, os alimentos ricos em açúcar, sal e gordura tem uma etiqueta de advertaªncia octogonal preta. No Chile, esses alimentos não podem ser vendidos nas escolas. Em reação ao ra³tulo, as indaºstrias reformularam seus produtos para terem menos açúcar, sal e gordura. Fanzo diz que os especialistas em saúde pública que defenderam esses ra³tulos sofreram ameaa§as de morte e tiveram sua ciência desacreditada - muito parecido com o que foi visto com os cientistas que estudaram a indústria do tabaco décadas atrás e os cientistas do clima hoje.

Ainda assim, diz ela, hámotivos para ter esperana§a no futuro. A agroecologia e a agricultura regenerativa estãoganhando força. Os produtores discutem como intensificar - ou cultivar mais alimentos na mesma terra - de maneira sustenta¡vel, e hátecnologias que podem ajudar. Sementes melhores e manejo integrado de pragas prometem muito, por exemplo.

“Existem muitas tecnologias amigas do clima em que podemos ser mais sustenta¡veis ​​agora, mas os incentivos ainda não existem”, diz Fanzo. "Nãoéapenas uma fantasia. a‰ possí­vel."

 

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