Humanidades

Pessoas mortas não votam: estudo aponta para uma fraude extremamente rara
Em um trabalho publicado nesta semana, uma equipe de cientistas pola­ticos de Stanford analisa cerca de 4,5 milhões de registros eleitorais do estado de Washington em busca de evidaªncias de fraude eleitoral envolvendo pessoas falecidas.
Por Krysten Crawford - 30/10/2020


Doma­nio paºblico

Com o aumento das preocupações com uma eleição presidencial potencialmente contestada na próxima semana, um novo estudo feito por pesquisadores de Stanford sugere que as preocupações com um tipo de fraude no dia da eleição são exageradas: canãdulas lascadas em nome de pessoas mortas.
 
Em um trabalho publicado nesta semana, uma equipe de cientistas pola­ticos de Stanford analisa cerca de 4,5 milhões de registros eleitorais do estado de Washington em busca de evidaªncias de fraude eleitoral envolvendo pessoas falecidas. Eles encontram 14 casos em que uma canãdula pode ter sido roubada e enviada em nome de alguém que morreu, e mesmo esses casos podem não ter sido relacionados a fraude.
 
“Estamos falando de 0,0003% de todos os eleitores em um período de 8 anos”, disse Andrew Hall , pesquisador saªnior do Instituto de Pesquisa de Pola­tica Econa´mica de Stanford (SIEPR) que conduziu o estudo.
 
Segundo Hall, que éprofessor de ciência pola­tica na faculdade de Humanidades e Ciências, a pesquisa marca um dos poucos estudos sobre fraude de eleitores falecidos. Ele diz que as descobertas, embora especa­ficas de Washington, lana§am daºvidas sobre as alegações de que os votos enviados em nome dos mortos são um problema generalizado. O insight também vem como a pandemia COVID-19 levou os estados a intensificar os programas de votação pelo correio para dar a s pessoas a oportunidade de votar na segurança de suas casas, se assim o desejarem.
 
O presidente Trump, por exemplo, questionou a legitimidade das canãdulas pelo correio - chegando a dizer que o potencial de fraude pode ser “catastra³fico”. E em agosto, Donald Trump Jr., filho do presidente, promoveu falsas alegações de que 8 por cento de todos os votos nas prima¡rias de Michigan deste ano foram dados usando canãdulas de correio de pessoas mortas.
 
Hall diz que as descobertas, embora especa­ficas para um estado, tem implicações potencialmente mais amplas.
 
“Amedida que os estados expandem o voto pelo correio durante a pandemia, muitas pessoas levantam a preocupação de que as canãdulas sejam enviadas para os mortos, roubadas e contadas nas eleições”, diz ele. “Descobrimos que esse tipo de fraude provavelmente éextremamente raro em estados que tomam precauções ba¡sicas.”
 
Hall conduziu o estudo junto com sete cientistas pola­ticos atuais e antigos de Stanford: estudantes de doutorado Jennifer Wu, Chenoa Yorgason e Hanna Folsz; Candidatos a PhD Cassandra Handan-Nader e Tobias Nowacki; e, Andrew Myers, um pesquisador pré-doutorado do SIEPR. Daniel Thompson, PhD em Stanford que agora éprofessor assistente na UCLA, também foi vital para a pesquisa.
 
Um retrato detalhado dos eleitores
 
A fraude eleitoral, éclaro, hámuito éuma fonte de controvanãrsia nas eleições americanas. Suborno, canãdulas duplicadas, registros falsos e outros manãtodos foram mencionados ao longo do tempo como ameaa§as potenciais a  legitimidade de governos eleitos democraticamente. A pesquisa, no entanto, revelou muito poucas evidaªncias de que esses problemas são comuns nas eleições americanas modernas, em parte porque os estados tomaram medidas eficazes para impedi-los.
 
Embora a fraude eleitoral possa ser difa­cil de provar, os casos de personificação de uma pessoa morta são mais fa¡ceis de detectar, diz Hall.
 
“Quem vota e quem morre são questões de registro paºblico”, diz ele. “Isso torna esta afirmação especa­fica diretamente testa¡vel.” Na verdade, como muitos estados, o pra³prio estado de Washington verifica os registros paºblicos de a³bitos e remove os eleitores falecidos das listas, tomando cuidado especial para evitar que os votos dos mortos sejam contados. Embora o estado de Washington já tenha os dados para concluir que essa forma de fraude érara, Hall destaca que “éimportante que pesquisadores acadaªmicos independentes avaliem as alegações das autoridades estaduais sobre a segurança de nossas eleições”.
 
A pesquisa acadaªmica sobre o assunto tem sido escassa, mas pelo menos um estudo aprofundado, das eleições gerais de 2006 na Gea³rgia, encontrou "essencialmente zero" casos disso.
 
O estado de Washington acaba sendo um laboratório ideal para investigar fraudes de eleitores falecidos. Desde 2011, todos os seus condados usam o voto universal por correio, um programa em que cada eleitor registrado recebe uma canãdula pelo correio. Isso édiferente do voto ausente, no qual os eleitores podem optar por votar pelo correio.
 
Washington também se destaca pela qualidade de seus dados sobre eleitores, que incluem nomes e datas de nascimento e hista³ricos eleitorais por um longo período. O estado também torna paºblicos seus registros oficiais de a³bito. O resultado, escrevem os autores do estudo, éum instanta¢neo “quase perfeito” dos eleitores estaduais ao longo do tempo.
 
No final, Hall e sua equipe coletaram informações sobre cada eleitor distinto de 2011 a 2018. Os pesquisadores então vincularam os registros eleitorais aos registros de a³bitos com base no nome completo, sexo e munica­pio de residaªncia, coletando datas de nascimento em obitua¡rios online para abordar possa­veis falsos positivos nos quais várias pessoas compartilham o mesmo nome no mesmo condado. 
 
Eles descobriram que, dos 4,5 milhões de eleitores estudados, canãdulas suspeitas foram lascadas para 14 que haviam morrido muito antes do dia das eleições e cujas informações nas listas de eleitores e registros de a³bitos eram uma correspondaªncia exata. Quando os pesquisadores relaxaram os requisitos de correspondaªncia dos nomes do meio, eles descobriram que havia apenas 43 casos adicionais que eram questiona¡veis, embora esses casos sejam mais prova¡veis ​​de serem falsos positivos.
 
“Nãopodemos nem dizer com certeza que essas 14 ocorraªncias são fraudes”, diz Halls. O problema pode ser erros de escrita ou duas pessoas que tem exatamente o mesmo nome e data de nascimento. “O que podemos dizer com certeza éque, pelo menos em Washington, essa forma de fraude éextraordinariamente rara.”
 
Hall adverte que as descobertas são especa­ficas de Washington e não dizem nada sobre outros tipos de fraude eleitoral em potencial. “E não estamos dizendo nada sobre se o voto por correspondaªncia é'bom' ou 'ruim' - apenas que essa afirmação em particular parece falsa”, diz ele.
 
Para mentes criminosas, desafios assustadores
 
Hall também afirma que os resultados não podem ser generalizados imediatamente para outros estados. Uma razãoéque Washington faz de tudo para evitar que as pessoas enviem canãdulas falsas, inclusive por meio do uso de ca³digos de barras exclusivos para validar a elegibilidade e medidas rigorosas para confirmar que um residente recentemente falecido éremovido de sua lista de eleitores, e os desenvolveu medidas ao longo de muitos anos de prática . No entanto, os cuidados ba¡sicos que todos os estados tomam provavelmente tornam essa forma de fraude improva¡vel em qualquer circunsta¢ncia.
 
“Dada a dificuldade de realizar essa fraude em grande escala e o tamanho das penalidades, não éde se surpreender que muito poucas pessoas a tentem”, diz Hall. “Embora nossos resultados não possam ser generalizados imediatamente, esse tipo de fraude provavelmente seráextremamente raro em estados que tomam precauções semelhantes.”

 

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