Humanidades

Navegando na incerteza: por que precisamos da teoria da decisão durante uma pandemia
Durante uma pandemia, as decisaµes devem ser tomadas sob pressão de tempo e em meio a incertezas cienta­ficas, com potenciais desacordos entre especialistas e modelos.
Por Universidade Bocconi - 23/01/2021


Pixabay 

Durante uma pandemia, as decisaµes devem ser tomadas sob pressão de tempo e em meio a incertezas cienta­ficas, com potenciais desacordos entre especialistas e modelos. Com COVID-19, especialmente durante a primeira onda, havia incerteza sobre a transmissibilidade do va­rus, a gravidade da doena§a, a evolução futura da pandemia e a eficácia das intervenções políticas propostas, como o uso de máscaras faciais ou o fechamento de escolas. Junto com um grupo de epidemiologistas e economistas, incluindo o ganhador do Praªmio Nobel Lars Peter Hansen, os professores Bocconi Massimo Marinacci, AXA-Bocconi Chair in Risk e Valentina Bosetti investigaram como a teoria de decisão moderna pode ajudar os legisladores a navegar pela incerteza que caracteriza esta pandemia e possa­veis futuros.

Mais detalhadamente, eles interpretam o problema de um formulador de políticas que toma decisaµes políticas sobre a emergaªncia COVID como acontecendo em um ambiente caracterizado por três camadas de incerteza: incerteza sobre os modelos, entre os modelos e dentro dos modelos. A incerteza sobre os modelos estãorelacionada ao fato de que os modelos são, por design, simplificações de fena´menos mais complexos e, portanto, são necessariamente especificados incorretamente, pelo menos atécerto ponto. Por exemplo, eles podem não incluir algumas varia¡veis ​​que são importantes. A incerteza entre os modelos engloba tanto a proliferação de diferentes modelos quanto o fato de que os parametros de cada modelosão desconhecidos. No contexto da COVID-19, esses parametros incluem o número de reprodução efetiva (o agora famoso a­ndice Rt) e o período de lataªncia da doena§a. Finalmente, a incerteza dentro dos modelos éresponsável pelo fato de que - além dos modelos determina­sticos, que, no entanto, são frequentemente simplistas - atémesmo um modelo totalmente especificado tem resultados incertos. Por exemplo, ao jogar moedas ou rolar dados, temos pleno conhecimento do modelo de probabilidade, mas ainda não podemos antecipar o resultado, porque o último éaleata³rio.

Diante dessa complexidade, regras formais de decisão podem ser de grande ajuda. Um problema de decisão formal consiste em um conjunto de ações, um conjunto de consequaªncias e um conjunto de estados do ambiente, mais uma função que associa uma consequaªncia a cada par de ação-estado. No caso do COVID-19, as ações consideradas podem ser diferentes durações de fechamento de escolas, enquanto as consequaªncias incluem tanto os benefa­cios desse tipo de ação (por exemplo, redução de infecções, hospitalizações e mortes) e seus custos (pior educação das criana§as, lutas por pais que trabalham, etc.) e também dependem do estado do meio ambiente (isto anã, a pandemia e a situação econa´mica). Uma regra de decisão formal éentão uma função que associa a "melhor" ação aos dados observados.

"Existem várias regras de decisão e escolher a melhor para uma situação particular continua sendo um problema não trivial", diz o professor Bosetti, "no entanto, essa abordagem pode ajudar a eliminar as soluções ruins do debate."

“Os formuladores de políticas podem verificar suas decisaµes perguntando se elas podem ser justificadas usando uma regra de decisão formal”, explica o professor Marinacci. "Usadas desta forma, as regras formais de decisão podem ajudar os formuladores de políticas a esclarecer o problema, testar sua intuição e evitar erros de racioca­nio documentados em estudos psicola³gicos, como confirmação e vianãs de otimismo."

"Em termos práticos, garantir que as opções de pola­tica estejam em conformidade com as regras de decisão formais poderia ser alcana§ado incluindo um analista de decisão no grupo de consultores. Isso ajudaria os formuladores de políticas não apenas na contabilização de todas as fontes de incerteza ao tomar decisaµes, mas também em comunicar essa incerteza de forma transparente, seja para os cidada£os ou para um possí­vel comitaª de investigação. Ser aberto sobre o grau de incerteza em torno das evidaªncias cienta­ficas usadas para orientar as escolhas políticas éuma forma valiosa de manter a confianção do paºblico e evitar que os especialistas se autodenominem -influenciar os cidada£os e os formuladores de políticas. "

 

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