Humanidades

A divisão do trabalho por gaªnero moldou o comportamento espacial humano, sugere o estudo de Stanford
Pesquisas baseadas nos movimentos dia¡rios de pessoas que vivem em uma sociedade contemporâneade caçadores-coletores fornece novas evidaªncias para ligaa§aµes entre a divisão de gaªnero do trabalho nas sociedades humanas nos últimos 2,5 milhões
Por Josie Garthwaite - 29/01/2021

Navegar, explorar e pensar no espaço faz parte da vida dia¡ria, seja abrir um caminho no meio de uma multida£o, caminhar por uma trilha no interior ou manobrar para encontrar uma vaga de estacionamento.


Um grupo de Hadza se mudando para um novo acampamento, 2005.
(Crédito da imagem: Brian Wood)

Durante a maior parte da história humana, a força motriz para a localização e o movimento do dia-a-dia pela paisagem foi a necessidade de comida. E, ao contra¡rio de outros primatas, nossa espanãcie dividiu consistentemente esse trabalho ao longo das linhas de gaªnero.

Em uma nova pesquisa publicada na Nature Human Behavior, cientistas incluindo James Holland Jones, de Stanford, e o principal autor Brian Wood, da University of California, Los Angeles, argumentam que a crescente divisão de gaªnero do trabalho nas sociedades humanas durante os últimos 2,5 milhões de anos moldou dramaticamente a as espanãcies usam o espaço e, possivelmente, como pensamos sobre isso.

Subjacente a essas conclusaµes estãoum enorme e detalhado tesouro de dados de viagens, revelando diferenças marcantes nas maneiras como homens e mulheres entre o povo na´made Hadza da Tanza¢nia usam o Espaço. Uma sociedade contemporâneade caçadores-coletores, os Hadza fornecem uma janela para um estilo de vida altamente ma³vel, que era a norma para nossa espanãcie antes da adoção generalizada da agricultura.

“Estamos considerando as diferenças de gaªnero como um dado neste cena¡rio cultural especa­fico e, em seguida, perguntando quais são as consequaªncias que elas tem a jusante”, disse Jones, professor associado de ciência do sistema terrestre na Escola de Ciências da Terra, Energia e Ambientais de Stanford (Stanford Earth) e membro saªnior do Stanford Woods Institute for the Environment .

Uma melhor compreensão dessa dina¢mica pode fornecer pistas sobre por que homens e mulheres parecem pensar sobre o espaço de forma diferente. Pesquisas em muitas populações humanas sugerem que homens e mulheres são melhores em diferentes tipos de tarefas espaciais. Em média, as mulheres tendem a se destacar em tarefas de memória espacial, enquanto os homens tendem a pontuar mais alto em duas medidas ba¡sicas de cognição espacial associadas ao movimento: rotação mental de objetos e apontar com precisão para locais distantes.

'O trabalho masculino émais desafiador em termos de navegação'

O artigo examina uma teoria popular de que a caça dos homens a  caça selvagem produziria viagens mais extensas e sinuosas, e que a colheita de alimentos vegetais pelas mulheres levaria a viagens mais concentradas e em linha reta de e para locais conhecidos.


Uma visão de todas as trilhas de GPS coletadas em um acampamento Hadza,
com trilhas masculinas em vermelho e trilhas femininas em verde.
(Crédito da imagem: Brian Wood)

Embora os esforços anteriores para substanciar a teoria tenham se baseado fortemente em relatos verbais, os pesquisadores aqui a testaram examinando mais de 21.000 quila´metros de viagens registradas em rastreadores GPS leves usados ​​por forrageadoras Hadza entre 2005 e 2018. “Um ou dois pesquisadores andavam pelo acampamento de manha£ cedo, pois as pessoas estavam acordando ”, escrevem os autores. “Cumprimenta¡vamos as pessoas em suas casas ou lareiras e distribua­amos dispositivos GPS para serem usados ​​durante o dia.”

Por volta do anoitecer, quando a maioria das pessoas voltou ao acampamento, Wood e os assistentes contratados na comunidade Hadza removeram os dispositivos. Eles usaram dados de 179 pessoas, representando 15 acampamentos e com idades entre 2 e 84 anos.

Os autores também examinaram o grau de sobreposição nas terras visitadas por homens e mulheres. “Um dos resultados mais surpreendentes deste estudo foi o fato de que homens e mulheres hadza ocupam mundos diferentes desde tenra idade. Em nossos dados, a maior parte da paisagem foi efetivamente segregada por gaªnero ”, disse Wood, um professor assistente de antropologia na UCLA que começou a trabalhar neste artigo háuma década como um pa³s-doutorado em Stanford.

Para analisar os dados de movimento, os pesquisadores adotaram técnicas da área de ecologia do movimento e também desenvolveram softwares customizados. Como esperado, os resultados mostram que os homens caminham mais por dia, cobrem mais terras em caminhos menos diretos e tem maior probabilidade de viajar sozinhos. “Nesse contexto de caça e coleta, o trabalho masculino émais desafiador em termos de navegação”, escrevem os pesquisadores.

Embora algumas viagens de um dia se estendessem a 20 milhas ou mais, os homens hadza em média 8 milhas por dia e mulheres - muitas delas acompanhadas por criana§as pequenas - em média quase 5 milhas. As diferenças de gaªnero surgiram aos 6 anos de idade. A partir de meados dos 40 anos, a diferença de gaªnero diminuiu, principalmente devido a  diminuição das viagens dos homens enquanto as mulheres sustentavam mais sua quilometragem dia¡ria.

Mobilidade humana em um mundo em mudança

Dados espaciais detalhados, como os acumulados neste estudo, ajudara£o a pesquisas comparativas futuras sobre a mobilidade humana, de acordo com os autores. Isso tem ressonância particular a  luz de uma pandemia que fora§ou revisaµes repentinas dos padraµes normais de movimento e aumentou a atenção para os custos e benefa­cios de diferentes hábitos espaciais.


Traªs homens hadza em um mirante em busca de caça, a oeste do Lago Eyasi.
(Crédito da imagem: Brian Wood)

Wood já começou a aplicar as lições técnicas, loga­sticas e cienta­ficas deste estudo a um novo projeto da National Science Foundation destinado a ajudar a identificar prioridades de pesquisa e políticas para preparar os Estados Unidos para futuras pandemias inevita¡veis ​​- em parte medindo a mobilidade e modelando padraµes sociais interação. “O estudo do movimento humano pode ser usado para identificar comunidades em risco de transmissão e disseminação de doena§as”, explicou Wood.

Mesmo quando não estamos em uma pandemia, disse Jones, a mobilidade das pessoas impulsiona a atividade econa´mica, a coesão social e os impactos ambientais. E o ambiente, por sua vez, molda o comportamento espacial. Esse ciclo de feedback estãono cerne de alguns dos padraµes de migração interna que já emergem como uma resposta ao aquecimento global. Amedida que eventos clima¡ticos antes raros se tornam comuns, explicou Jones, os trabalhadores migrantes provavelmente viajara£o distâncias mais longas para trabalhar; mais pessoas se envolvera£o na migração sazonal para buscar trabalho agra­cola ou escapar de furacaµes e secas, e quebras de safra levara£o mais residentes rurais para áreas urbanas.

“Mudar a mobilidade seráuma das principais maneiras de os humanos se adaptarem a um mundo aquecido”, disse Jones. “Saber mais sobre as diferenças de gaªnero e outros impulsionadores de comportamentos espaciais em uma ampla faixa de populações humanas e contextos ecola³gicos nos ajudara¡ a antecipar como essa adaptação funcionara¡ e informara¡ as políticas para gerencia¡-la.”

A pesquisa recebeu financiamento da National Science Foundation, da Leakey Foundation, da Wenner-Gren Foundation, da National Geographic Society, da Yale University, da UCLA e do Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology.

Wood também éafiliado ao Instituto Max Planck de Antropologia Evoluciona¡ria. Os coautores são afiliados ao Instituto Max Planck, a  Arizona State University, a  University of Southern California, a  Duke University, a  University of Chicago, a  University of Roehampton, a  University of Nevada, a  University of Dar es Salaam e a  University of Utah.

 

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