Humanidades

Nem todas as crises banca¡rias envolvem pa¢nico
O estudo mostra que muitos tipos de falaªncias no setor financeiro - não apenas as corridas banca¡rias mais famosas da história - levam a crises econa´micas.
Por Peter Dizikes - 05/02/2021


Historicamente, atémesmo crises banca¡rias “tranquilas” sem pa¢nico do cliente podem causar perdas, levando a desacelerações em toda a economia.

Uma crise banca¡ria éfreqa¼entemente vista como uma profecia que se auto-realiza: a expectativa de falaªncia de um banco faz com que isso acontea§a. Imagine pessoas fazendo fila para sacar seu dinheiro durante a Grande Depressão ou clientes correndo no banco brita¢nico Northern Rock em 2007.

Mas um novo artigo de coautoria de um professor do MIT sugere que estivemos perdendo o panorama geral das crises banca¡rias. Sim, a s vezes hápa¢nico em relação aos bancos que criam problemas de auto-reforço. Mas muitas crises banca¡rias são mais silenciosas: mesmo sem os clientes entrarem em pa¢nico, os bancos podem sofrer perdas graves o suficiente para criar desacelerações subsequentes em toda a economia.

“O pa¢nico não énecessa¡rio para que as crises banca¡rias tenham consequaªncias econa´micas graves”, diz Emil Verner, o professor do MIT que ajudou a conduzir o estudo. “Mas quando ocorrem pa¢nicos, esses tendem a ser os episãodios mais graves. O pa¢nico éum mecanismo de amplificação importante para crises banca¡rias, mas não uma condição necessa¡ria. ”

De fato, em uma pesquisa ambiciosa, abrangendo 46países e remontando a 1870, o estudo analisa crises banca¡rias que ocorreram com e sem pa¢nico. Quando hápa¢nico e corrida aos bancos, conclui a pesquisa, um decla­nio de 30 por cento no patrima´nio do setor banca¡rio prevaª uma queda de 3,4 por cento no PIB real (produto interno bruto ajustado pela inflação) após três anos. Mas, mesmo sem nenhum pa¢nico do credor, uma queda de 30% no patrima´nio dos bancos prevaª uma queda de 2,7% no PIB real após três anos.

Assim, praticamente todas as crises banca¡rias, não apenas os maiores sucessos da história, criam danos macroecona´micos de longo prazo, uma vez que os bancos são menos capazes de fornecer o cranãdito usado para a expansão dos nega³cios.

“As crises banca¡rias costumam vir com recessaµes muito severas”, diz Verner, que éprofessor da turma de desenvolvimento de carreira de 1957 e professor assistente de finana§as na MIT Sloan School of Management.

O artigo, “Banking Crises Without Panics”, foi publicado na edição de fevereiro do Quarterly Journal of Economics . Os autores são Matthew Baron, professor assistente de finana§as na Cornell University; Verner; e Wei Xiong, professor de finana§as e economia da Universidade de Princeton.

Uma abordagem quantitativa rigorosa

Para conduzir o estudo, os pesquisadores construa­ram um novo conjunto de dados de prea§os de ações banca¡rias e dividendos em 46países de 1870 a 2016, usando bancos de dados existentes e adicionando informações de arquivos hista³ricos de jornais. Eles também coletaram prea§os de ações não banca¡rias, informações de spread mensal de cranãdito e informações macroecona´micas, como PIB e inflação.

“As pessoas procuraram historicamente definir e identificar diferentes episãodios de crises banca¡rias, mas não havia uma abordagem quantitativa muito rigorosa para definir esses episãodios”, diz Verner. “Havia um pouco mais de uma abordagem 'saiba quando vocêvir'.”

Os estudiosos que examinam as crises banca¡rias passadas se dividem aproximadamente em dois campos. Um grupo enfocou o pa¢nico, com a implicação de que, se corridas aos bancos pudessem ser evitadas, as crises banca¡rias não seriam tão ruins. Outro grupo examinou mais os ativos banca¡rios e se concentrou nas circunsta¢ncias em que as decisaµes dos bancos levam a grandes perdas - por meio de empréstimos inadimplentes, por exemplo.

“Descemos no meio, em certo sentido”, diz Verner. Os pa¢nicos tornam os problemas banca¡rios piores, mas, mesmo assim, “ha¡ uma sanãrie de exemplos de crises banca¡rias em que os bancos sofreram perdas e reduziram os empréstimos, e as empresas e fama­lias tiveram mais dificuldade em obter acesso ao cranãdito, mas não houve corridas ou pa¢nicos credores. Esses episãodios ainda levaram a resultados econa´micos ruins. ”

Mais especificamente, o olhar atento do estudo para a dina¢mica mensal das crises banca¡rias mostra com que frequência essas circunsta¢ncias são de fato pressagiadas por uma erosão da carteira do banco e pelo reconhecimento desse fato por seus investidores.

“O pa¢nico não vem simplesmente do nada. Eles tendem a ser precedidos pela queda das ações dos bancos ”, diz Verner. “Os investidores em ações do banco reconhecem que o banco vai sofrer perdas com os empréstimos que faz. E o que isso sugere éque os pa¢nicos geralmente são as consequaªncias, e não a causa fundamental, dos problemas que já se acumularam no sistema banca¡rio devido a empréstimos inadimplentes. ”

O estudo também quantifica como a atividade do banco fica prejudicada nessas situações. Depois de crises banca¡rias com pa¢nicos visa­veis envolvidos, o a­ndice manãdio de cranãdito banca¡rio em relação ao PIB foi 5,7 menor após três anos; ou seja, havia menos empréstimos banca¡rios como base para a atividade econa´mica. Quando uma crise banca¡ria “tranquila” se abateu, sem pa¢nico visível, a proporção média do cranãdito banca¡rio em relação ao PIB foi 3,5% menor após três anos.

Trabalho de detetive hista³rico

Verner diz que os pesquisadores estãosatisfeitos por terem "sido capazes de fazer algum trabalho de detetive hista³rico e encontrar alguns episãodios que foram esquecidos". O conjunto expandido de crises do estudo, observa ele, compreende "novas informações que outros pesquisadores já estãousando".

As crises banca¡rias anteriormente ignoradas neste estudo incluem uma confusão de episãodios da década de 1970, as lutas do Canada¡ durante a Grande Depressão e várias falaªncias banca¡rias do século XIX. Os pesquisadores apresentaram versaµes deste estudo a uma sanãrie de formuladores de políticas, incluindo alguns conselhos regionais do Federal Reserve e do Banco de Compensações Internacionais, e Verner também disse que espera que tais autoridades mantenham o trabalho em mente.

“Acho que évalioso no futuro, e não apenas por uma perspectiva hista³rica”, diz ele. “Ter uma ampla amostra em muitospaíses éimportante para reconhecer quais são as lições quando novas crises acontecem.”

Os pesquisadores estãocontinuando suas pesquisas nessa área com mais estudos sobre os padraµes nos empréstimos que os bancos fazem antes de perder valor - por exemplo, identificando os tipos de nega³cios que tem menos probabilidade de pagar os empréstimos banca¡rios. Quando os bancos comea§am a emprestar mais pesadamente a certos tipos de empresas - possivelmente incluindo restaurantes, construção e empresas imobilia¡rias - pode ser um sinal de problema incipiente.

O apoio para a pesquisa foi fornecido, em parte, pelo Cornell Center for Social Sciences e pelo Institute for New Economic Thinking.

 

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