Humanidades

Desenvolvendo uma foto da Frana§a
Catherine Clark usa imagens visuais para mergulhar na história, cultura e sociedade francesas.
Por Peter Dizikes - 14/02/2021


Catherine Clark, professora associada de história e estudos franceses, usa imagens visuais para mergulhar profundamente na história, cultura e sociedade francesas.
Créditos: Imagem: Maggie Shannon

No final dos anos 1940, o famoso fotojornalista francaªs Henri Cartier-Bresson documentou os últimos dias do governo nacionalista da China, antes de Mao Tse-Tung e os comunistas tomarem o poder. Fiel a  forma, Cartier-Bresson produziu imagens impressionantes de um momento hista³rico drama¡tico - como uma multida£o reunida desesperadamente em frente a um banco de Xangai e um grupo de recrutas militares nacionalistas na Cidade Proibida de Pequim.

Em certo sentido, Cartier-Bresson poderia tirar essas fotos porque ele era francaªs. Os EUA apoiaram fortemente os nacionalistas e, sabendo que eram amplamente insultados, praticamente nenhum americano permaneceu na China na anãpoca. Mas um fotojornalista francaªs corajoso mais plausa­vel poderia ficar, e a Frana§a queria permanecer no centro dos assuntos mundiais por meio de tais relacionamentos.

“Os franceses se tornaram corretores de fotos e objetos chineses para o resto do mundo neste período, por causa da geopola­tica da anãpoca”, diz a estudiosa do MIT Catherine Clark.

Portanto, embora as fotos ica´nicas contem uma história, geralmente háuma história por trás delas. Este éo terreno que Clark explora em sua pesquisa: a criação de imagens culturais, seu uso e seu significado paºblico.

“Estou interessado em saber como sabemos as coisas e como o conhecimento éproduzido”, diz Clark, professor associado de história e estudos franceses. “Aterrissei nas imagens como a coisa que mais [me fascina]. Que trabalho as imagens fazem para construir nossas visaµes de mundo? Como ter uma fotografia muda a maneira como pensamos? ” 

Em seu livro de 2018, "Paris e o Clichaª da Hista³ria", Clark mostrou como a fotografia, uma criação francesa, evoluiu junto com a própria Paris - de uma ferramenta que documenta a forma física da cidade a um meio pelo qual os lutadores da resistência da Segunda Guerra Mundial encenam fantasiosas, imagens simba³licas de si mesmas, antecipando como apareceriam para as gerações futuras.

O projeto de livro em andamento de Clark, “Maoist Chinoiseries”, analisa as percepções francesas da China nos anos do pa³s-guerra, interpretando fotos, filmes e atéroupas da moda - jaquetas Mao, alguém ? - no processo. 

“Esse interesse na China éuma espanãcie de construção de impanãrio informal, no sentido de que o acesso privilegiado da Frana§a a  China éuma forma de compensar a perda de impanãrio fa­sico em outros lugares”, diz Clark, que também lidera um projeto de imagem do MIT -Software de reconhecimento para arquivos de fotos e ministrou uma sanãrie de cursos sobre história e cultura francesa e europeia.

“a‰ por isso que gosto muito de trabalhar no MIT. Estou interessado em muitas coisas diferentes e em como elas podem se unir e formar um todo, e acho que vocêvaª isso em minha pesquisa ”, diz Clark. “Tenho interesses variados, mas háuma preocupação central que estãosendo resolvida.”

Por sua bolsa de estudos e ensino, Clark foi premiado com o mandato do MIT no ano passado.

Um mundo diferente

Enquanto crescia, Clark mudou-se com frequência pelos Estados Unidos, frequentando o colanãgio em Utah, enquanto descobria que ela tinha algumas afinidades consistentes.

Para comea§ar, Clark diz: “Sempre me interessei por história”. Por outro lado, ela se saiu bem nas aulas de francaªs.

“O francaªs era uma forma de ser outra pessoa e ter um caminho para um mundo totalmente diferente”, acrescenta. “Quando eu estava na faculdade, esses dois interesses se encontraram e percebi que poderia estudar história da Frana§a e usar a la­ngua como uma porta de entrada para conhecer outro lugar.”

Clark recebeu seu diploma de graduação com especialização em história e especialização em francaªs pelo Swarthmore College em 2004, e um mestrado em estudos culturais franceses na Universidade de Columbia um ano depois. Depois de um período de trabalho na Frana§a, ela se matriculou no programa de pós-graduação em história na University of Southern California, recebendo um mestrado em 2009 e seu doutorado em 2012. Clark lecionou na University of St. Andrews e na University of Southern Mississippi antes de ingressar o corpo docente do MIT.

O trabalho de Clark se enquadra em um subcampo da história conhecido como “história e memória”, que ganhou força nas últimas décadas. Inicialmente, muitos estudos nessa área enfocaram o Holocausto, a Segunda Guerra Mundial e a lembrana§a pública dessas cata¡strofes. Isso certamente interessa a Clark, mas seu pra³prio trabalho aplicou a abordagem de forma mais ampla.

“O que surgiu de uma preocupação pola­tica especa­fica para mim émais amplo agora”, diz Clark. Seu livro sobre Paris traz mais de um século de transformações na relação entre a cidade, a fotografia e a história.

No século 19, por exemplo, muitas fotos de Paris tinham uma finalidade estritamente documental, mas após a Primeira Guerra Mundial, tornaram-se objetos de nostalgia, evocando tempos melhores. Na década de 1950, com a cidade em relativo abandono fa­sico, as fotos se concentraram mais nas classes trabalhadoras de Paris; o livro termina no ini­cio dos anos 1970, quando a cidade sancionou um concurso de fotografia amadora com 100.000 inscrições.

Surpreendentemente, Clark olhou para cerca de 15.000 dessas fotos. Mas nenhum estudioso tem tempo para um arquivo inteiro desse tamanho. Essa éuma das razões pelas quais Clark fundou o projeto “This Was Paris in 1970” no MIT, como bolsista do outono de 2020 com os Programas do MIT em Humanidades Digitais. Clark e um grupo interdisciplinar de alunos tem aplicado técnicas de aprendizado de ma¡quina para ajudar acadaªmicos a pesquisar arquivos de fotos.  

“Nãoacho que um computador seja melhor do que eu para ver uma imagem ou 25 imagens ou 200 imagens, mas um computador émelhor do que eu para ver 100.000 imagens”, diz Clark. “Os alunos trabalharam muito para tornar isso possí­vel.”

Tomando banho na cultura

Clark também estãofazendo uma abordagem ampla para seu livro sobre a Frana§a e a China comunista após 1949. Alguns trabalhos acadaªmicos nesta área se concentraram em intelectuais franceses de esquerda afiliados ao jornal Tel Quel , que endossou o maoa­smo nos anos 1970. Algumas dessas figuras, incluindo o ensaa­sta Roland Barthes e a acadaªmica Julia Kristeva, chegaram a fazer uma viagem de destaque em meados da década de 1970 para a China, antes de finalmente se separar do maoa­smo.

Clark não estãoignorando esses pensadores, mas seu livro tem uma lente mais ampla, examinando as percepções da China na cultura popular, transmitidas por muitos artefatos culturais.

“Isso vai nos falar sobre a cultura em que eles estãose banhando e sobre o envolvimento pola­tico de muitos tipos de pessoas”, diz Clark.

Isso inclui um estudo das fotos de Cartier-Bresson, projetos de filmes e, sim, atéjaquetas Mao, um verdadeiro item da ca¡psula do tempo dos anos 1970 que foi reexportado para o mundo por La Compagnie Frana§aise de l'Orient et de la Chine, uma operação parisiense fundada pelo empresa¡rio Frana§ois Dautresme.

“Se vocêquer seu chapanãu de palha ou sua jaqueta Mao, vocêestãocomprando da Bloomingdale's, que comprou de Frana§ois Dautresme”, diz Clark.

Tudo isso, enfatiza Clark, estãovinculado ao fato de que a Frana§a, com suas cola´nias se libertando, estava “tentando se posicionar como uma terceira via entre o comunismo e os Estados Unidos ... e tentando compensar seu papel cada vez menor no mundo. ”

Afinal, para compreender verdadeiramente a cultura visual, éútil ter uma visão mais ampla.

 

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