Humanidades

Rela­quia antiga aponta para um ponto de viragem na história da Terra há42.000 anos
Este ponto de virada drama¡tico na história da Terra - misturado com tempestades elanãtricas, auroras generalizadas e radiaa§a£o ca³smica - foi desencadeado pela reversão dos pa³los magnanãticos da Terra emudanças nos ventos solares.
Por University of New South Wales - 18/02/2021


Caverna El Castillo, Espanha - os pontos vermelhos no centro desta imagem são a arte rupestre mais antiga conhecida na Europa e foram feitas háquase 42.000 anos. As marcas de ma£os em ocre vermelho são um motivo comum - e são sugeridas para representar o uso de uma forma antiga de protetor solar. Crédito: Paul Pettitt, Gobierno de Cantabria

O colapso tempora¡rio do campo magnético da Terra há42.000 anos desencadeou grandesmudanças climáticas que levaram a  mudança ambiental global e extinções em massa, mostra um novo estudo internacional coliderado pela UNSW Sydney e pelo South Australian Museum.

Este ponto de virada drama¡tico na história da Terra - misturado com tempestades elanãtricas, auroras generalizadas e radiação ca³smica - foi desencadeado pela reversão dos pa³los magnanãticos da Terra emudanças nos ventos solares.

Os pesquisadores apelidaram esse período de perigo de 'Evento Geomagnético de Transição de Adams', ou 'Evento de Adams', para abreviar - um tributo ao escritor de ficção cienta­fica Douglas Adams, que escreveu no Guia do Mochileiro das Gala¡xias que '42' era a resposta para a vida, o universo e tudo mais.

As descobertas foram publicadas hoje na Science.

"Pela primeira vez, pudemos datar com precisão o tempo e os impactos ambientais da última troca de pa³lo magnético ", disse Chris Turney, professor da UNSW Science e co-autor do estudo.

"As descobertas foram possa­veis com as antigas a¡rvores Kauri da Nova Zela¢ndia, que foram preservadas em sedimentos por mais de 40.000 anos.

"Usando as a¡rvores antigas, pudemos medir e datar o pico nos na­veis de radiocarbono atmosfanãrico causado pelo colapso do campo magnético da Terra ."

Embora os cientistas já conhecessem os pa³los magnanãticos temporariamente invertidos por volta de 41-42.000 anos atrás (conhecido como 'Excursão de Laschamps'), eles não sabiam exatamente como isso afetava a vida na Terra - se éque o fazia.

Mas os pesquisadores foram capazes de criar uma escala de tempo detalhada de como a atmosfera da Terra mudou ao longo desse tempo, analisando ananãis nas antigas a¡rvores Kauri.

"As a¡rvores Kauri são como a Pedra de Roseta, ajudando-nos a unir registros demudanças ambientais em cavernas, núcleos de gelo e turfeiras ao redor do mundo", disse o co-lider Professor Alan Cooper, Pesquisador Honora¡rio do South Australian Museum.

Os pesquisadores compararam a escala de tempo recanãm-criada com registros de locais em todo o Paca­fico e usaram-na na modelagem climática global, descobrindo que o crescimento das camadas de gelo e geleiras sobre a Amanãrica do Norte e grandesmudanças nos principais cinturaµes de vento e sistemas de tempestades tropicais podem ser rastreados para o evento Adams.
 
Uma das primeiras pistas foi que a megafauna na Austra¡lia continental e na Tasma¢nia passou por extinções simulta¢neas há42.000 anos.

"Isso nunca pareceu certo, porque foi muito depois da chegada dos abora­genes, mas na mesma anãpoca que o ambiente australiano mudou para o estado a¡rido atual", diz o Prof. Cooper.

O artigo sugere que o Evento de Adams poderia explicar muitos outros mistanãrios evolutivos, como a extinção dos Neandertais e o saºbito aparecimento generalizado da arte figurativa em cavernas ao redor do mundo.

"a‰ a descoberta mais surpreendente e importante em que já estive envolvido", disse o Prof. Cooper.

A tempestade (ca³smica) perfeita

O pa³lo norte magnético - isto anã, a direção para a qual a agulha da baºssola aponta - não tem uma localização fixa. Geralmente oscila perto do Pa³lo Norte (o ponto mais ao norte do eixo da Terra) ao longo do tempo devido a movimentos dina¢micos dentro do núcleo da Terra, assim como o pa³lo sul magnanãtico.

Usando um antigo tronco de a¡rvore kauri de Ngāwhā, Nova Zela¢ndia, os cientistas dataram
o momento e os impactos ambientais da última troca de pa³lo magnanãtico.
Crédito: Nelson Parker (nelsonskaihukauri.co.nz)

a€s vezes, por motivos que não são claros, os movimentos dos pa³los magnanãticos podem ser mais dra¡sticos. Por volta de 41.000-42.000 anos atrás, eles trocaram inteiramente de lugar.

"A Excursão de Laschamps foi a última vez que os pa³los magnanãticos inverteram", diz o Prof. Turney. "Eles trocaram de lugar por cerca de 800 anos antes de mudar de ideia e trocar de lugar novamente."

Atéagora, a pesquisa cienta­fica se concentrava nasmudanças que aconteciam enquanto os pa³los magnanãticos eram invertidos, quando o campo magnético estava enfraquecido para cerca de 28% de sua força atual.

Mas, de acordo com as descobertas da equipe, a parte mais drama¡tica foi a preparação para a reversão, quando os pa³los estavam migrando pela Terra.

"O campo magnético da Terra caiu para apenas 0-6 por cento de força durante o evento Adams", disse o Prof. Turney.

"Essencialmente, não ta­nhamos nenhum campo magnético - nosso escudo de radiação ca³smica havia sumido totalmente."

Durante a quebra do campo magnanãtico, o Sol experimentou vários 'Grandes Ma­nimos Solar' (GSM), períodos de longa duração de silenciosa atividade solar.

Mesmo que um GSM signifique menos atividade nasuperfÍcie do Sol, o enfraquecimento de seu campo magnético pode significar mais clima espacial - como erupções solares e raios ca³smicos gala¡cticos - poderiam dirigir o caminho da Terra.

"A radiação não filtrada do espaço separou aspartículas de ar da atmosfera da Terra, separando elanãtrons e emitindo luz - um processo chamado ionização", diz o Prof. Turney.

"O ar ionizado 'fritou' a camada de oza´nio, desencadeando uma onda demudanças climáticas em todo o globo."

Nas cavernas

Espeta¡culos de luz deslumbrantes teriam sido frequentes no canãu durante o evento Adams.

Aurora boreal e aurora australis, também conhecidas como luzes do norte e do sul, são causadas pelos ventos solares que atingem a atmosfera terrestre.

Normalmente confinado a s partes polares norte e sul do globo, os pontos tura­sticos coloridos teriam se espalhado durante a quebra do campo magnético da Terra.

"Os primeiros humanos ao redor do mundo teriam visto auroras incra­veis, vanãus e lena§a³is brilhantes no canãu", diz o Prof. Cooper.

O ar ionizado - que éum a³timo condutor de eletricidade - também teria aumentado a frequência das tempestades elanãtricas.

“Deve ter parecido o fim dos dias”, diz o Prof. Cooper.

Os pesquisadores teorizam que as drama¡ticasmudanças ambientais podem ter feito com que os primeiros humanos buscassem mais abrigo. Isso pode explicar o saºbito surgimento da arte rupestre em todo o mundo hácerca de 42.000 anos.

"Achamos que os aumentos bruscos nos na­veis de UV, especialmente durante as explosaµes solares, de repente tornariam as cavernas abrigos muito valiosos", disse o Prof. Cooper. "O motivo comum da arte das cavernas de impressaµes de ma£os em ocre vermelho pode sinalizar que estava sendo usado como protetor solar, uma técnica usada ainda hoje por alguns grupos.

"As imagens incra­veis criadas nas cavernas durante este tempo foram preservadas, enquanto outras obras de arte em áreas abertas sofreram erosão, fazendo parecer que a arte começou repentinamente há42.000 anos."

Descobrindo pistas antigas

Essas descobertas ocorrem dois anos depois que uma a¡rvore kauri antiga particularmente importante foi descoberta em Ngāwhā, Northland.

A enorme a¡rvore - com um tronco medindo mais de dois metros e meio - estava viva durante o Laschamps.

"Como outras toras de kauri sepultadas, a madeira da a¡rvore Ngāwhā estãotão bem preservada que a casca ainda estãopresa", diz o Dr. Jonathan Palmer da UNSW, especialista em datação de ananãis de a¡rvores (dendrocronologia). O Dr. Palmer estudou seções transversais das a¡rvores no Chronos 14Carbon-Cycle Facility da UNSW Science.

Usando datação por radiocarbono - uma técnica para datar rela­quias ou eventos antigos - a equipe rastreou asmudanças nos na­veis de radiocarbono durante a reversão do pa³lo magnanãtico. Esses dados foram mapeados ao lado dos ananãis de crescimento anual das a¡rvores, que funcionam como um registro de data e hora natural e preciso.

A nova escala de tempo ajudou a revelar a imagem desse período drama¡tico da história da Terra. A equipe conseguiu reconstruir a cadeia de eventos ambientais e de extinção usando modelagem climática.

“Quanto mais olha¡vamos os dados, mais tudo apontava para 42”, diz o Prof. Turney. "Foi estranho.

"Douglas Adams estava claramente no caminho certo, afinal."

Um acelerador como nenhum outro

Embora os pa³los magnanãticos frequentemente divaguem, alguns cientistas estãopreocupados com o rápido movimento atual do pa³lo magnético norte atravanãs do hemisfanãrio norte.

"Esta velocidade - junto com o enfraquecimento do campo magnético da Terra em cerca de nove por cento nos últimos 170 anos - pode indicar uma reversão iminente", diz o Prof. Cooper.

"Se um evento semelhante acontecesse hoje, as consequaªncias seriam enormes para a sociedade moderna. A radiação ca³smica recebida destruiria nossas redes de energia elanãtrica e de satanãlite."

O professor Turney diz que a crise climática induzida pelo homem écatastra³fica o suficiente sem lana§ar grandesmudanças solares ou uma reversão de pa³lo na mistura.

“Nossa atmosfera já estãocheia de carbono em na­veis nunca vistos pela humanidade antes”, diz ele. “Uma reversão do pa³lo magnético ou uma mudança extrema na atividade do Sol seriam aceleradores da mudança climática sem precedentes.

"Precisamos urgentemente reduzir as emissaµes de carbono antes que tal evento aleata³rio acontea§a novamente."

 

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