Humanidades

Mimes nos ajudam a 'ver' objetos que não existem
Os pesquisadores usam técnicas de ma­mica para entender melhor a visão e a percepa§a£o, descobrindo que objetos esuperfÍcies impla­citos, como paredes ou caixas, podem ser
Por Jill Rosen - 07/04/2021


Getty Images

Quando vemos um ma­mico puxar corda, subir degraus ou tentar escapar daquela caixa infernal, não lutamos para reconhecer os objetos impla­citos - nossas mentes os "veem" automaticamente, conclui um novo estudo.

Para explorar como a mente processa os objetos com os quais os ma­micos parecem interagir, os cientistas cognitivos da Universidade Johns Hopkins trouxeram a arte da ma­mica para o laboratório, concluindo quesuperfÍcies invisa­veis impla­citas são representadas rápida e automaticamente. O trabalho aparece na revista Psychological Science .

"Na maioria das vezes, sabemos quais objetos estãoao nosso redor porque podemos apenas vaª-los diretamente. Mas o que exploramos aqui foi como a mente constra³i automaticamente representações de objetos que não podemos ver, mas que sabemos que devem estar la¡ por causa de como eles estãoafetando o mundo ", disse o autor saªnior Chaz Firestone , um professor assistente que dirige o Laborata³rio de Percepção e Mente da universidade. "Isso ébasicamente o que os ma­micos fazem. Eles podem nos fazer sentir como se estivanãssemos cientes de algum objeto apenas parecendo interagir com ele."

Nos experimentos, 360 pessoas foram testadas online. Eles assistiram a clipes onde um personagem (o pra³prio Firestone) simulou colidir com uma parede e pisar em uma caixa de uma forma que sugeria que aqueles objetos estavam la¡, apenas invisa­veis. Posteriormente, uma linha preta apareceu no local da tela onde asuperfÍcie impla­cita estaria. Essa linha pode ser horizontal ou vertical, portanto, corresponde ou não a  orientação dasuperfÍcie que acabou de ser imitada. Os participantes tiveram que responder rapidamente se a linha era vertical ou horizontal. A equipe descobriu que as pessoas responderam significativamente mais rápido quando a linha se alinhou com a parede ou caixa simulada, sugerindo que asuperfÍcie impla­cita estava ativamente representada na mente - tanto que afetou as respostas a superfÍcie real que os participantes viram imediatamente depois.

Os participantes foram instrua­dos a não prestar atenção a  ma­mica, mas eles não podiam deixar de ser influenciados por essassuperfÍcies impla­citas, disse o autor principal Pat Little, que fez o trabalho como estudante de graduação na Johns Hopkins e agora éestudante de graduação na New York University.

"Muito rapidamente as pessoas percebem que o ma­mico as estãoenganando e que não háconexão real entre o que a pessoa faz e o tipo de fala que aparece", disse Little. "Eles pensam: 'Eu deveria ignorar isso porque estãome atrapalhando', mas eles não podem. Essa éa chave. Parece que nossas mentes não podem deixar de representar asuperfÍcie com a qual o ma­mico estãointeragindo - mesmo quando nosnão queremos. "

O trabalho éparcialmente inspirado por um fena´meno em psicologia chamado Efeito Stroop, onde o nome de uma cor éescrito com tinta de uma cor diferente (por exemplo, a palavra "vermelho" éescrita com tinta azul); quando uma pessoa recebe a tarefa de dizer a cor da tinta (azul), ela não consegue deixar de ler o texto incompata­vel (vermelho), o que a distrai e a retarda. Nesse sentido, fazer ma­mica écomo ler: assim como vocênão pode deixar de ler o texto que vaª (mesmo quando deveria ignora¡-lo), vocênão pode deixar de reconhecer o objeto que estãosendo imitado, mesmo quando estãosendo no caminho de outra tarefa.

Embora possa parecer que as descobertas diminuem o trabalho dos ma­micos - uma vez que sugere que nossos cérebros va£o imaginar esses objetos automaticamente - os pesquisadores insistem que os ma­micos ainda merecem cranãdito.

"Isso sugere que a ma­mica pode ser diferente de outros tipos de atuação", disse Little. "Se o ma­mico for habilidoso o suficiente, entender o que estãoacontecendo não exige nenhum esfora§o - vocêapenas entende automaticamente."

As descobertas também podem informar a inteligaªncia artificial relacionada a  visão.

“Se vocêestãotentando construir um carro auta´nomo que pode ver o mundo e contornar objetos, vocêdeseja dar a ele todas as melhores ferramentas e truques”, disse Firestone. "Este estudo sugere que, se vocêdeseja que a visão de uma ma¡quina seja tão sofisticada quanto a nossa, não ésuficiente que ela identifique os objetos que pode ver diretamente - ela também precisa da capacidade de inferir a existaªncia de objetos que nem mesmo são visa­veis em absoluto."

 

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