Humanidades

Estudo de Stanford identifica outra explicação para o 'praªmio do casamento'
Florencia Torche, socia³loga de Stanford, revela evidaªncias empa­ricas para mostrar que os benefa­cios do casamento para o desenvolvimento infantil derivam não apenas das caracteri­sticas individuais dos ca´njuges e de suas circunsta¢ncias.
Por Krysten Crawford - 14/04/2021

Algo grande estãoacontecendo com os bebaªs no Chile - e estãono centro de um estudo aºnico sobre o que significa nascer de pais casados ​​e não casados.


Um novo estudo coautor da socia³loga de Stanford Florencia Torche investiga uma questãofundamental sobre os efeitos do casamento no desenvolvimento infantil e o papel da sociedade em promovaª-los. (Crédito da imagem: Getty Images)

No Chile, a proporção de nascimentos entre mulheres com base em seu estado civil mudou drasticamente nos últimos 30 anos. Hoje em dia, mais mulheres solteiras da£o a  luz em relação a mulheres casadas. Embora essa tendaªncia tenha ocorrido na maior parte do mundo ocidental, a queda foi especialmente acentuada no Chile.

Isso permitiu que Florencia Torche , professora de sociologia da Escola de Humanidades e Ciências da Universidade de Stanford, e Alejandra Abufhele da Universidade Cata³lica do Chile, investigassem uma questãofundamental sobre os efeitos do casamento no desenvolvimento infantil e o papel da sociedade em promovaª-los.

Os cientistas sociais hámuito sabem que a prole de casais casados ​​tem vantagens significativas para a vida toda sobre os filhos de ma£es solteiras, incluindo melhor saúde física e mental, na­veis mais altos de educação e rendas mais altas. A pesquisa sobre esse “praªmio do casamento” identificou a multiplicidade de diferenças individuais - em raça, status socioecona´mico, personalidade, entre outras caracteri­sticas - para explicar as discrepa¢ncias entre filhos de pais casados ​​e solteiros.

Mas e quanto ao papel da sociedade? Quando se trata do praªmio do casamento e do desenvolvimento infantil, a influaªncia da sociedade sempre fez parte da conversa, mas as suposições sobre seu impacto não foram comprovadas.

“A questãoda instituição do casamento - quanto normativo ou aceito édentro da sociedade - e como isso pode afetar o praªmio do casamento tem sido curiosamente ausente como um foco de pesquisa”, disse Torche, cuja pesquisa enfoca a desigualdade e o bem-estar entre gerações, incluindo os efeitos da exposição na infa¢ncia a choques como desastres naturais , conflitos armados e repressão a  imigração .

Torche e Abufhele viram no Chile uma “oportunidade única e excepcional” para enfrentar essa questãode frente. Em um artigo publicado em 14 de abril no American Journal of Sociology , a dupla detalha evidaªncias impressionantes de que as percepções sociais do matrima´nio também contribuem para o praªmio do casamento.

“Como o casamento perdeu seu status normativo no Chile, o praªmio de casamento para filhos também diminuiu a ponto de desaparecer totalmente”, disse Torche. “Nossa análise desse decla­nio mostra que o status do casamento na sociedade éimportante.”

Os pesquisadores dizem que suas descobertas não descartam o papel que os pais e suas circunsta¢ncias conjugais contribuem para o casamento - simplesmente não étudo. “Ambos os fatores são importantes”, disse Torche. “As caracteri­sticas individuais são importantes e atéque ponto o casamento éuma norma em uma sociedade também importa.”

Uma visão nova e impressionante

No Chile, o casamento mudou de norma para exceção em uma geração - uma rápida reversão da sorte que também foi abrangente e mensura¡vel: a proporção de nascimentos entre mulheres casadas caiu de 66 por cento em 1990 para 27 por cento em 2016. Além do mais, no ini­cio Na década de 1990, bebaªs nascidos de ma£es casadas tinham uma vantagem considera¡vel sobre os recanãm-nascidos de fora do casamento, pois eram menos propensos a nascer com baixo peso, prematuros ou pequenos para a idade gestacional. Mas, em meados da década de 2010, essa vantagem era insignificante no caso de baixo peso ao nascer, havia desaparecido completamente no nascimento prematuro e diminua­do em cerca de dois tera§os para o nascimento pequeno para a idade gestacional.

“Descobrimos que essa mudança não se deveu a diferenças demogra¡ficas ou socioecona´micas entre ma£es casadas e solteiras ou ao aumento da coabitação”, disse Torche.

Essa conclusão foi apoiada pelos resultados de duas análises adicionais que os pesquisadores realizaram: Primeiro, eles analisaram os nascimentos por estado civil e saúde infantil em todas as regiaµes do Chile. No segundo, eles estudaram os resultados de saúde entre irmãos cuja ma£e era solteira ao dar a  luz um filho e casada ao dar a  luz outro.

As três análises foram projetadas para se complementar. “Sempre existe o risco de haver diferenças entre as mulheres que se casam antes de ter filhos e as que não o fazem, o que não podemos observar nos dados”, disse Torche. Os dados da certida£o de nascimento em que Torche e Abufhele confiaram não continham informações sobre, por exemplo, diferenças de personalidade ou condições de saúde que pudessem explicar por que o praªmio de casamento desapareceu com o tempo. Ao analisar irmãos de uma mesma ma£e nascidos em diferentes estados maritais, os autores descartaram essas e outras caracteri­sticas não mensuradas.

Os pesquisadores descobriram que, em todas as três medidas, os resultados foram semelhantes: a  medida que as opiniaµes sobre o casamento no Chile mudavam, os recanãm-nascidos de ma£es solteiras eram, em média, tão sauda¡veis ​​quanto os de mulheres casadas.

“Ao triangular evidaªncias de fertilidade conjugal e saúde infantil ao longo do tempo, entre lugares e entre irmãos, oferecemos evidaªncias consistentes de que a prevalaªncia do casamento na sociedade também influencia o valor do casamento”, disse Torche.

De acordo com Torche, a conclusão geral - que a sociedade em geral pode reforçar o praªmio do casamento - éimportante para a formulação de políticas. Qualquer grupo considerado fora da norma, como pais solteiros ou não heterossexuais, pode enfrentar estigmatização ou mesmo discriminação por parte de familiares, colegas de trabalho, vizinhos e instituições. Para ma£es solteiras, pode levar a na­veis mais elevados de estresse, que éconhecido por prejudicar o desenvolvimento fetal, ou a sentimentos de vergonha que as impedem de buscar apoio. Quando isso acontece, o praªmio do casamento éreforçado.

“Na hora de criar e implementar políticas sociais, precisamos estar atentos para que as caracteri­sticas não normativas ou status das pessoas que se destinam a ajudar não sejam retratadas como um problema”, disse Torche. “Além de prejudicar os indiva­duos, limita o que as políticas podem alcana§ar”.

 

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