Professora Silvia Colello, da Faculdade de Educaça£o da USP, lana§a “Alfabetizaa§a£o osO Quaª, Por Quaª e Comoâ€

“O desafio dos educadores na sociedade contempora¢nea, mais do que alfabetizar, éinvestir na constituição do sujeito leitor e escritor, incorporando na sua prática o significado polatico da formação humanaâ€, escreve a professora Silvia Colello osFoto Ilustrativa
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“Na escola, a ruptura de vanculos anã, muitas vezes, dada pela fragilidade da escuta ao aluno, pela desconsideração de suas expectativas, pela pouca clareza sobre suas condições de aprender e de se integrar no grupo; enfim, pelo abandono pedaga³gico. O aluno que não se vaª em condições de acompanhar as demandas da escola e de ser aceito pela comunidade estudantil esta¡, antecipadamente, condenado aos problemas de aprendizagem e ao risco de marginalização social.â€
Esse éum trecho do livro Alfabetização osO Quaª, Por Quaª e Como, da professora Silvia Gasparian Colello, da Faculdade de Educação da USP. Publicada pela Summus Editorial, a obra foi lana§ada nesta quinta-feira, dia 29, numa live em que autora conversou com a pedagoga Elaine Gomes Vidal.
No livro, Silvia Colello considera que a alfabetização não pode ser vista meramente como a transmissão meca¢nica da habilidade de ler e escrever. Antes, deve estar relacionada com a mais ampla formação do aluno e sua inserção na sociedade em que vive. Para isso, énecessa¡rio recorrer a s concepções de langua, de ensino e de aprendizagem que, trazidas a luz por pesquisadores de várias áreas do conhecimento oscomo a linguastica, a sociologia e a psicologia -, contribuem para a prática pedaga³gica.
De acordo com Silvia, quando a langua étomada como um ca³digo fixo ou um mecanismo de expressão osa mera transposição de uma ideia para o papel -, a escrita passa a ser concebida como um objeto monola³gico e inflexavel, desvinculado dos propósitos comunicativos e do contexto da interlocução. “Na autonomia do texto que, uma vez fixado em um suporte (tela ou papel), supostamente se explica por si são, háum inevita¡vel processo de exclusão do leitor, como se de fato ele não fizesse parte da situação comunicativa ou da construção de sentidosâ€, escreve a professora. “As consequaªncias dessa condição aparecem com frequência na forma de descomprometimento do aluno, dificuldades de aprendizagem, prejuazo dos hábitos de leitura, rejeição ao status de leitor e escritor (como éo caso do ‘aluno copista’), analfabetismo de resistência, fracasso escolar e prática s linguasticas limitadas que sustentam o analfabetismo funcional.â€
Uma prática bem diferente dessa concepção se da¡ quando a escrita évista como “manifestação discursivaâ€, que acontece numa “situação de encontro e de interaçãoâ€, como sugerido pelo pensador russo Mikhail Bakhtin (1895-1975). “Nesse caso, a langua se constitui na relação entre pessoas que, pela negociação de sentidos, participam ativamente da construção linguastica, entendendo-a como espaço de efetiva comunicaçãoâ€, explica Silvia. “Admitir a natureza diala³gica da escrita paµe em evidência sua dimensão sociocultural, isto anã, o fato de que ler e escrever são fazem sentido em um universo contextualizado, em função de determinadas condições de produção e de interpretação.†Para a professora, as prática s de escrita são legitimadas por “propa³sitos sociais†e pelos “modos do dizer historicamente situadosâ€. Daa que, mais do que aprender o funcionamento do sistema da escrita, énecessa¡rio “aprofundar a inserção do sujeito no contexto das prática s letradas do seu mundoâ€.

Capa do livro Alfabetização, da professora Silvia Colello
 Foto: Reprodução
No que se refere a dimensão cognitiva da alfabetização, Silvia Colello destaca as pesquisas do suiço Jean Piaget (1896-1980). Elas revelam o comportamento ativo das criana§as, que desejam compreender o mundo e para isso buscam informações, criam hipa³teses, antecipam resultados, testam concepções, enfrentam conflitos e constroem conhecimento. “No caso da escrita, trata-se de um processo que, de modo singular, coloca o aluno diante de diferentes frentes de construção cognitiva: usos da escrita, relações entre imagem e texto, oralidade e escrita, dialetos e escrita, gêneros textuais e suportes da escritaâ€, exemplifica a professora.
Silvia acrescenta que compreender o processo cognitivo impaµe a necessidade de se rever as prática s de ensino, nem sempre preparadas para lidar com a sua complexidade. “Por isso, cumpre criar um espaço cognitivamente provocativo, socialmente contextualizado e pessoalmente sedutor, um espaço capaz de conciliar propósitos comunicativos (usos sociais da escrita) e dida¡ticos (saberes sobre a escrita).â€
Alfabetizar com vistas a plena interação do educando com o mundo ose não ao mero domanio de um ca³digo osexige uma escola com caracteristicas especaficas, que Silvia elenca: um ensino que possa trazer o mundo para a sala de aula e, ao mesmo tempo, tornar a escola insta¢ncia significativa no contexto de vida, professores capazes de lidar com diferentes caminhos de produção e interpretação, dialogando com seus alunos e ampliando os mecanismos de interação e comunicação, e atividades linguasticas baseadas na ampliação de competaªncias do ouvir e falar, ler e escrever. “Nesse sentido, o desafio dos educadores na sociedade contempora¢nea, mais do que alfabetizar, éinvestir na constituição do sujeito leitor e escritor, incorporando na sua prática o significado polatico da formação humana.â€
Com 216 pa¡ginas, o livro da professora Silvia traz uma novidade: no apaªndice, atravanãs de QR codes, o leitor tem acesso a materiais complementares ostextos, entrevistas, videoaulas e podcasts, por exemplo osrelacionados aos temas abordados em cada capatulo.