O aumento dos prea§os ao consumidor éprovavelmente tempora¡rio e devido ao aumento da demanda e problemas de oferta, disse o professor de nega³cios

Alberto F. Cavallo, Ph.D. '10, éProfessor Associado da Famalia Edgerley de Administração de Empresas na Harvard Business School. Foto de Stu Rosner
Se vocêtentou comprar quase tudo, desde mantimentos atépassagens aanãreas, não ésurpresa que os prea§os estejam subindo. Mas muitos analistas ficaram surpresos quando o Bureau of Labor Statistics divulgou seu andice de Prea§os ao Consumidor (IPC) no inicio desta semana, mostrando que os prea§os subiram 4,2% em abril em relação ao ano anterior, um aumento muito mais acentuado do que os economistas esperavam 3,6%.
Mesmo quando alimentos ba¡sicos como alimentos e energia, commodities que flutuam no prea§o maªs a maªs, foram retirados da equação do IPC, os prea§os subiram 3 por cento desde 2020 e subiram 0,9 por cento apenas entre mara§o e abril, algo que não acontecia desde 1982 Os aumentos e quedas de prea§os são um fato rotineiro nas economias de mercado livre. Mas quando sobem abruptamente ou se aproximam de naveis que atrapalham os gastos do consumidor, a inflação pode desencadear todos os tipos de efeitos indiretos, o que pode significar problemas para a recuperação econa´mica dos EUA.
Alberto F. Cavallo, Ph.D. '10, Edgerley Family Associate Professor of Business Administration na Harvard Business School , estuda a polatica macroecona´mica e as implicações da medição das flutuações de prea§os nas economias ao redor do mundo. Desde o inicio de 2020, ele tem se concentrado em como o COVID afetou os prea§os ao consumidor, com base nos dados de gastos do Opportunity Insights , uma iniciativa de pesquisa dirigida pelo economista de Harvard Raj Chetty. Cavallo conversou sobre o que estãolevando os prea§os para cima, atéonde eles ainda podem ir e o que a COVID revelou sobre a economia dos Estados Unidos.
Perguntas & Respostas
Alberto F. Cavallo
Em mara§o de 2020, no inicio da pandemia, vocêargumentou que os consumidores estavam experimentando uma taxa de inflação mais alta do que a captada pelo IPC. Então, esse aumento de 4,2% na taxa desde abril de 2020 égenuinamente novo e surpreendente, como muitos sugeriram? E por que os prea§os estãosubindo acentuadamente quando a demanda estãoalta e muitas indaºstrias parecem ter se adaptado ao COVID?
CAVALLO: Venho investigando desde o ano passado essa questãoda medição da inflação durante o COVID. A COVID mudou drasticamente a maneira como gasta¡vamos, principalmente durante os bloqueios. O CPI éconstruado de forma que os pesos atribuados a cada categoria de consumo não sejam atualizados com frequência. Durante 2020, ainda esta¡vamos usando os pesos atribuados em 2019, e isso significava que não refletia corretamente a experiência real de inflação mais alta que as pessoas tiveram atémara§o de 2020. Mas esse era um problema de medição tempora¡rio. Os pesos foram atualizados em dezembro de 2020.
Nãoéuma coisa nova que aconteceu nos últimos meses, como refletem as estatasticas oficiais. Algumas pessoas, especialmente as de baixa renda, tem experimentado naveis de inflação mais altos por vários meses. A inflação dos alimentos foi particularmente alta durante o COVID e, tradicionalmente, as famalias de baixa renda gastam relativamente mais com alimentos.
Por que estamos vendo mais inflação agora? Existem basicamente três fatores. Um são os chamados "efeitos de base". O Bureau of Labor Statistics calcula uma taxa de inflação anual [comparando] os prea§os de hoje com os prea§os de 12 meses atrás. Doze meses atrás, esta¡vamos no meio da crise; os prea§os estavam caindo. No IPC oficial, eles eram particularmente baixos, então a taxa de inflação anual parece mais alta agora. Isso provavelmente aumenta a taxa de inflação anual em cerca de um ponto percentual. Se não tivanãssemos isso, estaraamos mais perto de três por cento. Ainda assim, éum efeito tempora¡rio. Nãoétoda a história.
[Os consumidores] estãovendo mais inflação agora por causa de dois outros fatores: interrupções no fornecimento e demanda, que estãoaumentando. Ninguanãm pode realmente medir as interrupções no fornecimento no varejo, então temos monitorado o número de “faltas de estoque†online em grandes varejistas. Construamos essas sanãries temporais que medem rupturas tempora¡rias de estoque, que são quando o site mostra “este item estãoesgotadoâ€, mas deve estar voltando. E então, estamos medindo o que chamamos de “falta de estoque†permanente, que équando o item desaparece completamente das lojas. O que descobrimos éque tivemos um pico de rupturas tempora¡rias de estoque em abril de 2020. As rupturas tempora¡rias de estoque passaram de cerca de 15% de todos os itens na loja, que éonívelnormal que vaamos antes da pandemia, para mais de 25% . E então houve um declanio gradual ao longo do tempo. Parece que estamos voltando ao normal em termos de quantos desses itens estãotemporariamente fora de estoque. Mas o que ésurpreendente équantos itens desapareceram completamente dos sites [dos varejistas]. Eles nem mesmo estãoa venda. O número total de produtos ou variedades de produtos caiu cerca de 20% em relação ao que vimos antes da pandemia. O Fed enfatizou que espera que as interrupções na oferta parem de colocar pressão de alta sobre os prea§os nos pra³ximos meses. Eles estãose mostrando mais persistentes do que muitas pessoas esperavam, inclusive eu. Assim que as vacinações comea§aram, pensei que haveria uma recuperação mais rápida em algumas das interrupções no fornecimento. Eu espero agora, com base na pesquisa que fizemos, que eles continuem tendo um impacto por pelo menos mais um trimestre ou atémais.
O último fator éa demanda, que estãose recuperando muito rapidamente. Ninguanãm sabe o que acontecera¡ com a demanda no futuro. Dependera¡ muito de como o Fed e também o Tesouro va£o reagir aos naveis mais altos de inflação, se persistir atéo final deste ano.
Gra¡fico de inflação.
Os prea§os de certas categorias de bens que subiram no inicio da pandemia (ima³veis, alimentos, energia, materiais e servia§os de construção, grandes eletrodomanãsticos, ma³veis para a casa, automa³veis) permanecem altos, enquanto as categorias que despencaram no inicio (viagens aanãreas, hotanãis, restaurantes e entretenimento ao vivo) estãose recuperando de forma bastante significativa. Por que os prea§os estãosubindo em tantos setores diferentes?
CAVALLO: No inicio da pandemia, tanhamos forças concorrentes. Tanhamos alguns setores que estavam tendo mais demanda temporariamente por causa dos bloqueios e alguns setores onde a demanda estava entrando em colapso - hotanãis, transporte - todos esses prea§os estavam caindo. Houve também alguns setores com interrupções no fornecimento. Vocaª teve a oferta empurrando os prea§os para cima e a demanda empurrando-os para baixo e, assim, os prea§os foram, se quiserem, contidos.
Muitas empresas ainda operam com muitos custos adicionais. Pense em restaurantes, por exemplo. Eles podem aceitar novos clientes, mas muitas restrições de distanciamento social ainda permanecem. Eles podem ocupar apenas metade de suas mesas. Eles estãotendo esses custos mais altos desde que pudemos voltar aos restaurantes, e a demanda estãoaumentando. Ao mesmo tempo, ainda enfrentam algumas interrupções no fornecimento. Portanto, todas essas forças estãose unindo e empurrando os prea§os para cima. Isso éo que háde especial neste momento que estamos vivendo agora: temos interrupções no fornecimento; temos a demanda empurrando os prea§os para cima; e temos alguns desses efeitos de base tempora¡rios, criando a impressão de que a inflação estãosubindo muito rapidamente - em parte por causa do que aconteceu nos últimos meses, mas também,
O que o IPC e outros dados dizem sobre a economia dos EUA e para onde as coisas estãocaminhando?
CAVALLO: a‰ importante ficar de olho na inflação. As principais varia¡veis ​​examinadas pelos macroeconomistas são a inflação, a produção e o desemprego. Os baixos naveis de inflação, principalmente após uma recessão como a que vivemos, podem ser vistos como um sinal positivo de que a economia estãose recuperando e a demanda estãose recuperando. Torna-se preocupante quando onívelde inflação continua subindo além da meta do Fed, que ficaria um pouco acima de 2% nos pra³ximos meses. Leva muito tempo, entretanto, para que a inflação se torne endaªmica em uma economia. Eu sou da Argentina, umpaís com uma longa história de inflação. Por muitos anos, os governos introduziram políticas extremamente expansionistas que acabaram levando a inflação a naveis acima de 10% e, eventualmente, a hiperinflação. Mas eu não vejo isso acontecendo nos EUA
 O que o Fed considera alarmante?
CAVALLO: Inicialmente, era 2%. Agora, eles dizem que querem uma média de 2%. Dado que experimentamos naveis de inflação abaixo da meta hálgum tempo, podemos esperar que eles permitam que a inflação suba para 3, talvez 4 por cento. A maioria das pessoas esperaria que, se a inflação permanecer acima de 4% por vários meses, provavelmente veremos o Fed ficando mais preocupado com a inflação.
Como a polatica e as políticas influenciam essas decisaµes?
CAVALLO: Existem duas políticas principais, moneta¡ria e fiscal. O Fed tem controle sobre a polatica moneta¡ria. O Tesouro e a administração Biden controlam o lado fiscal. Eles certamente anunciaram um estamulo muito grande para tentar fazer a economia se recuperar. Alguns economistas acreditam que a magnitude da expansão fiscal émuito grande. Outros acreditam que estãocerto e que não devemos nos preocupar. Essa decisão acabara¡ por depender de como as estatasticas de desemprego e produção estãocomparando com a inflação. E enquanto a inflação permanece relativamente baixa, ou há percepção de que a inflação ainda estãoem umnívelque pode ser controlado, então eu acho que a polatica, tanto do lado do Fed quanto do lado do Tesouro, ainda favorecera¡ estimular a produção e garantir que possamos obter a economia recuperar.
Como as empresas e os analistas econa´micos devem usar as tendaªncias recentes nos gastos do consumidor para aprender e / ou planejar a próxima crise ou o COVID ésimplesmente um evento sui generis ?
CAVALLO: COVID éuma crise muito particular. a‰ tão complexo. Ele tem todas essas caracteristicas diferentes - oferta, demanda; éum evento global onde todos são afetados; houve um pa¢nico financeiro no inicio que foi resolvido; e então temos uma crise de saúde. Eu o uso para ensinar aos meus alunos todos esses canais diferentes que podem afetar a macroeconomia. Acho que podemos aprender muito com isso.
Sobre o tema da inflação, COVID me ensinou algumas lições importantes. Uma anã, a s vezes precisamos de dados melhores para saber o que realmente estãoacontecendo. Eu faa§o a maior parte do meu trabalho tentando criar mais indicadores de alta frequência, para que não tenhamos que esperar muito para ver o que realmente estãoacontecendo na economia. Acho que vai impulsionar o uso de melhores dados em macroeconomia. De certa forma, éuma coisa positiva que pode resultar de tudo isso.
Ha¡ muito tempo que se fala sobre o big data ajudar os formuladores de políticas. As agaªncias estatasticas, que produzem os andices oficiais como o CPI, tem relutado em usar essas novas fontes de dados. Mas COVID os fora§ou. Por exemplo, na coleta de prea§os para o IPC, o Bureau of Labor Statistics tradicionalmente envia um exanãrcito de pessoas a s lojas para anotar os prea§os dos produtos que veem. E venho dizendo a eles hámais de 10 anos que, para algumas categorias de produtos, vocêpode acessar a Internet e encontrar exatamente os mesmos prea§os que encontra na loja. O COVID encerrou sua operação offline, então eles mudaram para online. E acho que isso aumentou as capacidades de algumas dessas agaªncias estatasticas. Esse éapenas um exemplo - coleta online.
Muitos deles, por exemplo, estãoconsiderando coletar dados sobre os gastos dos consumidores graças ao trabalho que o Opportunity Insights fez para mostrar que as informações dos cartaµes de cranãdito e danãbito podem ser extremamente aºteis para monitorar rapidamente o que estãoacontecendo com os padraµes de gastos de diferentes consumidores. Portanto, acho que hámuitas melhorias, não apenas potenciais, mas reais, durante o COVID na medição das varia¡veis ​​macroecona´micas que sera£o muito aºteis para os formuladores de políticas, se algum dia enfrentarmos outra crise como esta. Felizmente, não vamos.
A entrevista foi editada para maior clareza e extensão.