Humanidades

Trabalhando a ascensão do pensamento econa´mico moderno
Os investimentos em infraestrutura impulsionara£o o produto interno bruto. Os cortes de impostos estimulara£o o crescimento econa´mico.
Por Mike Cummings - 13/04/2021


Emily Erikson

Os debates de hoje sobre pola­tica econa´mica geralmente se concentram na prosperidade nacional. Um projeto de lei de esta­mulo impulsionara¡ a economia dopaís. Os investimentos em infraestrutura impulsionara£o o produto interno bruto. Os cortes de impostos estimulara£o o crescimento econa´mico.

Estes debates ecoar uma mudança no pensamento econa´mico que ocorreu em 17 th -century Inglaterra, quando membros de uma classe comercial crescente começou a publicar trabalhos sobre comanãrcio e finana§as, a fim da pola­tica governamental influaªncia. Ao defender suas políticas preferidas, esses escritores geraram um novo discurso econa´mico - um que enfatizou o crescimento e a prosperidade nacional e preparou o cena¡rio para a disciplina econa´mica de hoje.

No livro mais recente de Emily Erikson, " Comanãrcio e nação: como as empresas e a pola­tica reformularam o pensamento econa´mico " (Columbia University Press), o socia³logo de Yale examina essa revolução no pensamento econa´mico, focalizando os anos entre 1570 e 1720.

Erikson, professor associado de sociologia na Faculdade de Artes e Ciências de Yale e diretor da Fox International Fellowship, falou recentemente com a Yale News sobre o projeto. A entrevista foi condensada e editada.

O que te inspirou a escrever o livro?

Emily Erikson: Enquanto trabalhava em meu livro anterior, " Between Monopoly and Free Trade: The English East India Company , 1600-1757" [Princeton University Press], notei que um número surpreendentemente grande de tratados econa´micos importantes do período foram escritos por pessoas associadas a empresas. Achei aquilo impressionante e me fez pensar que havia algo sobre as empresas e a teoria econa´mica que não havia sido totalmente descoberto. a‰ estranho pensar nisso. Imagine se Jeff Bezos estivesse escrevendo tratados sobre economia. Acho que as pessoas podem achar isso um pouco suspeito. As pessoas também achavam isso um pouco suspeito naquela anãpoca, mas as condições eram diferentes.

Enquanto trabalhava no livro, percebi que estava respondendo a uma pergunta importante: por que a economia na Europa começou a se concentrar menos na desigualdade e mais no desenvolvimento nacional? Nãoéque o desenvolvimento nacional não seja importante. a‰ extremamente importante. Mas a parte da desigualdade foi enterrada sob o foco crescente na prosperidade nacional. Eu queria entender melhor por que isso aconteceu e como podemos colocar a equidade e a justia§a de forma mais clara em foco hoje.

Qual era a situação do pensamento econa´mico antes de 1570?

Nas universidades, considerava-se que a economia estava abaixo da atenção de fila³sofos e estudiosos sanãrios. Nãohavia departamentos de economia e nenhum conceito real de “economia” como um sistema distinto. A maioria das pessoas que escreviam seriamente sobre economia eram acadaªmicos e tea³logos cristãos. Eles estavam muito preocupados com o impacto do comportamento econa´mico na alma humana. Eles pensaram sobre os tipos de comportamento econa´mico em que as pessoas podem se envolver e ainda assim serem justas com os outros seres humanos. Definir um prea§o justo era uma de suas preocupações centrais. Quanto vocêpode cobrar pelo pa£o quando as pessoas estãomorrendo de fome? Em que ponto um prea§o se torna mau?

"... a parte da desigualdade foi enterrada sob o foco crescente na prosperidade nacional".

emily erikson

Nãohavia preocupação com a igualdade no sentido de elevar as pessoas ao mesmonívelsocioecona´mico, mas acreditavam que os ricos não deveriam empobrecer ou tirar vantagem dos outros, o que seria considerado um comportamento pecaminoso. Essa foi uma preocupação central nos debates sobre a cobrana§a de juros, que eles chamaram de usura, e se alguém pode ganhar dinheiro com o dinheiro e o que isso implica sobre o valor do dinheiro.

Como o pensamento econa´mico mudou após 1580?

Por volta de 1600, vocêtem um grande influxo de comerciantes ingleses no discurso que não estãotão interessados ​​nas implicações do comportamento econa´mico na alma humana. Eles podem apontar em direção a esse tema, mas não ésua preocupação central. Em vez disso, eles estãoargumentando sobre como o comportamento econa´mico, como cobrana§a de juros, afeta os mercados de capitais e como isso afeta o comanãrcio e, em última insta¢ncia, a riqueza e a prosperidade da nação. Eles substitua­ram a velha estrutura moral que enfatizava equidade, justia§a e salvação por uma baseada na riqueza e prosperidade da nação.

Quem foram os comerciantes que impulsionaram essa mudança?

Eram indivíduos relativamente ricos de grandes empresas comerciais estrangeiras. Eles estavam envolvidos em empreendimentos corporativos complexos aos quais foram concedidos direitos de comanãrcio de bens específicos, como linho branco ou algoda£o tingido, ou direitos de comanãrcio de bens para locais específicos como o Mar Ba¡ltico ou as andias Orientais. Eles operavam em grande parte fora dos corredores do governo e estavam muito interessados ​​em influenciar a pola­tica comercial, como a concessão de licena§as que permitiam a s empresas operarem. Muitos produziram folhetos expondo seus argumentos. Ao fazer isso, eles forjaram um novo tipo de discurso econa´mico quase inadvertidamente.

"... foi o contexto pola­tico e a posição dos comerciantes dentro da pola­tica inglesa que impulsionou o discurso".

emily erikson

Por que a Inglaterra se tornou o motor dessa mudança no pensamento econa´mico?

Do ponto de vista do ini­cio da era moderna, éestranho que isso tenha acontecido na Inglaterra porque a República Holandesa era muito mais dina¢mica economicamente na anãpoca - e politicamente poderosa. Foi a “Idade de Ouro” dos holandeses. A diferença importante era que o governo holandaªs era dominado por mercadores. Se os comerciantes holandeses quisessem mudar uma pola­tica, eles não precisariam sair dos corredores do governo para fazaª-lo. Os comerciantes ingleses, por outro lado, ocupavam uma posição minorita¡ria no Parlamento. Eles precisavam persuadir os atores estatais a implementar novas políticas que fossem favoráveis ​​aos seus interesses comerciais. Para tanto, fizeram seus apelos na esfera pública utilizando as ferramentas de persuasão de que dispunham, incluindo a redação e a publicação de folhetos econa´micos.

O que vocêaprendeu enquanto trabalhava neste livro que mais o surpreendeu?

Quando comecei este projeto, pensei que a enorme expansão da literatura econa´mica nesta anãpoca era provavelmente o resultado da expansão global do comanãrcio. Essa era minha hipa³tese inicial: a  medida que o comanãrcio se torna mais complexo, ferramentas intelectuais mais sofisticadas são necessa¡rias para compreendaª-lo. Mas acontece que não éo caso. Nãofoi o esta¡gio inicial da globalização que desencadeou a revolução no pensamento econa´mico; foi o contexto pola­tico e a posição dos mercadores na pola­tica inglesa que impulsionou o discurso. Isso me surpreendeu.

A mudança no pensamento econa´mico que vocêdocumenta começou mais de um século antes de Adam Smith publicar “A Riqueza das Nações”, em 1776, um dos textos fundamentais da economia moderna. Como Smith fez uso da obra que o precedeu?

Muitos dos materiais que examino no livro estabeleceram a base para “A Riqueza das Nações”. A maneira como Adam Smith fundiu as observações de pessoas apresentando argumentos um tanto egoa­stas em um todo coeso foi uma realização extraordina¡ria. Ele vinculou ideias sobre desenvolvimento e crescimento nacional a uma teoria de comportamento e ação moral, emprestando-lhes uma perspectiva moral que as pessoas muitas vezes parecem ignorar. Ele estava muito preocupado com o interca¢mbio justo e equitativo entre os indivíduos e os impactos negativos do colonialismo. Ele era profundamente contra a escravida£o e muito preocupado com a forma como os monopa³lios podem tirar vantagem da população. Ele desenvolveu uma perspectiva moral no que se tornou uma literatura muito empa­rica de uma forma que acho incra­vel.

 

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