Humanidades

O Nobel da Fa­sica desmente a fuga de cérebros cienta­ficos da Ita¡lia
Cerca de 14.000 pesquisadores italianos deixaram opaís entre 2009 e 2015, de acordo com a agaªncia nacional de estata­sticas da Ita¡lia, Istat - uma tendaªncia explicada em grande parte pela falta de investimento.
Por Claudia Chieppa e Gildas Le Roux - 05/12/2021


Giorgio Parisi vai dividir o Nobel de física deste ano com cientistas americanos e alema£es.

O fa­sico italiano Giorgio Parisi recebera¡ um praªmio Nobel compartilhado em uma cerima´nia na segunda-feira, mas por trás das comemorações estãoa consternação com a fuga de cérebros que durante anos fez com que muitos jovens cientistas partissem para trabalhar no exterior.

Cerca de 14.000 pesquisadores italianos deixaram opaís entre 2009 e 2015, de acordo com a agaªncia nacional de estata­sticas da Ita¡lia, Istat - uma tendaªncia explicada em grande parte pela falta de investimento.

"A Ita¡lia não éumpaís acolhedor para pesquisadores, sejam italianos ou estrangeiros", disse Parisi em outubro, após receber o praªmio Nobel por seu trabalho sobre a interação entre desordem e flutuações nos sistemas fa­sicos .

"A pesquisa estãosubfinanciada e a situação piorou nos últimos 10-15 anos."

O financiamento do governo caiu de 9,9 bilhaµes de euros (US $ 11,2 bilhaµes) em 2007 para 8,3 bilhaµes em 2015 - os últimos números disponí­veis - enquanto em 2019, os gastos com pesquisa na terceira maior economia da zona do euro estavam significativamente abaixo da média da UE.

Além de Parisi, a Ita¡lia produziu alguns cientistas renomados nas últimas décadas, notadamente Carlo Rubbia, o fa­sico do CERN que ganhou um Nobel em 1984, e a neuroembriologista Rita Levi-Montalcini, que ganhou em 1986.

Mas os comentaristas observam que os ora§amentos de pesquisa foram reduzidos após a crise financeira de 2008, enquanto a nota³ria burocracia da Ita¡lia também desempenha um papel no envio de jovens talentos para o exterior.

"Na Ita¡lia, infelizmente, existem grandes obsta¡culos para conseguir um emprego universita¡rio", disse Eleonora D'Elia, uma bia³loga romana de 35 anos que leciona háquatro anos no Imperial College London.

Ela citou "falta de financiamento e empregos dispona­veis, os contatos necessa¡rios e um sistema altamente complexo baseado no número de artigos publicados".

Como uma horta

A dimensão do problema foi confirmada por Roberto Antonelli, chefe da prestigiosa Lincean Academy de Roma, que disse a  AFP que houve "uma enorme redução nos fundos para universidades e centros de pesquisa italianos".

Isso foi acompanhado por "uma redução na qualidade das vagas disponí­veis para os jovens em comparação com outrospaíses".

O número de professores e de contratos de longo prazo nas universidades caiu de 60.882 em 2009 para 48.878 em 2016 - uma queda de quase 20%.

Em Londres, disse d'Elia a  AFP, há"mais apoio em termos de sala¡rio e ora§amento para pesquisa", enquanto na Ita¡lia, onde espera um dia voltar a estar com sua familia e amigos, "teria que lutar constantemente para pegue isso".

O governo italiano prometeu usar parte dos enormes fundos de recuperação pa³s-pandemia que espera receber da Unia£o Europeia até2026 para ajudar a impulsionar a pesquisa doméstica.

A ministra da Pesquisa, Cristina Messa, prometeu em outubro seis bilhaµes de euros em financiamento para 60 projetos.

'Como uma horta'

Antonelli deu as boas-vindas aos recursos, mas alertou: "O problema éa continuidade do financiamento ... o que vai acontecer depois de 2026?"

Ele disse que a pesquisa deve ser medida em porcentagem do PIB, que varia "dos mais altos, como na Finla¢ndia, Japa£o e Coranãia do Sul, aos mais baixos entre ospaíses desenvolvidos, como a Ita¡lia, que não investem fundos compara¡veis ​​quando comparados a vizinhos como a Alemanha ou Frana§a ".

A Ita¡lia gastou apenas 1,45% do produto interno bruto (PIB) em pesquisa em 2019, abaixo da média da UE de 2,19% e da Alemanha de 3,17%, de acordo com dados da agaªncia europeia Eurostat.

Parisi também enfatizou a importa¢ncia de uma visão de longo prazo.

“A pesquisa écomo uma horta , se vocêacha que pode rega¡-la a cada quinze dias, as coisas va£o dar errado”, disse ele.

 

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