Humanidades

O grande desistir
Os trabalhadores estãodeixando seus empregos nos na­veis mais altos registrados, ou perto deles, desde o ini­cio do rastreamento em 2001. Um professor da Carey Business School ajuda a explicar a crescente desilusão com os nega³cios normais.
Por Greg Rienzi - 19/12/2021


EMILY FLAKE

Os vilaµes memes do chefe, reclamações do dia de trabalho e brigas de grandes corporações são disparados rápida e furiosamente no fa³rum do Reddit r / antiwork , que se tornou um obus de postagem viral. Em uma postagem recente, um tweet do aplicativo Calm apresenta esta pergunta bem-intencionada: "O que seu empregador poderia fazer para apoiar melhor sua saúde mental?" O Redditor respondeu astutamente com "Dobre meu sala¡rio." Outro Redditor lamentou ter sido mandado embora um emprego que ocupou por seis anos depois de tirar um dia pago por doena§a. Seu chefe disse que ele poderia continuar trabalhando la¡ se assumisse mais horas e parasse de pedir aumento. Sua resposta? Um simples não e a devolução de sua chave de trabalho. Ele também deu a última palavra. "Meu novo emprego paga melhor."

O tema comum no fa³rum cada vez mais popular éa insatisfação do trabalhador com o status quo e uma mentalidade de "não vamos aguentar mais", que geralmente termina com uma declaração de que eles estãosaindo do emprego. Eles não estãobrincando.

A economia dos EUA estãoem meio ao que foi apelidado de Grande Renaºncia. Os trabalhadores estãodeixando seus empregos nos na­veis mais altos ou pra³ximos desde o ini­cio do rastreamento em 2001. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, 4,4 milhões de americanos deixaram seus empregos somente em setembro de 2021, e as demissaµes permaneceram excessivamente altas por meses. Em um ponto neste vera£o, um recorde de 11 milhões de empregos estavam vagos.

Os empregados com idades entre 30 e 45 anos tiveram o maior aumento nas taxas de demissaµes, com um aumento manãdio de mais de 20% entre 2020 e 2021. In a Visierestudo conduzido pelo especialista em estratanãgia de recursos humanos Ian Cook, as demissaµes foram maiores em tecnologia (aumento de 4,5%) e saúde (aumento de 3,6%), com servia§os e varejo não muito atrás. O estudo, denominado "Tendaªncias nas taxas de demissão de funciona¡rios", analisou quase 9 milhões de registros de funciona¡rios de mais de 4.000 empresas para ter uma ideia do que estãoimpulsionando a Grande Desistaªncia. Em suma, os funciona¡rios estãoinsatisfeitos com a estagnação dos sala¡rios, os hora¡rios de trabalho tradicionais, as flutuações nas horas de trabalho e a percepção, ou realidade, dos Estados Unidos como uma "nação sem fanãrias" ficando para trás em relação aos seus pares. Eles querem sala¡rios mais altos, melhores benefa­cios, maior mobilidade e mais flexibilidade tanto no hora¡rio de trabalho quanto no local de trabalho. COVID-19 também desempenhou um papel importante, com muitos tirando um tempo para ficar com a fama­lia. Fama­lias jovens tiveram problemas para encontrar creches,

A Johns Hopkins Magazine se encontrou com Christina DePasquale , microeconomista aplicada e professora associada de prática na Johns Hopkins Carey Business School, para falar sobre esse aªxodo em massa de funciona¡rios e como ele vai terminar. Alerta de spoiler: em breve.

Estamos passando por uma pandemia e, aparentemente, estamos passando por uma epidemia de abandono. O número de setembro, 4,4 milhões de pessoas deixando seus empregos, parece enorme. Minha primeira pergunta anã: O que vocêacha que estãoimpulsionando esta Grande Renaºncia?

Vou dizer muitos fatores. Eu acho que o principal éque isso coincidiu com a pandemia, e que de abril a julho équando muitos empregadores fizeram seu pessoal voltar para o trabalho pessoal. Eu acho que existe um fator de risco aqui. Durante a pandemia, ir trabalhar pessoalmente significa assumir um risco que não fazia parte do seu trabalho. E a economia diz que, quando hámaior risco, vocêdeve pagar sala¡rios mais altos a s pessoas. Os sala¡rios ainda não foram ajustados para que as pessoas voltem ao trabalho.

Relacionado, quando as pessoas tinham que voltar ao trabalho, desistiam de alguma coisa. Alguns estavam trabalhando remotamente e gostaram. Eles gostavam da liberdade e, quando precisavam voltar para o ha­brido ou em tempo integral pessoalmente, poderiam ter dito: "Na£o, espere, gostei da maneira como as coisas estavam indo".

Eu acho que isso estãoexatamente certo. E a pandemia nos ensinou que vocêpode trabalhar em casa e ter aproximadamente o mesmonívelde produtividade, ou talvez atémais. Então, vocêtem que pagar sala¡rios mais altos a s pessoas se seu trabalho éarriscado, e todos os empregos agora tem algumnívelde risco mais alto do que antes da pandemia, porque vocêvaª ir para o trabalho como uma chance de ser exposto a esta doença que você' passei os últimos dois anos tentando evitar. Mas, além disso, o trabalho pessoal se tornou um pouco menos atraente do que antes.

"EU ACHO QUE EXISTE UM FATOR DE RISCO AQUI. DURANTE A PANDEMIA, IR TRABALHAR PESSOALMENTE SIGNIFICA ASSUMIR UM RISCO QUE NaƒO FAZIA PARTE DO SEU TRABALHO. E A ECONOMIA DIZ QUE, QUANDO Ha MAIOR RISCO, VOCaŠ DEVE PAGAR SALaRIOS MAIS ALTOS a€S PESSOAS. OS SALaRIOS AINDA NaƒO FORAM AJUSTADOS PARA QUE AS PESSOAS VOLTEM AO TRABALHO."

Christina DePasquale
Professor associado de prática , Carey Business School

Acho que as pessoas podem estar tentando reivindicar mais flexibilidade, melhores condições de trabalho e outros benefa­cios intanga­veis que não esta¡vamos necessariamente colocando em primeiro plano antes. Considerando que eles pensaram antes, "Oh sim, isso seria bom", agora eles estãodizendo: "Na£o, isso érealmente um requisito para que eu trabalhe."

Eu me pergunto quem primeiro cunhou o termo "Grande renaºncia" e quando comea§amos a notar essa tendaªncia?

a‰ uma a³tima pergunta. Nãotenho ideia de quem cunhou o termo. Eu meio que esperava alguns desses resultados, estando predisposto a pensar sobre esses atritos no mercado. Mesmo antes da pandemia, as pessoas falavam sobre sala¡rios estagnados e que os sala¡rios eram muito baixos. Certamente não foi surpreendente ver as demissaµes acontecerem. Acho surpreendente que esteja em umníveltão alto. Provavelmente no meio do vera£o eu disse: "Oh, espere, algo estãoacontecendo aqui que não espera¡vamos." Acho que todos pensaram que a economia ia se recuperar e que todos esses empregos seriam criados. Em junho, começou a ficar evidente que algo teria que acontecer para que as pessoas voltassem ao trabalho. Isso ainda não cedeu. O mercado não se ajustou atéagora.

Ou esse éo novo equila­brio, que parece um pouco insustenta¡vel ter sempre filas e prateleiras vazias, ou algo vai ceder no longo prazo, e muito provavelmente seráque os sala¡rios tera£o que aumentar. Ha¡ vários que incentivam as pessoas a voltarem ao trabalho. Sa³ não estamos nesse número ainda.

Alguns desistem bravamente sem um emprego alternativo, o que considero chocante. Curiosamente, o que muitos tinham em comum era esse problema de qualidade de vida. Eles queriam passar mais tempo com a familia ou se aproximar de pais idosos.

100%. Sobre a qualidade de vida, vemos todos os anos as classificações de felicidade que saem, e os EUA não estãomuito bem posicionados na lista dospaíses mais felizes do mundo. Um dos principais motivos citados éo fato de os Estados Unidos serem considerados opaís onde todos nosparticipamos da corrida desenfreada. Nãocolocamos o bem-estar em primeiro plano e acho que podemos finalmente comea§ar a ver o retrocesso nisso.

Este éum fena´meno de longo prazo? Eu não sei. Talvez no futuro pra³ximo nos adaptemos a uma semana de trabalho de quatro dias, ou talvez daqui a cinco anos estaremos de volta ao ponto em que esta¡vamos em 2018, no que diz respeito a como abordamos o trabalho e esse equila­brio entre trabalho e fama­lia.

"... VEMOS TODOS OS ANOS AS CLASSIFICAa‡a•ES DE FELICIDADE QUE SAEM, E OS EUA NaƒO ESTaƒO MUITO BEM CLASSIFICADOS NA LISTA DOS PAaSES MAIS FELIZES DO MUNDO. UM DOS PRINCIPAIS MOTIVOS CITADOS a‰ O FATO DE OS ESTADOS UNIDOS SEREM CONSIDERADOS O PAaS ONDE TODOS Na“S PARTICIPAMOS DA CORRIDA DESENFREADA".


Acho que o último ano e meio nos ensinou que podera­amos viver sem certas coisas materiais que pensa¡vamos que não podera­amos. Todo mundo meio que apertou um pouco os cintos. Um fena´meno interessante que aconteceu no final de 2020 foi que de alguma forma, durante uma recessão, a da­vida do cartão de cranãdito diminuiu nopaís, o que ébasicamente inanãdito. A outra parte éque as pessoas estavam renunciando a luxos sem os quais não viviam, sejam roupas novas, fanãrias, novos aparelhos eletra´nicos. As pessoas apenas pensavam: "OK, vou me contentar com o que tenho". E isso ensinou a s pessoas que talvez pudessem viver com uma renda mais baixa do que pensavam anteriormente.

Vamos falar sobre quem. Basta acessar o Twitter ou Reddit para ver o quanto as pessoas estãocansadas, em geral, de como são tratadas no trabalho.

Faz sentido que sejam os jovens saindo. Se vocêtem menos de 35 anos, pode pensar: "Bem, tenho o resto da minha vida para ganhar dinheiro." Portanto, talvez tirar um ou dois anos de folga não va¡ afetar muito minha renda vitala­cia. Para eles, não vale a pena se sentir infeliz no emprego atual quando tem outras opções. Em essaªncia, eles estãotirando um ano saba¡tico.

OK, o que as empresas podem fazer para lidar com essa Grande Renaºncia? Vamos falar sobre retenção e recrutamento.

Nãoestamos em equila­brio. A maioria dos mercados nunca estãorealmente em equila­brio - estamos sempre nos ajustando -, mas agora émuito difa­cil entre o que os funciona¡rios querem e o que os empregadores estãodispostos a oferecer. Em termos de atrair novos trabalhadores, vocêdeve se tornar mais competitivo no lado dos benefa­cios e da remuneração. E então, em termos de reter seus funciona¡rios atuais, vocêprecisa fazer esforços que indiquem algumnívelde apreciação. Isso poderia ser ajustar as expectativas quando se trata de trabalhar pessoalmente, oferecendo benefa­cios adicionais, tentando talvez ora§ar para ba´nus, aumentando o sala¡rio. Novamente, não épara simplificar demais, mas qualquer coisa que torne o benefa­cio de trabalhar la¡ maior do que o benefa­cio de não ter um emprego ou de procurar por um. E háum custo nisso, obviamente.

Como os empregadores mantiveram a vantagem por tanto tempo?

Ha¡ muitas pesquisas que mostram que todos os empregadores, não importa em qual setor vocêesteja, tem algumnívelde poder de mercado por causa desses custos. Depois de colocar um trabalhador no trabalho, écaro para ele tentar se mudar para outro lugar. Isso automaticamente da¡ ao empregador poder de mercado. Esse poder parece ter desaparecido completamente nos últimos seis meses. Pelo menos com os sala¡rios atuais, os empregadores parecem não conseguir preencher suas vagas. Vocaª estãocomea§ando a ver sinais de sala¡rios afixados anunciando sala¡rios iniciais acima do sala¡rio ma­nimo - indicando uma disposição dos empregadores em se ajustar - e, ainda assim, com base na persistaªncia dessas vagas afixadas, essas vagas ainda parecem não ser preenchidas.

O setor de saúde sofreu um grande golpe em termos de força de trabalho perdida. Isso pode ser atribua­do principalmente ao COVID-19 e ao estresse? E quanto a todas as saa­das da indústria de tecnologia?

O estresse, o risco, com certeza. Os cuidados de saúde são extremamente a³bvios do ponto de vista de uma pandemia. A correlação com o estresse naquele trabalho especa­fico, mas a tecnologia também éuma indústria de alto estresse. Quando se trata de pessoas na indústria de servia§os, uma coisa que as pessoas que pediram demissão estãocitando éque elas estavam cansadas de lidar com clientes rudes. As pessoas estãodizendo que a vida émuito curta para estar neste mundo onde não sou feliz.

Vocaª tocou nisso antes, mas uma pergunta a³bvia anã: por quanto tempo isso vai durar?

a‰ quase impossí­vel saber. Acho que a previsão mais plausa­vel éque essenívelde demissão e essenívelde escassez de trabalhadores no mercado não podem durar para sempre. Parece um tanto insustenta¡vel e, portanto, acho que esse aspecto não serápara sempre. Suponho que em dois anos os sala¡rios tera£o se ajustado o suficiente para que os trabalhadores sejam atraa­dos de volta ao mercado. As pessoas não podem viver sem renda para sempre. Mas talvez em alguns setores trabalhemos permanentemente em casa, parte da descrição do seu trabalho éque vocênão precisa vir trabalhar se não quiser ou, no ma¡ximo, alguns dias por semana. A atenção ao equila­brio entre a vida pessoal e profissional e o bem-estar no local de trabalho tem sido elogiada pelas empresas hános. O ambiente atual pode trazermudanças mais concretas a esse respeito. E talvez seja mais longo prazo, seja uma semana de trabalho de quatro dias ou horas reduzidas. Nãoconsigo imaginar que vamos operar permanentemente com uma grande parte da nossa população não participando da força de trabalho.

 

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