Humanidades

Três perguntas: Jinhua Zhao em um 'terceiro lugar' entre casa e escritório
Os trabalhadores remotos tem procurado novos tipos de Espaços de trabalho, com implicações para negócios e trânsito.
Por Pedro Dizikes - 30/01/2022


Uma pesquisa recente constata que uma grande porcentagem de trabalhadores, durante a pandemia, não estãotrabalhando estritamente em casa ou no escrita³rio, mas em um “terceiro lugar” (Espaço de coworking, cafeteria, casa de amigos) que lhes da¡ algum foco ou mudança de cena¡rio. Créditos: Imagem: banco de imagens

Durante a pandemia de Covid-19, muitos trabalhadores de escrita³rio desenvolveram acordos de trabalho flexa­veis, para evitar muito tempo gasto em escrita³rios lotados. Mas um projeto de pesquisa apoiado pelo MIT revela uma reviravolta neste cena¡rio agora familiar: muitos trabalhadores com flexibilidade de localização não estãonecessariamente trabalhando em casa. Em vez disso, eles estãolevando seu trabalho para um “terceiro lugar”, incluindo cafanãs, bibliotecas e Espaços de coworking. Cerca de um tera§o das horas de trabalho fora do escrita³rio são gastos nesses locais, mostram os dados, mesmo que esses locais coloquem as pessoas mais próximas umas das outras do que o trabalho em casa.

Os resultados vão das iterações de novembro e dezembro do Survey of Working Arrangements and Attitudes , um projeto mensal conjunto no qual o MIT uniu forças com a Universidade de Chicago, a Universidade de Stanford e o Instituto Tecnola³gico Auta³nomo de Manãxico. Para saber mais sobre essa tendaªncia e suas implicações, o MIT News conversou com Jinhua Zhao, professor associado de transporte e planejamento urbano no Departamento de Estudos e Planejamento Urbano do MIT e diretor da Iniciativa de Mobilidade do MIT, que estãotrabalhando com seus alunos Nick Caros e Xiaotong Guo neste projeto.

P: Tornou-se bastante comum que os trabalhadores tenham acordos flexa­veis durante a pandemia do Covid-19. Certamente, muitos funciona¡rios das indaºstrias de servia§os, da saúde e de outras ocupações essenciais não tem essa oportunidade. Mas muitos que podem trabalhar remotamente estãofazendo isso. No entanto, a pesquisa indica que um número substancial de pessoas que trabalham remotamente não estãoficando em casa, mas indo para outros locais. Vocaª pode explicar as principais descobertas da pesquisa para nós?

R: Descobrimos que, além da casa e do escrita³rio, hátodo um espectro de lugares que as pessoas estãousando como local de escolha para o trabalho. O espaço de trabalho fora de casa e fora do escrita³rio éo que chamamos de “terceiro lugar”, e recentemente distribua­mos uma pesquisa para quantificar essa tendaªncia: o “terceiro lugar” constitui mais de um tera§o do total de horas de trabalho remoto [em novembro e dezembro de 2021] .

A primeira categoria de terceiros lugares pode ser descrita amplamente como “Espaços paºblicos”. Isso inclui lugares como um cafanã, uma biblioteca, um centro comunita¡rio. A segunda categoria são os Espaços de coworking, um ambiente de trabalho colaborativo onde pessoas ou empresas podem alugar mesas por um curto período. A maioria desses Espaços estãoatualmente localizada nos centros da cidade, mas agora eles estãocomea§ando a penetrar nas áreas suburbanas. Por que percorrer um longo caminho se posso caminhar atéum espaço de coworking? O terceiro exemplo éa casa de um amigo ou associado. Suponha que vocêtenha três ou quatro bons amigos ou colegas de trabalho e diga: “Hoje eu vou para a sua casa, mas amanha£ vocêpode vir para o meu quintal”.

Por que as pessoas estãodeixando suas casas para ir para um “terceiro lugar”? Existem várias razaµes. Uma pode ser que vocênão tenha uma boa internet, ou seu vizinho pode estar soprando folhas o tempo todo. O “terceiro lugar” pode trazer benefa­cios como uma sala silenciosa para teleconferaªncias. Mas também hárazões sociais. Da¡ aos trabalhadores a oportunidade de conhecer pessoas, o que ajuda na criatividade e produtividade, ou apenas na saúde mental. a‰ bom dizer “ola¡â€ a s pessoas.

P: Vocaª descobriu uma divisão nos resultados da pesquisa entre homens e mulheres. O que vocêencontrou la¡?

R: Homens e mulheres se comportam da mesma forma em termos de horas totais de trabalho remoto, mas háuma diferença de gaªnero distinta no uso do “terceiro lugar”. Em média, os homens gastam cerca de 40% do total de horas remotas em “terceiros lugares” e as mulheres apenas 30%. Então, qual poderia ser a fonte dessa diferença? Uma hipa³tese éque as mulheres ainda assumem uma maior carga de tarefas de manutenção da casa e cuidados com os filhos. Trabalhar em casa permite cuidar de criana§as e familiares, além de realizar pequenas tarefas nos intervalos da jornada de trabalho. Essa éa nossa principal hipa³tese. Existem outras razões potenciais: as mulheres tem uma perspectiva diferente sobre interagir com outras pessoas em um “terceiro lugar”, por exemplo? Nossa pesquisa apenas quantificou os fatos, e um estudo de acompanhamento poderia esclarecer as motivações. 

P: Quais são as principais implicações dessa tendaªncia para bairros, planejamento urbano e transporte, entre outras coisas?

R: Prevemos que havera¡ um impacto bastante significativo. Deixe-me mencionar três consequaªncias potenciais. A primeira envolve o espaço urbano. Se os Espaços de coworking se mudarem para centros suburbanos, eles podem ser menores e mais localizados. Se for esse o caso, vocêprovavelmente fara¡ algumas compras de supermercado, fara¡ compras no varejo ou cortara¡ o cabelo perto do seu “terceiro lugar”. Isso aumentaria a demanda por varejo emnívelde bairro, em oposição a empresas localizadas no centro ou perto do parque de escrita³rios fora da interestadual. No a¢mbito do planejamento urbano, falamos da “cidade dos 15 minutos”, onde

a maioria das atividades dia¡rias pode ser realizada a uma curta caminhada. A tendaªncia de trabalho do “terceiro lugar” éum componente deste conceito.

A segunda área de impacto éo transporte. Sou um estudioso do transporte, e o pensamento éo seguinte: se as pessoas em Newton [uma cidade suburbana a oeste de Boston] puderem ir ao Newton Center em vez de Boston, éuma viagem mais curta e émais prova¡vel que cheguem la¡ caminhando, andar de bicicleta ou uma curta viagem de a´nibus. Isso pode reduzir o tra¡fego e as emissaµes de dia³xido de carbono. No que diz respeito a smudanças climáticas, o transporte éo maior setor emissor de dia³xido de carbono na economia. Portanto, se o trabalho em “terceiro lugar” puder reduzir as viagens, isso contribuiria para a descarbonização.

A terceira ésocial: se eu trabalho localmente, conhea§o melhor minha comunidade e tenho mais chances de conhecer meus vizinhos. Isso permitiria um melhor entendimento entre as pessoas? Ha¡ potencial para isso.

Durante muito tempo, o trabalho impa´s a s pessoas um tempo, um espaço e um arranjo organizacional específicos. Um trabalho éuma a¢ncora. Mas muitas pessoas estãorepensando esses arranjos.

 

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