Humanidades

Estudo sugere que palavras são necessa¡rias para pensar em números
Entre os adultos que variam em seu conhecimento de palavras numanãricas, a capacidade de raciocinar sobre números élimitada pelo número mais alto com o qual eles podem contar.
Por Anne Trafton - 10/02/2022


Pesquisadores descobriram uma nova relação entre a capacidade de contagem dos indivíduos de Tsimane e sua capacidade de realizar tarefas de correspondaªncia que envolvem números atécerca de 25. Imagem: Jose-Luis Olivares, MIT

Entre muitos do povo Tsimane, que vivem em uma regia£o remota da floresta tropical boliviana, os números não desempenham um papel importante em suas vidas, e as pessoas que vivem nesta sociedade variam muito em quanto alto podem contar.

Um novo estudo do MIT e da Universidade da Califórnia em Berkeley encontrou uma relação entre a capacidade de contagem dos indivíduos de Tsimane e seu sucesso em tarefas de correspondaªncia que envolvem números atécerca de 25. Os pesquisadores descobriram que a maioria dos indivíduos pode executar com precisão tarefas que exigem números correspondentes de objetos, mas apenas atéo número mais alto que eles pudessem contar.

Os resultados sugerem que, para representar uma quantidade exata maior que quatro, as pessoas podem precisar ter uma palavra para esse número, diz Edward Gibson, professor de ciências cognitivas e cerebrais do MIT.

“Esta descoberta fornece a evidência mais clara atéo momento de que as palavras numanãricas desempenham um papel funcional na capacidade das pessoas de representar quantidades exatas maiores que quatro e apoia a afirmação mais ampla de que a linguagem pode permitir novas habilidades conceituais”, diz Gibson, um dos autores do estudo. novo estudo.

O pa³s-doutorando de Berkeley, Benjamin Pitt, éo principal autor do artigo, que aparece hoje na Psychological Science . Steven Piantadosi, professor assistente de psicologia em Berkeley, éo autor saªnior do estudo.

Contagem de palavras

Os Tsimane' são uma sociedade agra­cola e forrageira de cerca de 13.000 pessoas na floresta amaza´nica. A maioria das criana§as de Tsimane comea§a a frequentar a escola por volta dos 5 anos, mas os na­veis de educação e a capacidade de contar variam consideravelmente. A la­ngua tsimane tem palavras para números até100, e palavras para números maiores que isso são emprestadas do espanhol.

Em um estudo de 2014 , Gibson, Piantadosi e o ex-aluno de pós-graduação do MIT Julian Jara-Ettinger descobriram que as criana§as de Tsimane aprendem os significados das palavras numanãricas ao longo da mesma trajeta³ria de desenvolvimento que as criana§as nas sociedades industrializadas. Ou seja, primeiro eles entendem “um”, depois adicionam “dois, “três” e “quatro”, em sequaªncia. Nesse ponto, no entanto, ocorre uma mudança drama¡tica na compreensão, e as criana§as entendem os significados não apenas de “cinco” e “seis”, mas de todas as palavras numanãricas que conhecem.

As criana§as das sociedades industrializadas, que da£o muito mais aªnfase aos números, comea§am a aprender a contar por volta dos 2 anos e tem uma compreensão sofisticada dos números e da contagem aos 4 ou 5 anos. por volta dos 5 anos e terminando por volta dos 8 anos.

Para o novo estudo, Gibson e seus colegas identificaram 15 pessoas de Tsimane que sabiam contar atéalgo entre seis e 20 e 15 que sabiam contar atépelo menos 40. Isso lhes deu a oportunidade de comparar indivíduos com diferentes habilidades de contagem verbal e testar a hipa³tese de que, sem palavras numanãricas, as pessoas são incapazes de fazer tarefas de correspondaªncia exata que exigem que representem mentalmente números maiores que quatro.

Para estudar essa questão, os pesquisadores usaram uma tarefa conhecida como “correspondaªncia ortogonal”. Na tarefa de correspondaªncia mais simples, os pesquisadores apresentariam uma linha de objetos, como baterias, e depois pediriam aos participantes para alinhar um número equivalente de um objeto diferente, como carretanãis de linha. Com a correspondaªncia ortogonal, os objetos são apresentados em uma linha horizontal, mas os participantes devem alinhar o número correspondente verticalmente, para que não possam simplesmente combina¡-los um a um.

A equipe do MIT descobriu que o pessoal dos Tsimane foi capaz de realizar essa tarefa, mas apenas um pouco abaixo do número com o qual eles podem contar. Ou seja, alguém que pode contar até10 comea§aria a cometer erros quando solicitado a combinar oito ou nove objetos, enquanto alguém que pode contar até15 comea§aria a cometer erros em torno de 13 ou 14.

Representações numanãricas

As descobertas sugerem que tarefas que exigem manipulação de números são podem ser feitas usando palavras numanãricas ou outros sistemas expla­citos para representar números, diz Gibson.

“Quando chegamos a números maiores, mesmo que apenas cinco e seis, precisamos de alguma maneira de representar isso se vocêquiser representa¡-lo exatamente”, diz ele. “Nãoprecisa ser palavras osvocêpode usar os dedos ou algo assim osmas vocêprecisa de algum tipo de representação independente dos números.”

Em trabalhos futuros, Gibson espera estudar ainda mais como as criana§as aprendem as representações numanãricas, o que émais fa¡cil de fazer com os participantes de Tsimane porque aprendem os números em uma idade mais avana§ada do que as criana§as nas sociedades ocidentais.

A pesquisa foi financiada pela National Science Foundation e pela James S. McDonnell Foundation.

 

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