O linguismo éuma ideia inventada pelo ativista de direitos humanos e linguista Tove Skutnabb-Kangas para descrever a discriminação baseada na langua ou dialeto. O preconceito em torno de

Quando os professores validam as formas de falar das criana§as, isso pode ter um efeito profundo na maneira como elas aprendem. Crédito: Monkey Business Images | Shutterstock
O professor e artista Sunn M'Cheaux tem postado nas redes sociais sobre "linguismo" depois que um leitor lhe perguntou sobre a palavra "machado", dizendo: "Por que lutamos para dizer 'pergunte?' Como quando eu era pequeno, eu sempre dizia 'ax'. Como se eu não pudesse dizer a palavra corretamente."
A resposta de M'Cheaux contraria a ideia comum de que "ax" (escrito também "aks") estãoincorreto: "ax" não éuma pronaºncia errada de "ask", mas uma pronaºncia alternativa. Isso ésemelhante a como as pessoas podem pronunciar "economia" de várias maneiras como "eck-onomics" ou "eek-onomics", por exemplo. Nenhuma dessas pronaºncias estãoerrada. Eles são apenas diferentes.
O linguismo éuma ideia inventada pelo ativista de direitos humanos e linguista Tove Skutnabb-Kangas para descrever a discriminação baseada na langua ou dialeto. O preconceito em torno de "aks" éum exemplo de linguismo.
Danãcadas de pesquisa mostram que a ideia de que qualquer variação do inglês padrãoéincorreta (ou, pior, pouco profissional ou sem educação) éuma cortina de fumaa§a para o preconceito. O linguismo pode ter sanãrias consequaªncias ao agravar as desigualdades socioecona´micas e raciais existentes.
Argumento falho
Classificar "ax" como sinal de preguia§a ou ignora¢ncia pressupaµe que dizer "aks" émais fa¡cil do que dizer "ask". Se fosse esse o caso, nosouviraamos — e nunca ouvimos — ouvir "escrivaninha", "frasco" e "aborrecido" pronunciados como "deks", "flaks" e "peksy".
O "s" e o "k" sendo trocados em "aks" e "ask" éum exemplo do que os linguistas chamam de meta¡tese — um processo muito comum. Por exemplo, vespa costumava ser pronunciado " waps ", mas o primeiro agora se tornou a palavra principal. Muitas das pronaºncias lamentadas como "erradas" são, na verdade, apenas exemplos de mudança de linguagem.
"Aks" tem origens em inglês antigo e germa¢nico hámais de um milaªnio, quando era uma forma escrita formal. Na primeira Bablia em inglês - a Bablia Coverdale, de 1535 - Mateus 7:7 foi escrito como "Axe e ser-vos-a¡ dado", com aprovação real.
Além do inglês escrito, "aks" também era a pronaºncia tapica no sul da Inglaterra e nas Midlands. "Pergunte", por sua vez, era mais prevalente no norte e éeste último que se tornou a pronaºncia padra£o.
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Prevalaªncia contempora¢nea
Na Amanãrica do Norte, "aks" (ou "ax") foi amplamente utilizado na Nova Inglaterra e nos estados do sul e do meio. No final do século 19, no entanto, tornou-se estereotipado como exclusivo do inglês afro-americano, no qual permanece predominante. O linguista americano John McWhorter considera isso uma "parte integral de ser um americano negro".
Hoje, "aks" também éencontrado em variedades de inglês do Reino Unido, incluindo o inglês multicultural de Londres . Esse dialeto, falado principalmente por pessoas de minorias anãtnicas, surgiu atravanãs do contato entre diferentes dialetos do inglês e languas de imigrantes, incluindo os crioulos caribenhos , como o crioulo jamaicano.
O inglês multicultural londrino foi inicialmente referido na madia de forma pejorativa como " jafaicano ". Esse ra³tulo reduziu erroneamente o dialeto a algo imitado ou usado de forma inautaªntica.
a‰ claro que outras languas influenciaram o inglês multicultural de Londres. Mas a langua inglesa estãoem constante fluxo hámilaªnios, justamente como resultado do contato com outras languas. Quando falamos de "salada", "carne" ou "governo", não estamos imitando o francaªs, apesar da origem francesa dessas palavras. Eles simplesmente se tornaram palavras em inglês. Da mesma forma, o inglês multicultural de Londres éum dialeto totalmente formado por si são e "aks", como em qualquer outra pronaºncia neste e em outros dialetos ingleses, não estãode forma alguma errado.
Preconceito linguastico
Sotaques ou dialetos não tem nenhuma pretensão lógica ou cientafica de "correção". Em vez disso, qualquer prestígio de que possam se gabar deriva de serem falados por grupos de alto status.
Muitas pessoas agora abanam o dedo para a palavra "não anã" ou para as pessoas soltando o "g", traduzindo palavras como "correndo" como "correndo" e "pulando" como "pulando". Em 2020, a secreta¡ria do Interior brita¢nica, Priti Patel , sofreu o peso dessa cratica equivocada, quando o jornalista Alastair Campbell twittou: “Nãoquero uma secreta¡ria do Interior que não consiga pronunciar um G no final de uma palavraâ€.
Craticas ao "soltar g" existem apesar das origens da pronaºncia no inglês manãdio, e sem mencionar o fato de que atéo século 20, as classes altas brita¢nicas também falavam dessa maneira. Isso foi satirizado em um episãodio de 2003 do programa de comédia brita¢nico "Absolutely Fabulous", intitulado Huntin", pescando e atirando .
Agora que "sair do g" éestereotipado como classe trabalhadora, no entanto, éestigmatizado como errado. Pesquisas mostram que preconceitos linguasticos, ainda que não intencionais, contra imigrantes, dialetos não padronizados e regionais impediram gerações de criana§as de alcana§ar o seu melhor na escola e, claro, além dela.
As criana§as em idade escolar que naturalmente dizem "aks" (ou qualquer outra forma não-padrãode inglês) são incumbidas do fardo extra de distinguir entre como falam e como se espera que escrevam. Por outro lado, essa barreira não éenfrentada por criana§as que crescem falando inglês padrãoem casa, o que pode aprofundar ainda mais a desigualdade. Essas criana§as já são favorecidas de outras maneiras, pois tendem a vir de grupos de alto status.
A maneira como falamos tem implicações reais em como somos percebidos. Pesquisas no sudeste da Inglaterra descobriram que jovens adultos da classe trabalhadora ou de minorias anãtnicas tendem a ser julgados como menos inteligentes do que os outros osum preconceito baseado apenas na maneira como falam. O efeito piorava se a pessoa fosse de Essex ou Londres, ou mesmo se pensasse que ela tinha sotaque desses lugares.
O exemplo de "aks" demonstra nitidamente o absurdo, a falta de fundamento e, crucialmente, o impacto pernicioso de considerar qualquer forma de inglês como "correta". Preconceito de sotaque e linguismo éuma ressignificação do preconceito em relação a grupos de baixo status que, simplesmente, falam de forma diferente.