Humanidades

Para estudantes de arte, espanãcimes de Peabody oferecem lições de cor e verdade
Seja devido ao pigmento ou a  estrutura, a percepa§a£o da cor decorre da manipulaa§a£o da luz visível. Mas alguns animais, como muitos insetos, também podem ver a luz ultravioleta, algo que os olhos humanos não conseguem perceber.
Por Mallory Locklear - 16/03/2022


Cortesia

Larry Gall pega uma caixa coberta de vidro contendo uma daºzia de borboletas morfo azuis. Ele balana§a a caixa para frente e para trás para ilustrar como as borboletas brilham. Os alunos de Yale que se reuniram ao redor dele pegam seus telefones para tirar fotos.

Na natureza, ele diz ao grupo, a cor pode vir de pigmentos que absorvem a luz, bem como de estruturas que refletem certos comprimentos de onda de luz. Nesse caso, diz Gall, gerente de coleções de entomologia do Museu Peabody, o azul deslumbrante e cintilante dos morfos azuis vem principalmente de pequenas estruturas nas escamas da asa, em vez de pigmento.

"A combinação de ter explicado e ver osnão hásubstituto para isso".


byron kim

Seja devido ao pigmento ou a  estrutura, a percepção da cor decorre da manipulação da luz visível. Mas alguns animais, como muitos insetos, também podem ver a luz ultravioleta, algo que os olhos humanos não conseguem perceber. Para o olho humano, um conjunto de borboletas amarelas de enxofre em uma vitrine pode parecer bastante semelhante. Mas quando Gall mostrou aos alunos como os mesmos espanãcimes se parecem sob luz ultravioleta, como eles apareceriam para alguns animais, eles de repente parecem bem diferentes, com padraµes surgindo onde eles não pareciam existir antes.

A comparação oferece uma ilustração va­vida do papel que a cor pode desempenhar na natureza e no amplo mundo visual que noshumanos não podemos acessar.

Os alunos são alunos do curso de “Pra¡tica de Cores” da Escola de Arte de Yale. Durante o semestre, a turma também visitou a Galeria de Arte da Universidade e a Biblioteca de Artes da Fama­lia Robert B. Haas, mas hoje eles estãoaprendendo tudo sobre cores na natureza atravanãs dos muitos espanãcimes do Museu Peabody e da experiência de seus gerentes de coleções. Além de ver insetos no Centro de Ciências Ambientais, os alunos também observam minerais no Laborata³rio de Geologia Kline e a ica´nica coleção de pa¡ssaros do Peabody durante a aula.

Stefan Nicolescu mostra aos alunos um mineral da coleção do Peabody.

A experiência enfatiza uma lição fundamental do curso osque a cor não éconcreta. Seu ambiente e nossa percepção dele podem mudar drasticamente seu cara¡ter. E para muitos alunos, ver o papel que a cor desempenha no mundo natural estimula sua criatividade.

“ Isso definitivamente influenciou minha visão de mundo”, diz Ana Greenberg '22, acrescentando que a aula se infiltrou em muitos aspectos de sua vida, mesmo pequenas coisas como o que ela veste, como ela decora seu apartamento e as cores que ela escolhe quando trica´. Tambanãm teve impactos maiores, como remodelar a forma como ela vaª a natureza.

Muito do que os alunos aprendem se baseia no trabalho de Josef Albers, cujo “Interaction of Color”, um guia sobre ensino e estudo de cores, éusado nas aulas, disse Anoka Faruqee, professora da Escola de Arte que lidera o curso. .

“ O que Albers defendeu, com o qual acho que muitos artistas podem se identificar, éa fluidez da cor e o fato de que a cor émuito relativa e muda de contexto”, diz Faruqee. “E traz a  tona ideias em torno da verdade e se a verdade existe na experiência contingente ou se a verdade existe em um fato isolado. Em outras palavras, o que sabemos versus o que percebemos ou experimentamos.”

Decifrando os mistanãrios da cor

Dentro da Sala 105 do Laborata³rio de Geologia Kline, Stefan Nicolescu, gerente de coleções da Peabody para mineralogia e meteoritos, segura um tufo de cristais azuis de um mineral conhecido como hemimorfita. Acontece que a cor atraente do objeto, ele diz aos alunos, foi uma fraude completa que enganou os colecionadores de minerais em todo o mundo em 2020.

a‰ uma história cativante que envolve cartanãis de drogas, investigações cienta­ficas e um qua­mico que fez uma análise espectral do cristal e, tendo trabalhado para um fabricante de pigmentos, imediatamente reconheceu o culpado oso corante jeans.

mineral azul

Normalmente, as causas das ilusaµes de cores são menos nefastas. Nicolescu ilustra aos alunos como a cor pode mudar quando vista sob uma luz diferente. Ele aponta um ponteiro laser de luz azul nas pedras dos ananãis para torna¡-los fluorescentes; ele direciona o facho de uma lanterna pela parte de trás de uma laje de rocha fina para revelar as granadas translaºcidas incrustadas.

Depois, há ideia de cor estrutural. Nicolescu conta aos alunos como os verdes, rosas e azuis da madrepanãrola, um material iridescente que reveste o interior de algumas conchas de moluscos, na verdade vão de sua estrutura. Quando triturada, diz ele, a madrepanãrola ésimplesmente branca.

Para Harper Lowrey '23, a noção de que a cor a s vezes não éinerente a um objeto éalucinante. “Na aula, pensamos muito sobre o que a cor significa e como interagimos com ela”, diz ela. “Então, émuito legal envolver o lado natural e aprender sobre como a cor éconstrua­da.”

Lowrey, que estãopensando em se especializar em biologia molecular, celular e do desenvolvimento, diz que esta aula de arte que utiliza as coleções de Peabody reflete seus interesses mistos. “Sempre fui a pessoa com todos os bolsos da minha mochila cheios de pedras e folhas”, diz ela. “Pensar sobre o que éa arte em relação ao mundo natural tem sido muito interessante.”

Em aulas como esta, David Heiser incentiva os alunos a pensarem nas coleções do museu Peabody como se fossem uma biblioteca. Assim como os livros, esses espanãcimes e objetos são recursos para eles explorarem da maneira que fizer sentido.

“ A Yale, como instituição, tem essas coleções nota¡veis ​​em todas essas áreas diferentes”, diz Heiser, diretor de programas estudantis do Peabody. “Muitas dessas coleções são mais como uma coleção de referaªncia em uma biblioteca. Vocaª não pode conferir, mas vocêpode definitivamente estar em sua presença e aprender com ele e fazer uso dele e tirar fotos dele e continuar aprendendo com ele e desenhando ou pintando.”

Ele trabalhou com membros do corpo docente em toda a universidade. Em alguns cursos, como aqueles que examinam mamografia ou herpetologia, as conexões com os recursos do Peabody são a³bvias. Mas, para Heiser, são os cursos com conexões menos intuitivas que se tornam verdadeiramente memora¡veis. Por exemplo, ele trabalhou recentemente com um instrutor da Escola de Arquitetura em um curso sobre habitações de animais, usando ninhos de pa¡ssaros, casulos, cupinzeiros e ninhos de vespas como exemplos de estruturas construa­das no mundo natural. Ele também se juntou a um instrutor de história da arte em um curso sobre arte no Antropoceno, ou o período de tempo durante o qual os humanos se tornaram a influaªncia dominante no planeta.

Os benefa­cios dessas colaborações funcionam nos dois sentidos, diz Heiser. Ele se lembra de ter trabalhado com Anna Betbeze, ex-membro do corpo docente da School of Art, em seu pra³prio curso de cores. Quando ele mencionou todos os espanãcimes iridescentes encontrados nas coleções do Peabody, Betbeze pediu para exibi-los todos juntos, lado a lado. O resultado foi uma das primeiras exposições da galeria de estudos do Peabody, que foi aberta ao paºblico e usada para instrução dos alunos.

“ Ter a chance de apresentar aos alunos esse conceito de maneira cienta­fica na frente de espanãcimes iridescentes anã, para mim, a maneira perfeita de mesclar arte e ciência na universidade e dar vida a s coleções para um grupo de estudantes”, diz Heiser.

Entendendo as diferenças de percepção

Mais tarde, os alunos da Escola de Arte retornam ao Centro de Ciências Ambientais, onde a coleção de pa¡ssaros do Peabody éa última parada.

Kristof Zyskowski, gerente de coleções de ornitologia e mamografia, segura um pa¡ssaro que ficou famoso pela sanãrie “Planeta Terra”. a‰ um tipo de ave-do-paraa­so nativa de Papua Nova Guinanã; quando ele abre suas penas para se envolver em uma dança de acasalamento, parece um oval preto escuro com uma faixa de azul refletivo.

Pesquisadores de Yale descobriram que o preto visível no pa¡ssaro não éapenas preto. a‰ ultra-preto - uma cor criada tanto pelo pigmento quanto pela cor estrutural. Como explica Zyskowski, a cor foi encontrada mais tarde em outras espanãcies de aves e em besouros. E em cada caso, o ultra-preto foi encontrado ao lado de algum ornamento visual oscomo a faixa azul encontrada na ave-do-paraa­so oscomo se o papel dessa cor especial fosse enfatizar caracteri­sticas importantes.

Zyskowski apresenta aves do Brasil, Austra¡lia, Amanãrica do Sul, áfrica e Taila¢ndia. Ele também mostra ao grupo algumas espanãcies encontradas mais perto de casa. Ele aponta duas aves albinas coletadas em East Haven e Danbury, Connecticut, e desafia o grupo a nomear as espanãcies. Dois alunos rapidamente identificaram um gaio azul e um tordo americano. Refletindo sobre a importa¢ncia da cor na natureza, um aluno pergunta como essas aves teriam se saa­do na natureza. “Eles teriam tido dificuldades”, diz Zyskowski. “Esses tipos de pa¡ssaros são frequentemente escolhidos por outros.”

Zyskowski então mergulha mais fundo em um conceito introduzido pela primeira vez durante a parte de entomologia osa ideia de que nem todas as espanãcies percebem as cores da mesma maneira. Ele mostra aos alunos um pa¡ssaro com uma mancha de penas laranja-ultravioleta, uma cor que inclui o laranja que os humanos podem ver e uma cor ultravioleta que não podemos ver. a‰ uma mistura que anã, para os pa¡ssaros, tão diferente do laranja quanto o roxo édo vermelho ou do azul.

Essas diferentes percepções de cor resultam de como diferentes comprimentos de onda de luz estimulam células cone sensa­veis a  luz na retina, diz Rick Prum, professor de Ecologia e Biologia Evolutiva William Robertson Coe e curador encarregado de aves do Museu Peabody.

“ A maioria dos humanos tem três tipos de cones coloridos que são sensa­veis a  luz vermelha, verde e azul”, diz ele. “Mas os pa¡ssaros tem quatro tipos de cones coloridos: cones vermelhos, verdes, azuis e ultravioletas (ou violetas). Assim, os pa¡ssaros podem ver bem na faixa ultravioleta que éinvisível para nós.”

' Um a³timo lugar para aprender sobre o mundo'

A turma sai para discutir o que viram. “Sinto-me tão limitado agora”, diz Faruqee, um pintor. “Sa³ uso pigmentos!”

Jake Jorgl '23, um estudante de arte, diz que estãopensando em como recriar o efeito da cor estrutural por camadas finas de tinta a a³leo para que cada camada translaºcida construa uma cor aditiva, não muito diferente da madrepanãrola da coleção mineral. “Nãoéa mesma coisa que cor estrutural”, diz ele, “mas hálguns aspectos semelhantes e édiferente de misturar pigmento e coloca¡-lo em uma tela”.

Byron Kim, um crítico de arte saªnior da School of Art que ministrou um curso semelhante para alunos de pós-graduação, diz que vocêpode definir a cor estrutural para ele, mas équando ele a vaª em minerais ou penas de pa¡ssaros que tudo faz sentido. “A combinação de ter explicado e ver osnão hásubstituto para isso.”

a‰ uma reação que Prum já viu antes. “O principal indicador de que esses tipos de aulas funcionam ou não ése os alunos saem com suas mentes completamente explodidas”, disse ele. “Normalmente, temos uma taxa de sucesso muito alta!”

Kim se lembra de visitar o Peabody quando criana§a. O clima do museu, diz ele, permaneceu com ele desde então. “Foi realmente um bom combusta­vel para minha imaginação”, disse Kim, “um pouco assustador, mas também uma espanãcie de aventura em minha mente”.

Ele diz que gosta de ministrar seu curso de uma forma que se relaciona com a vida de seus alunos, não apenas seus ateliaªs ou suas pinturas, mostrando a cor no mundo e não apenas na arte. “O Peabody éum a³timo lugar para aprender sobre o mundo.”

 

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