Humanidades

A motivação pola­tica muitas vezes se resume a  avaliação pessoal do 'merecimento' de outras raças
Os autores observam que éjusto que os brancos (e qualquer outro grupo dominante) percebam que a sociedade estãomudando, mas dizem que isso não significa que deva ser resistida e não deve ser interpretada erroneamente como racismo reverso.
Por Colleen Sharkey - 31/03/2022


Embora talvez não seja racialmente preconceituoso, uma ampla faixa de cidada£os americanos faz e diz coisas que os racistas fazem, de acordo com um novo estudo.

"As pessoas comuns estãoimplicadas, não porque sejam racistas, mas porque possuem certos valores que trazem desvantagem para os afro-americanos", escreveram Darren Davis, professor de ciência pola­tica da missão da familia Snyder na Universidade de Notre Dame, e David C. Wilson , professor de políticas públicas da Universidade da Califa³rnia, Berkeley, em seu novo livro, " Racial Resentment in the Political Mind ", publicado pela University of Chicago Press. “Tal 'banalidade' torna o ressentimento racial assustador.. Como comparação, os linchamentos foram liderados por racistas descarados, mas milhares de cidada£os comuns foram participantes voluntários que aplaudiram, posaram para fotos e partiram com lembrana§as como se fossem feiras estaduais".

Crédito: University of Chicago Press

O termo "ressentimento racial" existe hádécadas e originalmente se referia a um tipo menos flagrante de racismo no qual os negros são vistos como violadores de normas e valores tradicionais como o individualismo. No entanto, Davis e Wilson discordam da maneira como o termo édefinido e medido e, em vez disso, analisaram fatores como merecimento e defesa do status quo ao longo de muitos anos de dados.

“A teoria subjacente éque as pessoas que tem alto ressentimento racial são mais propensas a ter atitudes que rejeitam tratamento e melhoria racial especial porque beneficiam afro-americanos e outras minorias injusta e injustamente”, escreveram eles.

"O livro baseia-se nessa ideia de que os brancos percebem que o modo de vida americano estãomudando; eles percebem que estãosendo cortados na linha e que seu status estãosendo ameaa§ado - e sendo ameaa§ado por afro-americanos indignos e outras minorias - e que isso lhes custa, legitimando mitos raciais. a‰ um pouco mais sofisticado do que apenas manter esterea³tipos raciais", disse Davis.
 
Wilson acrescentou que as atitudes raciais podem ter muitas causas e podem ser motivadas por uma sanãrie de necessidades, incluindo a necessidade de segurança, a necessidade de segurança ou a necessidade de não sentir que o mundo que vocêvaª como justo estãointerrompido.

"Sempre que alguém recebe algo, eles passam pelo julgamento automa¡tico de se émerecido ou não. Quando as pessoas percebem que alguém estãorecebendo algo que não merecem e pensam que algo émuito importante - um resultado querido como uma bolsa de estudos para uma universidade ou a capacidade de comprar uma casa, ou mesmo ser a primeira pessoa na fila porque vocêchegou cedo ossempre que esse sistema de justia§a éinterrompido, produz ressentimento", disse Wilson. "O que estamos dizendo éque esse ressentimento se torna racializado por causa das maneiras pelas quais as pessoas pensam sobre sistemas de manãrito e crena§as de que o capitalismo éjusto."

Wilson apontou que algumas dessas questões sobre o merecimento são motivadas pelo que pode ser chamado de racismo ou ideias preconceituosas, mas pode ser o inverso. "Pode ser o oposto - que atitudes raciais como o preconceito são motivadas por manter certos valores que pessoas indignas deveriam estar em um determinado lugar, por exemplo, ou que não pagaram suas da­vidas."

Ele enfatizou que as pessoas não nascem naturalmente racistas ou preconceituosas, mas que esses são traa§os evolutivos que se manifestam porque as pessoas fazem parte de grupos de auto-aprimoramento que querem proteger. Esses grupos fazem as pessoas se sentirem bem e as levam a  conclusão de que são boas pessoas.

“Então, se somos boas pessoas e temos atitudes negativas em relação aos afro-americanos, podemos fazer duas coisas: podemos perceber que não somos boas pessoas ou podemos culpar os afro-americanos”, disse Wilson. "a‰ mais fa¡cil dizer que 'a culpa ésua e vocêdeve trabalhar mais'; esse éo mecanismo de merecimento que estãoem jogo. O mito éque os afro-americanos não estãotrabalhando duro e seguindo as regras, mesmo quando trabalham duro e se divertem pelas regras, esses valores [negativos] perseveram e são aplicados de forma mais ampla."

Os autores observam que éjusto que os brancos (e qualquer outro grupo dominante) percebam que a sociedade estãomudando, mas dizem que isso não significa que deva ser resistida e não deve ser interpretada erroneamente como racismo reverso.

"Acho que hácoisas acontecendo na sociedade hoje que podem realmente dar a percepção de que o status quo para os brancos estãorealmente mudando. Por exemplo, acionar alertas; temos essa aªnfase renovada na diversidade e inclusão; temos essa reação, essa reação ao politicamente correto ; Barack Obama foi eleito para dois mandatos; e também temos questões de terceirização de empregos e imigração", disse Davis. "No entanto, outro argumento que fazemos éque não éirracional que os brancos percebam isso; essas coisas estãorealmente ocorrendo. No entanto, a medida em que os afro-americanos e outras minorias estãose beneficiando dessas coisas émal percebida".

Davis e Wilson também testaram como o ressentimento racial se relaciona com apelos de campanha, bem como schadenfreude como retribuição. Eles descobriram que os slogans de campanha que "transmitem uma ameaça ao status quo e ao privilanãgio tem uma ressonância especial". Em seu experimento relacionado, os participantes interpretaram esmagadoramente o grito de guerra "Make America Great Again" do presidente Donald Trump como afro-americanos esquecendo seu lugar.

“Muitos brancos acreditam que estãosendo deixados para trás e em desvantagem por grupos e políticas raciais e, reagindo a essa ameaa§a, gravitara£o em torno de candidatos e apelos de campanha que buscam proteger e defender o status quo ou seu privilanãgio”, disse Davis. "'Make America Great Again' torna-se um ca³digo para retornar a uma era em que os brancos estavam mais bem de vida."

Os autores também descobriram que altos na­veis de ressentimento racial se correlacionavam com o prazer com o fracasso daqueles que não fazem parte da maioria que osconforme percebido pela maioria branca osreceberam vantagens imerecidas a s custas dos brancos. Eles perguntaram se as pessoas ficariam felizes ou tristes ao responder a coisas relacionadas a Obama, como se ele seria ou não identificado como o melhor ou pior presidente da história ou seus sucessos ou fracassos econa´micos. Eles descobriram que "indiva­duos com na­veis mais altos de ressentimento racial são mais propensos a expressar tristeza diante das realizações dos afro-americanos e felicidade diante dos fracassos dos afro-americanos porque percebem os afro-americanos como indignos de sucesso, e tal sucesso, portanto, desafia sua noção de justia§a e equidade."

O ressentimento racial dos afro-americanos em relação aos brancos éraramente estudado e, quando feito, notaram Davis e Wilson, tem sido falho e não equivalente a s medidas aplicadas ao ressentimento racial branco. Os autores aplicaram sua mesma estrutura de merecimento e justia§a aos afro-americanos e descobriram que na­veis mais altos de ressentimento racial nos afro-americanos se traduziam em maior apoio a Obama e em maiores gastos com assistaªncia social e saúde. Tambanãm se manifestou como menor apoio a Trump e diminuição dos gastos com a aplicação da lei.

 

.
.

Leia mais a seguir