Mundo

Como os smartphones mudam nosso cérebro
O que a Neurociênciaaprendeu sobre como nosso cérebro muda com o uso de smartphones e o que isso significa para a pesquisa sobre dependaªncia. O neurocientista Sebastian Markett fala sobre a influaªncia do Facebook em nossa estrutura cerebral.
Por Paula Pensky - 27/09/2019

Pixabay

Vivemos com um companheiro constante hámais de uma década. Muitas pessoas não conseguem imaginar um dia sem uma tela na frente do rosto. Em média, interagimos de duas a três horas por dia com nossos smartphones, ou seja, dois dias aºteis por semana. Por que gastamos tanto tempo com essas coisas? O professor Sebastian Markett e colegas publicaram um estudo em 2017 sobre a influaªncia das redes sociais no núcleo accumbens. Na entrevista, ele explica sobre o que ésua pesquisa.

Como surgiu essa ideia de pesquisa?

Do ponto de vista psicola³gico, o smartphone émuito interessante. Doze anos atrás, não havia smartphones e, nesse curto período de tempo, uma nova tecnologia virou nossas vidas de cabea§a para baixo e mudou completamente a maneira como nos comunicamos e passamos nosso tempo livre. Pensei várias vezes na apresentação de Steve Jobs do primeiro iPhone. Ele disse: "De vez em quando, surge um produto revoluciona¡rio que muda tudo". Esta frase émuito verdadeira. Nossa sociedade mudou muito desde o smartphone. Em um estudo, investigamos quanto tempo nossos sujeitos de teste passaram com seus smartphones. Os resultados foram surpreendentes, a saber, que observamos a pequena tela três a quatro horas por dia, em média. Nossa tese foi então que nosso sistema de recompensa deve desempenhar um grande papel aqui.

Como vocêpesquisou isso?

Programamos um aplicativo capaz de registrar o comportamento do smartphone. O problema aqui não era ver exatamente o que alguém escreveu ou olhou em seu smartphone; em vez disso, o aplicativo registrou quantos minutos por dia eles usaram o smartphone, com que frequência ele foi desbloqueado e com que frequência aplicativos específicos foram usados. Durante um período de cinco semanas, registramos os dados principais para o comportamento das ma­dias sociais de 62 participantes do teste. No estudo, nos concentramos no Facebook e analisamos com que frequência os sujeitos abriam o Facebook em seus smartphones e quanto tempo eles usavam o Facebook. Assim, por cinco semanas, os dados dos sujeitos do teste foram relatados ao nosso servidor. Depois, tiramos imagens de alta resolução do cérebro dos sujeitos de teste usando um scanner MRT. Partes individuais do cérebro podem ser medidas nessas.

O núcleo éaccumbens?

O núcleo accumbens éa interface central do nosso sistema de recompensa. Tudo o que nos traz prazer desencadeia atividade no núcleo accumbens, liberando o neurotransmissor dopamina. Drogas como cigarro e a¡lcool também afetam nosso sistema de recompensa direta ou indiretamente. Sabemos de outros estudos que a atividade no núcleo accumbens tem um efeito motivador.

E qual éa conexão entre o sistema de recompensa e o uso do telefone celular?
Quanto mais alguém gasta em aplicativos de ma­dia social, menor o volume de seu núcleo. A quantidade de tempo que usamos o Facebook parece ter uma influaªncia tão grande em nosso cérebro que pode ser demonstrada em umnívelneuroanata´mico e neurofa­sico. Assim, vemos uma conexão emnívelanata´mico entre o comportamento do Facebook e nossa estrutura cerebral.

No entanto, não estãocompletamente claro o que isso significa funcionalmente. Nãosabemos se o menor volume do núcleo accumbens desencadeia um uso mais forte das redes sociais ou se, inversamente, o aumento do uso das redes sociais leva a uma mudança nessa regia£o do cérebro. Mais estudos são necessa¡rios para descobrir qual éa causa final do pequeno centro de recompensa.

O que isso significa para nós?

Para responder a essa pergunta com clareza, precisamos descobrir, antes de tudo, se o menor volume do sistema de recompensa éa causa do aumento do uso do Facebook ou se nosso sistema de recompensa talvez diminua quando consumimos muitas ma­dias sociais.

No entanto, éclaro que qualquer coisa viciante, incluindo drogas, afeta o núcleo accumbens direta ou indiretamente. Existe uma conexão entre uma diminuição do volume do núcleo accumbens e o comportamento do consumo, por exemplo, com nicotina ou a¡lcool. Por esse motivo, nosso conhecimento sobre a conexão entre o consumo do Facebook e o volume do sistema de recompensa também éuma indicação inicial para pesquisas adicionais.

 

.
.

Leia mais a seguir