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Diferente do milho convencional, milho crioulo possui variações nutricionais e de sabor
Domesticado pela humanidade há milhares de anos, é possível encontrar múltiplas variedades de milho, com tamanhos, cores e formatos diferentes
Por Henrique Giacomin - 26/10/2025


As espécies crioulas são mais adaptadas aos seus próprios territórios, sendo importante na garantia da soberania alimentar e subsistência da agricultura familiar -Foto: Associação Cânions Paulistas/Wikimedia Commons/CC BY-SA 4.0


Roxo, vermelho, laranja, preto e até azul. Pode até parecer que são as cores do arco-íris, mas é o milho crioulo. Domesticado pela humanidade há milhares de anos, é possível encontrar múltiplas variedades de milho, com tamanhos, cores e formatos diferentes. As variedades preservadas pela agricultura familiar, não alteradas pela indústria e cultivadas de forma orgânica, são chamadas de “milho crioulo”.

As espécies crioulas possuem variações nutricionais, o que resulta também em variações no sabor. As diferentes espécies se adaptam melhor aos diferentes modos de preparo. Fubás, canjicas, pamonhas e curaus feitos a partir dessas variações possuem sabores e consistências diferentes dos do milho transgênico amplamente utilizado pela indústria.

Weruska Davi, nutricionista, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Ciência, Cultura e Comida (ECCCo) da USP e doutoranda pela Faculdade de Saúde Pública da USP, fala mais sobre o milho crioulo: “Eles têm essas cores justamente porque eles são alimentos vindos de uma produção tradicional. Ele veio ao longo do tempo sendo produzido e sendo modificado naturalmente. Os alimentos vão se conformando à vivência deles ali no solo, o que precisa mais, o que tem no solo de menos que ele precisa se modificar. Ele tem essas cores diferentes porque ele é natural mesmo”.

Soberania e segurança alimentar

Além da riqueza de sabores e de princípios bioativos, as sementes crioulas são importantes na manutenção da biodiversidade e da cultura agrária brasileira. Resultado de anos e anos de cultivo e cruzamentos genéticos, as espécies crioulas são mais adaptadas aos seus próprios territórios, sendo importante na garantia da soberania alimentar e subsistência da agricultura familiar.

“Para o pequeno, para a agricultura familiar, eu não gosto de falar pequeno porque eles não são pequenos, mas para a agricultura familiar, a gente vê que tem uma facilidade por reduzir os insumos aí na hora desse cultivo, então, isso ajuda muito eles também”, explica Weruska. A professora também diz que, com uma menor necessidade de insumos, a plantação do milho crioulo é menos danosa aos ecossistemas próximos, tendo um menor gasto de água e reduzindo a necessidade do uso de agrotóxicos devido aos seus defensivos naturais.

Alimentação e consumo

A introdução do milho crioulo na dieta, com seus formatos, cores e sabores diferentes, é também um meio de combater a monotonia alimentar. Nos grandes centros, é possível encontrar esses alimentos nos mercadões municipais, institutos voltados à agroecologia e produtos orgânicos, feiras voltadas a produtos da agricultura familiar e até mesmo restaurantes. Fora dos ambientes urbanos, Weruska diz que as feiras agroecológicas e até as feiras livres são um bom ambiente para encontrar produtores de milho crioulo. Segundo ela, embora nas feiras livres uma parte dos feirantes traga produtos do Ceasa, alguns vendem seus próprios cultivos. Por meio da conversa e do contato é possível ampliar a rede de conhecimento sobre onde encontrar esses produtos. Vale lembrar que muitos produtores também fazem a venda on-line desses produtos.

Por fim, Weruska completa: “Eu até elenquei aqui, vou fazer uma lista do que a gente pode fazer com o milho crioulo: milho cozido, pamonha, curau, canjica, cuscuz; as quitandas: broa, biscoito, bolo, o próprio fubá vindo do milho crioulo. Eu queria chamar a atenção para a qualidade das receitas que esse milho crioulo pode dar para a gente, que é totalmente diferente de um milho convencional, acho que para as pessoas procurarem mais, procurarem saber, conhecer, experimentar. Eu tenho certeza que não vai ter mais como consumir outro tipo de milho ou os produtos do milho que não seja o crioulo”.

 

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