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O vento microclima e turbulento pode influenciar a propagação do COVID-19 em longas distâncias
Aspartículas respirata³rias expiradas após um espirro podem ser transportadas pelo vento turbulento mais de três vezes mais do que as atuais medidas de distanciamento social ou fa­sico recomendam, relata um novo estudo do Chile
Por Tomislav Meštrović, - 27/04/2020


Estudo: COVID-19. Transporte de gota­culas respirata³rias em um cena¡rio urbano
microclimatola³gico. Crédito de imagem: Elizaveta Galitckaia / Shutterstock

A pandemia global da doença por coronava­rus (COVID-19) écausada por coronava­rus 2 da sa­ndrome respirata³ria aguda grave (SARS-CoV-2). Sem vacina ou tratamentos dispona­veis, as intervenções se concentraram na quarentena, rastreamento de contatos e distanciamento social.

Embora recentemente, uma mira­ade de estudos visava abordar a disseminação de gota­culas respirata³rias pelo ar, tratavam principalmente de situações internas ou externas - sem levar em consideração cenários representativos da vida real.

Consequentemente, atenção inadequada tem sido dada a  propagação de gota­culas respirata³rias em condições externas sob vento turbulento microclimatola³gico, que éde considera¡vel importa¢ncia dada a atual pandemia de COVID-19.

a‰ por isso que pesquisadores chilenos do MSET Chile SpA, Departamento de Engenharia Meca¢nica da Faculdade de Engenharia da Universidade de Concepcia³n, bem como do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Aquicultura (INCAR) de Concepcia³n, decidiram realizar uma simulação realista delineada em seu novo artigo dispona­vel em medRxiv .

A falta de evidaªncias sãolidas

O Dr. David L. Heymann, professor de epidemiologia de doenças infecciosas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (e uma das figuras proeminentes durante o surto de SARS), alertou em seu recente TED Talk que a propagação do COVID-19 no aberto era uma das inca³gnitas importantes ainda a serem realizadas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) comunicou recentemente que não háfortes evidaªncias para a adoção de medidas contra o conta¡gio de transporte aanãreo para o COVID-19. Ainda assim, enfatizou a necessidade de se afastar um metro de tossir ou espirrar indiva­duos.

No entanto, isso foi frequentemente mal interpretado pela ma­dia; a falta de transmissão aerotransportada documentada na verdade não significa que a doença não possa ser transmitida por via aanãrea em um cena¡rio urbano microclimatola³gico.

Ainda assim, a falta de consenso sobre esse assunto éuma questãoardente na comunidade cienta­fica. Embora o material do RNA viral tenha sido detectado muito mais além do que se pensava anteriormente, houve uma grave falta de pesquisas necessa¡rias para estimar o potencial infeccioso com precisão suficiente.

Uma simulação realista do ambiente externo

Como uma equipe de pesquisa especializada na modelagem do fluxo de fluidos, os autores realizaram sua pesquisa preditiva simulando a dispersão de gota­culas polidispersas multidimensionais exaladas durante um espirro em um ambiente urbano microclimatola³gico.

Seu modelo foi baseado na Computational Fluid Dynamics (CFD), e o cena¡rio microclimatola³gico utilizou um vento de intensidade média simulado empregando uma simulação de grande redemoinho modelada em parede ( ou seja, uma técnica bem descrita para simular fluxos turbulentos).

Finalmente, a dispersão de gota­culas e sua interação subsequente com o campo de velocidade foram descritas usando uma abordagem lagrangiana (também conhecida como abordagem baseada empartículas). Todas essas etapas metodola³gicas foram fundamentais para alcana§ar condições exteriores realistas.

Spread de longa distância

"Nossos resultados indicam que o efeito do microclima émuito relevante sobre a propagação de gota­culas, onde a dispersão éaumentada pelo vento turbulento", explica os autores do estudo.


O vento de intensidade moderada pode transportar gota­culas respirata³rias de tamanho maior (entre 400 e 900 micra´metros) atéuma distância de cinco metros em um ambiente urbano - e isso acontece em alguns segundos.

Ainda mais importante, gota­culas menores (entre 100 e 200 micra´metros) podem ser transportadas até11 metros em 14 segundos, o que évárias vezes mais do que as recomendações de segurança constantemente citadas.

"Embora eles permitam ter uma ideia da dina¢mica, são diferentes de uma condição realista ao ar livre, onde a circulação humana tende a ser mais despreocupada ou inconsciente em relação aos seus efeitos adversos e pode causar uma sensação de segurança defeituosa", enfatizam os autores do estudo .


Em direção a medidas de distanciamento mais ra­gidas?

Com base no cena¡rio realista simulado, esses resultados mostram que aspartículas exaladas após um espirro podem ser transportadas pelo vento turbulento mais de três vezes além das distâncias recomendadas de segurança sugeridas durante a pandemia COVID-19 real.

"Dada a incerteza de possí­vel conta¡gio por esse caminho e com esse alcance, esses esforços tem a intenção de contribuir para esclarecer a possibilidade de adotar medidas mais ra­gidas de autocuidado e distanciamento", alertam os autores do estudo.


No entanto, para determinar o risco real de conta¡gio nas distâncias mencionadas acima (e especialmente considerando o dia¢metro dessaspartículas), mais estudos devem ser realizados. A conclusão final precisa aguardar outras abordagens, mesmo testes in vivo em voluntários.

 

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