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Como os mosquitos transmissores de doenças evolua­ram para se especializar em nos morder
Existem dois caminhos. Um leva ao braa§o de Noah Rose, pesquisador de pa³s-doutorado na Universidade de Princeton. O outro leva a uma cobaia.
Por Jerimiah Oetting - 25/07/2020


Os  mosquitos Aedes aegypti são especializados em picadas de seres humanos e são os principais vetores de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. Com a ajuda de colaboradores internacionais, a pesquisadora de pa³s-doutorado de Princeton, Noah Rose, e a professora Carolyn McBride, revelaram que as estações secas intensas e a urbanização regional impulsionam a tendaªncia desses mosquitos de procurar hospedeiros humanos. O novo artigo fornece um insights sobre como esse comportamento evoluiu e sugere que o aumento da urbanização pode levar mais mosquitos a buscar seres humanos no futuro.
Foto de Noah H. Rose

Para algumas espanãcies de mosquitos, sua preferaªncia por seres humanos revela algo sobre sua evolução - e a ecologia de seus lares ancestrais. Uma nova pesquisa, publicada em 23 de julho na revista Current Biology , identifica os componentes genanãticos subjacentes a  afinidade dos mosquitos Aedes aegypti pelos seres humanos e indica que seu comportamento de busca por seres humanos pode ser atribua­do a duas condições ambientais: clima e urbanização.

As descobertas podem explicar por que os mosquitos evolua­ram a preferaªncia humana - e como asmudanças climáticas e a crescente urbanização podem gerar maior atração humana no futuro.

"A evolução do mosquito estãorelacionada a  história da humanidade", disse Rose , a primeira autora do estudo, liderada por pesquisadores de Princeton e que inclui uma equipe internacional de colaboradores. "Eles evolua­ram em resposta amudanças na maneira como os humanos vivem, se espalharam pelo mundo em resposta a eventos hista³ricos e estãoespalhando doenças de uma maneira que reflete isso."

Uma pequena fração das cerca de 3.500 espanãcies conhecidas de mosquitos evoluiu para se especializar em morder seres humanos. Sa£o essas espanãcies responsa¡veis ​​pela grande maioria das doenças transmitidas por mosquitos sofridas em todo o mundo. Um exemplo, A. aegypti , éo principal vetor de doenças como dengue, zika, chikungunya e febre amarela . Esta espanãcie espalha doenças que fazem mais de 100 milhões de pessoas doentes a cada ano.

"O que diferencia essa espanãcie éque ela tem como alvo especa­fico os seres humanos", disse Carolyn "Lindy" McBride , professora assistente de ecologia e biologia evolutiva e Neurociênciada Universidade de Princeton e principal autora do artigo.

Mas nem todos os indivíduos dessa espanãcie mostram a mesma afinidade pelos seres humanos. McBride, Rose e seus colegas queriam explorar quais fatores ecola³gicos poderiam levar alguns deles a caçar seres humanos especificamente.

Para fazer isso, os pesquisadores coletaram ovos de A. aegypti de 27 locais, representando a diversidade de habitats encontrados em toda a regia£o nativa da espanãcie na áfrica subsaariana. Esses locais inclua­am terras em setepaíses e variavam de áreas urbanas densas a florestas remotas. Eles também variavam climaticamente, de áreas quentes e secas a áreas mais aºmidas e mais frias.

Os pesquisadores criaram 50 cola´nias de mosquitos derivadas dos ovos coletados em laboratório. Em seguida, eles colocam os mosquitos em um olfata´metro de duas portas - um dispositivo que incentiva os mosquitos a seguir seu olfato por um de dois caminhos: um tubo que leva a um ser humano - representado pelo braa§o de Rose - e outro que leva a um porquinho-da-a­ndia. (As telas estrategicamente colocadas impediram danos a Rose e a s cobaias neste estudo).

Os cientistas combinaram seus resultados com dados ecola³gicos dos locais onde coletaram os ovos dos mosquitos. Os resultados mostraram que os mosquitos de áreas com estações secas longas e intensas preferiam os seres humanos. Em menor grau, a alta densidade populacional humana regional também foi um preditor de mosquitos mais atraa­dos pelos seres humanos.

"Nãoera viver com pessoas que faziam mosquitos se especializarem em morder seres humanos", disse Rose. "Na verdade, eles estavam se adaptando a esses lugares realmente quentes e secos, onde viviam intimamente com os seres humanos".

A descoberta apoia uma teoria de que os mosquitos evolua­ram para procurar seres humanos devido a  nossa capacidade única de armazenar águadurante as estações secas.

Panela de barro usada para armazenar águaem clima seco
Recipientes de armazenamento de águaem cera¢mica, como este visto no Senegal,
fornecem condições ideais de reprodução para mosquitos e podem ter levado a
comportamentos de busca humana em áreas onde a águaera escassa.
Foto de Noah H. Rose

Os mosquitos faªmeas, responsa¡veis ​​por todas as picadas, precisam de sangue para produzir seus ovos. Mas seus ovos também precisam de águapara chocar. E os humanos, armazenando águaem locais acessa­veis quando era escasso, forneceram aos mosquitos todo o sangue e águade que precisavam. Para esses mosquitos, procurar cheiros humanos tornou-se uma caracterí­stica vantajosa.

"Isso érealmente interessante, porque nos da¡ uma imagem emocionante de como o salto para os hospedeiros humanos aconteceu", disse Rose.

Os pesquisadores deram um passo adiante, sequenciando completamente o genoma de 375 mosquitos. Eles compararam o genoma de mosquitos famintos por humanos com mosquitos menos exigentes. Isso revelou certos "pontos cra­ticos" dentro do genoma que contribuem para a preferaªncia humana.

"Quando vemos esses genes fluindo para novas populações, os mosquitos nessas populações comea§am a morder os seres humanos", explicou Rose.

Suas descobertas produziram um modelo para prever como o comportamento dos mosquitos pode mudar nos pra³ximos 30 anos. Com a rápida urbanização na áfrica Subsaariana, éprova¡vel que a mudança na preferaªncia dos mosquitos por hospedeiros humanos aumente, dizem os autores.

"Na escala de décadas, as cidades estãodobrando e triplicando de tamanho", disse Rose. "A rápida urbanização provavelmente promovera¡ aumentos no comportamento de morder seres humanos".

A mudança climática éoutro fator, aumentando a taxa de desertificação e causando mais das condições que produziram comportamentos de morder humanos. Mas a taxa de urbanização na áfrica subsaariana superara¡ a mudança climática, argumentam os autores.

"[O clima] estãomudando, mas não estãomudando rápido o suficiente e das maneiras certas para causar grandesmudanças de preferaªncia [até2050]", disse Rose.

Daniel Neafsey, professor assistente da Escola de Saúde Paºblica de Harvard TH Chan, que não participou do estudo, disse que o artigo destaca como os seres humanos tem um impacto na ecologia que causa doenças transmitidas por mosquitos.

“a‰ um estudo realmente surpreendente e multidisciplinar, incorporando comportamento, gena´mica e fatores eco-geogra¡ficos” para descrever a preferaªncia de mordidas humanas em mosquitos, disse Neafesy.

A colaboração foi uma parte essencial da conclusão da pesquisa, disse Rose, não apenas entre as disciplinas, mas entre os setepaíses africanos onde o trabalho ocorreu. Pesquisadores de instituições do Senegal, Burkina Faso, Gana, Niganãria, Gaba£o, Uganda e Quaªnia contribua­ram. Rose disse que se apoiaram fortemente nesses cientistas.

"Ha¡ muitos colaboradores neste trabalho, e isso ajudou uma quantidade enorme", disse Rose.

“O clima e a urbanização conduzem a preferaªncia do mosquito pelos seres humanos”, de Noah H. Rose, Massamba Sylla, Athanase Badolo, Joel Lutomiah, Diego Ayala, Ogechukwu B. Aribodor, Nnenna Ibe1, Jewelna Akorli, Sampson Otoo, John Paul Mutebi e Alexis L. Kriete, Eliza G. Ewing, Rosemary Sang, Andrea Gloria-Soria, Jeffrey R. Powell, Rachel E. Baker, Bradley J. White, Jacob E. Crawford e Carolyn S. McBride, foi publicado na revista Current Biology em julho. 23, 2020. DOI: https://doi.org/10.1016/j.cub.2020.06.092. Este trabalho foi financiado pelos Pew Charitable Trusts Scholars, pelo Programa Searle Scholars, pelo programa de bolsas da Fundação Esther A. & Joseph Klingenstein-Simons, pelo programa de jovens investigadores da Fundação Gruber Rosalind Franklin, pelo programa de pa³s-doutorado da Fundação Helen Hay Whitney, pelo programa de pa³s-doutorado da Fundação Helen Hay Whitney, pela Verily Life Sciences para todo o sequenciamento de genoma, a New York Stem Cell Foundation, os Institutos Nacionais de Saúde (bolsas R00DC012069, R01AI101112 e U01AI115595) e financiamento de tese de graduação do Departamento de Ecologia e Biologia Evolutiva da Universidade de Princeton e do Programa de Estudos Africanos.

 

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