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Estudo examina como as guerras civis afetam as populações de animais selvagens
O estudo sugere que as guerras civis empaíses de baixa governana§a podem ter impactos positivos e negativos sobre as populaa§aµes de vida selvagem nativa, dependendo das escalas de espaço e tempo, mas a tendaªncia geral énegativa.
Por University of East Anglia - 14/09/2020


Bushbuck kewel (Tragelaphus scriptus), a espanãcie mais comum de caça no período pa³s-guerra. Crédito: Franciany Braga-Pereira

Um novo estudo revela de forma abrangente como as guerras civis afetam a vida selvagem empaíses afetados por conflitos.

Pesquisadores da University of East Anglia (UEA), no Reino Unido, da Universidade Federal da Paraa­ba (UFPB), Brasil, e da Universidade Agostinho Neto (UAN), em Angola, descobriram que os principais impactos das guerras civis sobre os mama­feros nativos são frequentemente indiretos , em última análise, decorrentes demudanças institucionais e socioecona´micas, ao invanãs de ta¡ticas militares diretas.

O aumento do acesso a armas automa¡ticas e a suspensão das patrulhas anti-caça furtiva foram as principais causas do colapso da população de vida selvagem, enquanto a instalação de bases militares dentro das principais áreas de conservação, a caça excessiva de mama­feros de grande porte e os novos assentamentos de refugiados deslocados também afetaram fortemente as espanãcies.

Publicado hoje na revista Scientific Reports , o estudo sugere que as guerras civis empaíses de baixa governana§a podem ter impactos positivos e negativos sobre as populações de vida selvagem nativa, dependendo das escalas de espaço e tempo, mas a tendaªncia geral énegativa.

Os autores alertam que, mesmo durante os tempos de paz do pa³s-guerra, as populações de mama­feros selvagens não conseguira£o se recuperar enquanto as populações rurais que vivem empaíses devastados pela guerra permanecerem armadas e os regulamentos de gestãoda vida selvagem não puderem ser aplicados. Eles clamam por políticas internacionais robustas que podem prevenir as consequaªncias da guerra, alertando que a restauração das populações esgotadas de vida selvagem pode levar muitas décadas e requer esforços de intervenção ativos.

Serval (Leptailurus serval). Crédito: Franciany Braga-Pereira

As guerras civis muitas vezes coincidem com hotspots de biodiversidade global, no entanto, pouco se sabe sobre como elas afetam a vida selvagem. Este estudo atraiu conhecimentos ecola³gicos locais para avaliar pela primeira vez as principais consequaªncias de uma prolongada guerra civil no Sudoeste da áfrica sobre os mama­feros da floresta e savana, usando Angola como estudo de caso. Opaís éo lar de pelo menos 275 espanãcies de mama­feros, muitos deles historicamente caçados pelas comunidades locais antes, durante e depois da guerra civil angolana intermitente de 27 anos (1975-2002).

Na principal área protegida de Angola, Parque Nacional da Quia§ama e Reserva de Caa§a da Quia§ama, a abunda¢ncia de 20 das 26 espanãcies de mama­feros selvagens estudadas foi 77 por cento menor após a guerra em comparação com a linha de base do pré-guerra, particularmente para espanãcies de grande porte, como elefantes em ambientes de savana aberta. Significativamente, esse decla­nio não foi revertido atéo final do período pa³s-guerra (2002-2017).
 
Franciany Braga-Pereira, uma doutora em Zoologia. candidato pela UFPB, conduziu o estudo. Sra. Braga-Pereira disse: "Atualmente, 36países em todo o mundo estãopassando por guerras civis e a maioria desses conflitos são alimentados ou financiados por interesses internacionais ou começam após uma intervenção externa.

“Esses conflitos internacionalizados são mais prolongados e menos propensos a encontrar uma solução pola­tica. Portanto, considerando medidas que podem reduzir o impacto da guerra sobre a vida selvagem, enfatizamos a cumplicidade intencional ou inadvertida de potaªncias estrangeiras, que devem promover políticas que mitiguem os danos ambientais impactos dos conflitos armados. "

area de savana outrora ocupada por centenas de cabea§as de baºfalo.
Crédito: Franciany Braga-Pereira

O coautor, Prof Carlos Peres, da Escola de Ciências Ambientais da UEA, disse: "Ospaíses em desenvolvimento de baixa governana§a estãolutando como estão, mesmo em tempos de paz, para proteger seus recursos de vida selvagem, não importando as colossais consequaªncias adversas da quebra da lei - e -ordem provocada por uma guerra civil. No entanto, não existem mecanismos internacionais adequados para implantar forças de paz para manter o status quo das populações vulnera¡veis ​​de vida selvagem em partes problema¡ticas do mundo. "

A pesquisa envolveu entrevistas com caçadores locais especializados, que revelaram que mama­feros de grande porte, como baºfalos vermelhos, kudu e zibelinas, eram os alvos preferenciais que haviam sido caçados durante a guerra. Amedida que suas populações se esgotavam cada vez mais, a estrutura de tamanho das espanãcies de presas gradualmente mudou para espanãcies de corpo menor, por exemplo, porco-do-mato, kewel-bushbuck e duilker azul, durante o período pa³s-guerra. No entanto, uma vez que o esgotamento na floresta foi menor do que na savana, os caçadores que operavam em áreas florestais foram ocasionalmente capazes de matar espanãcies maiores no período pa³s-guerra.

Em seu modelo de como as guerras civis afetam a vida selvagem, os autores explicam que a guerra civil pode ser uma faca de dois gumes, resultando também em decla­nios nas indaºstrias extrativas, como petra³leo, mineração e agronega³cio, que podem beneficiar a vida selvagem , e zonas desmilitarizadas e de minas terrestres, o que desestimula severamente os assentamentos humanos e os caçadores de animais selvagens, criando assim potenciais refaºgios de caça como áreas passivas de 'proibição de captura'.

 

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