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O Oceano artico foi coberto por uma plataforma de gelo e preenchido com águadoce
Cerca de 60.000 a 70.000 anos atrás, em uma parte particularmente fria do último período glacial, grandes partes do norte da Europa e da Amanãrica do Norte estavam cobertas por mantos de gelo.
Por Alfred Wegener Institute - 04/02/2021


Em períodos glaciais com baixoníveldo mar, o interca¢mbio com o Paca­fico foi interrompido e o interca¢mbio com o Atla¢ntico Norte foi extremamente reduzido, enquanto a bacia do artico ainda estava recebendo entrada de águadoce. A troca são poderia ocorrer por meio de passagens estreitas na Groenla¢ndia-Esca³cia-Ridge. A sequaªncia de três esboa§os mostra (1) um período de renovação do Oceano artico seguido por (2) a liberação de águadoce para o Atla¢ntico Norte, quando a águasalgada entrou no Oceano artico e (3) o derretimento repentino da camada de gelo do artico após contato com a águarelativamente quente e salgada do Atla¢ntico. Crédito: Alfred Wegener Institute / Martin Ka¼nsting

O Oceano artico foi coberto por uma plataforma de gelo de até900 metros de espessura e foi preenchido inteiramente com águadoce pelo menos duas vezes nos últimos 150.000 anos. Esta descoberta surpreendente, relatada na última edição da revista Nature, éo resultado de pesquisas de longo prazo de cientistas do Instituto Alfred Wegener e do MARUM. Com uma análise detalhada da composição dos depa³sitos marinhos, os cientistas puderam demonstrar que o oceano artico, assim como os mares na³rdicos, não continham sal marinho em pelo menos dois períodos glaciais. Em vez disso, esses oceanos foram preenchidos com grandes quantidades de águadoce sob um espesso escudo de gelo. Essa águapoderia então ser lana§ada no Atla¢ntico Norte em períodos muito curtos de tempo. Essas entradas repentinas de águadoce poderiam explicar as oscilações climáticas rápidas para as quais nenhuma explicação satisfata³ria havia sido encontrada anteriormente.

Cerca de 60.000 a 70.000 anos atrás, em uma parte particularmente fria do último período glacial, grandes partes do norte da Europa e da Amanãrica do Norte estavam cobertas por mantos de gelo. O manto de gelo europeu mede uma distância de mais de 5.000 quila´metros, da Irlanda e Esca³cia, passando pela Escandina¡via, atéa borda oriental do Mar de Kara (Oceano artico). Na Amanãrica do Norte, grandes partes do que hoje éconhecido como Canada¡ foram enterradas sob duas grandes camadas de gelo. A Groenla¢ndia e partes do litoral do Mar de Bering também estavam congeladas. Como era a situação do gelo ainda mais ao norte, no Oceano artico? Estava coberto por um espesso gelo marinho ou talvez com as la­nguas dessas vastas camadas de gelo flutuassem sobre ele, muito além do Pa³lo Norte?

As respostas cienta­ficas a essas perguntas tem sido mais ou menos hipotanãticas atéagora. Em contraste com os depa³sitos terrestres, onde rochas irregulares, morenas e vales glaciais são os marcos a³bvios das geleiras, apenas alguns vesta­gios de vastas plataformas de gelo foram encontrados atéagora no Oceano artico. Geocientistas do Alfred Wegener Institute Helmholtz Center for Polar and Marine Research (AWI) e do MARUM Center for Marine Environmental Sciences da Universidade de Bremen já compilaram evidaªncias existentes do Oceano artico e dos mares na³rdicos e as combinaram com novos dados para chegar em uma conclusão surpreendente.

De acordo com o estudo, as partes flutuantes dos mantos de gelo do norte cobriram grandes partes do oceano artico nos últimos 150.000 anos. Uma vez hácerca de 70.000-60.000 anos e também cerca de 150.000-130.000 anos atrás. Em ambos os períodos, a águadoce se acumulou sob o gelo, criando um oceano artico completamente fresco por milhares de anos.

"Esses resultados significam uma mudança real em nossa compreensão do Oceano artico em climas glaciais. Pelo que sabemos, esta éa primeira vez que uma renovação completa do Oceano artico e dos Mares Na³rdicos foi considerada - acontecendo não apenas uma, mas duas vezes , "diz o primeiro autor, Dr. Walter Geibert, geoqua­mico do Instituto Alfred Wegener.

Thorium estãoausente nos sedimentos, então águasalina deve estar ausente

Sua descoberta ébaseada em análises geola³gicas de dez núcleos de sedimentos de diferentes partes do Oceano artico, do Estreito de Fram e dos mares na³rdicos. Os depa³sitos empilhados refletem a história do clima dos últimos glaciais. Ao investigar e comparar os registros de sedimentos, os geocientistas descobriram que faltava um indicador importante, sempre nos mesmos dois intervalos. “Na águasalgada do mar, a decomposição do ura¢nio natural sempre resulta na produção do isãotopo ta³rio-230. Essa substância se acumula no fundo do mar, onde permanece detecta¡vel por muito tempo devido a  sua meia-vida de 75.000 anos , "Walter Geibert explica.
 
Portanto, os gea³logos costumam usar esse isãotopo de ta³rio como um rela³gio natural. "Aqui, sua ausaªncia repetida e generalizada éa da¡diva que nos revela o que aconteceu. De acordo com nosso conhecimento, a única explicação razoa¡vel para esse padrãoéque o oceano artico foi preenchido com águadoce duas vezes em sua história mais jovem - em congelados e forma la­quida ”, explica a coautora e micropalaeontologista Dra. Jutta Wollenburg, também do AWI.

Uma nova imagem do Oceano artico

Como pode uma grande bacia ocea¢nica , conectada por vários estreitos com o Atla¢ntico Norte e o Oceano Paca­fico, tornar-se inteiramente nova? "Tal cena¡rio épercepta­vel se percebermos que em períodos glaciais , os na­veis globais do mar eram até130 m mais baixos do que hoje, e as massas de gelo no artico podem ter restringido ainda mais a circulação do oceano", afirma o coautor Professor Ruediger Stein, gea³logo na AWI e no MARUM.

Conexaµes rasas como o estreito de Bering ou os sons do arquipanãlago canadense estavam acima doníveldo mar na anãpoca, cortando totalmente a conexão com o oceano Paca­fico. Nos mares na³rdicos, grandes icebergs ou mantos de gelo estendendo-se atéo fundo do mar restringiam a troca de massas de a¡gua. O fluxo das geleiras, o derretimento do gelo no vera£o e os rios que drenam para o Oceano artico continuam fornecendo grandes quantidades de águadoce ao sistema, pelo menos 1.200 quila´metros caºbicos por ano. Uma parte dessa quantidade teria sido forçada atravanãs dos mares na³rdicos atravanãs das conexões mais profundas estreitas e esparsas na cordilheira Groenla¢ndia-Esca³cia para o Atla¢ntico Norte, impedindo a águasalgada de penetrar mais ao norte. Isso resultou na renovação do Oceano artico.

"Uma vez que o mecanismo das barreiras de gelo falhou, a águasalina mais pesada poderia encher o Oceano artico novamente", disse Walter Geibert. "Acreditamos que isso poderia deslocar rapidamente a águadoce mais leve, resultando em uma descarga repentina da quantidade acumulada de águadoce sobre a fronteira sul rasa dos mares na³rdicos, a Groenla¢ndia-Esca³cia-Ridge, no Atla¢ntico Norte."

Um conceito que assume que enormes quantidades de águadoce foram armazenadas no Oceano artico e disponí­veis para liberação rápida ajudaria a entender a conexão entre uma sanãrie de flutuações climáticas anteriores. Tambanãm ofereceria uma explicação para algumas discrepa¢ncias aparentes entre as diferentes maneiras de reconstruir os na­veis do mar anteriores. "Os restos de recifes de coral apontam para umníveldo mar um pouco mais alto em certos períodos frios do que as reconstruções a partir de núcleos de gelo da Anta¡rtica ou reconstruções de conchas calca¡rias de pequenos organismos marinhos", explica Walter Geibert. "Se agora aceitarmos que a águadoce pode não apenas ter sido armazenada na forma sãolida na terra, mas também parte dela na forma la­quida no oceano,

A liberação de águadoce do Oceano artico também pode servir como uma explicação para alguns eventos de mudança climática abrupta durante o último período glacial. Durante esses eventos, as temperaturas na Groenla¢ndia podem subir de 8 a 10 graus centa­grados em poucos anos, somente retornando a s temperaturas glaciais frias originais ao longo de centenas ou milhares de anos. "Vemos um exemplo aqui de um ponto de inflexa£o do sistema terrestre para o clima a¡rtico do passado. Agora, precisamos investigar mais detalhadamente como esses processos foram interconectados e avaliar como esse novo conceito do oceano artico ajuda a fechar novas lacunas em nosso conhecimento , em particular tendo em vista os riscos dasmudanças climáticas causadas pelo homem ", diz Walter Geibert.

 

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