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Descontrole do clima acabara¡ com espanãcies da fauna e da flora ainda neste século
A maioria das plantas e dos animais, em especial os que não podem se refugiar em outros habitats, seria salva pelo Acordo de Paris
Por Sidney Coutinho - 13/04/2021


As tartarugas marinhas da costa brasileira podem desaparecer com o aquecimento global | Crédito: Creative Commons

Em conjunto com cientistas da andia, áfrica do Sul, Nova Zela¢ndia, Inglaterra, Alemanha e Trindade e Tobago, pesquisadoras da UFRJ divulgaram um alerta sobre a extinção de espanãcies de plantas e animais nos lugares mais biodiversos do mundo se as emissaµes de gases de efeito-estufa continuarem a aumentar. A equipe global de cientistas, liderada por Stella Manes e Mariana Vale, do Instituto de Biologia (IB/UFRJ), analisou quase 300 hotspots de biodiversidade − lugares com números excepcionalmente altos de espanãcies animais e vegetais − em terra e no mar. Para Mariana Vale, uma das autoras do estudo cienta­fico, manter a temperatura nas metas climáticas do Acordo de Paris ou abaixo do estabelecido salvaria a maioria das espanãcies.

Os pesquisadores verificaram que os animais endaªmicos, aqueles que são ocorrem em regiaµes exclusivas do planeta, tem 2,7 vezes mais probabilidade de extinção do que outras espanãcies se persistir o descontrole nas emissaµes de gases nocivos, impactando seus habitats aºnicos. Além disso, lugares como as ilhas do Caribe, Madagascar e Sri Lanka podera£o ver a maioria de suas plantas endaªmicas se extinguindo logo em 2050. Os tra³picos são especialmente vulnera¡veis, com mais de 60% das espanãcies endaªmicas ameaa§adas de extinção devido apenas a  mudança climática.

As políticas atuais colocam o mundo no caminho de 3°C de aquecimento. Nesse cena¡rio, um tera§o das espanãcies endaªmicas que vivem em terra e cerca da metade das espanãcies endaªmicas que vivem no mar enfrentara£o a extinção. Nas montanhas, 84% dos animais e plantas endaªmicas podem ser extintas a essas temperaturas, enquanto nas ilhas esse número sobe para 100%. Em geral, 92% das espanãcies endaªmicas terrestres e 95% das endaªmicas marinhas sofrera£o consequaªncias negativas, como redução de populações. 

“A mudança climática ameaça áreas transbordantes de espanãcies que não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do mundo. O risco de que tais espanãcies se percam para sempre aumenta mais de dez vezes se falharmos os objetivos do Acordo de Paris”, afirma Manes, autora principal do estudo. Ela também acredita na possibilidade de a maioria das espanãcies endaªmicas sobreviver, caso ospaíses reduzam as emissaµes conforme o Acordo de Paris, que visa a manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C (idealmente a 1,5°C).

Segundo o estudo, apenas 2% das espanãcies terrestres endaªmicas e 2% das espanãcies marinhas endaªmicas enfrentam a extinção a 1,5ºC. Esses números mais que dobram a 2ºC e, se o aquecimento chegar a 3ºC, saltam para 20% e 32% para espanãcies endaªmicas terrestres e marinhas, respectivamente. Para Manes, hápouco conhecimento sobre o valor da biodiversidade. “Quanto maior for a diversidade de espanãcies, maior seráa saúde da natureza. A diversidade também protege contra ameaa§as como asmudanças climáticas. Uma natureza sauda¡vel fornece contribuições indispensa¡veis a s pessoas, como a¡gua, alimentos, materiais, proteção contra desastres, recreação e conexões culturais e espirituais.”

De acordo com Mariana Vale, o estudo mostra que pontos ricos de biodiversidade não podera£o atuar como porto seguro contra asmudanças climáticas. “Confirmamos nossas suspeitas de que espanãcies endaªmicas estariam particularmente ameaa§adas pelasmudanças climáticas. Isso poderia aumentar muito as taxas de extinção em todo o mundo, uma vez que essas regiaµes ricas em biodiversidade estãorepletas de espanãcies endaªmicas”, explica a pesquisadora.

As espanãcies endaªmicas incluem alguns dos animais e plantas ica´nicos no mundo, como os micos-leaµes do Brasil, que podem perder mais de 70% de seu habitat até2080. De acordo com o estudo, a Amanãrica do Sul seráuma das regiaµes mais afetadas exatamente por ter importantes hotspots de biodiversidade, com até30% de todas as suas espanãcies endaªmicas em alto risco de extinção. As ilhas do Caribe podem perder a maioria de suas plantas endaªmicas atémetade do século, e os recifes de coral da regia£o também podem desaparecer. 

As tartarugas marinhas, que aninham em muitas praias da Amanãrica do Sul e Central, são vulnera¡veis ao aumento da temperatura. No Havaa­, plantas nativas ica´nicas, como a palavra-de-prata Haleakalā, poderiam se extinguir, assim como aves nativas simba³licas, como os honeycreepers havaianos. Outras espanãcies ameaa§adas de extinção pelasmudanças climáticas incluem laªmures, exclusivos de Madagascar, o leopardo-das-neves, caractera­stico dos Himalaias, além de plantas medicinais como o la­quen Lobaria pindarensis, usado para aliviar a artrite.

Para Wolfgang Kiessling, especialista em vida marinha da Universidade Friedrich-Alexander Erlangen-Na¼rnberg e coautor do estudo, espanãcies exa³ticas introduzidas em um determinado habitat se beneficiam quando as espanãcies endaªmicas são extintas. “Nosso estudo mostra que um mundo uniforme e provavelmente sem graça estãoa  nossa frente devido a  mudança climática.” Já Mark Costello, especialista em vida marinha da Universidade Nord e da Universidade de Auckland, outro coautor da pesquisa, explica que, pela própria natureza, essas espanãcies endaªmicas não podem se deslocar facilmente para ambientes mais favoráveis . “As análises indicam que 20% de todas as espanãcies estãoameaa§adas de extinção devido a  mudança climática nas próximas décadas, a menos que atuemos agora.”

Os cientistas, todavia, ressaltam que épossí­vel evitar a extinção em massa se ospaíses reduzirem as emissaµes em conformidade com o Acordo de Paris. Fortes compromissos dos lideres globais antes da Conferência do Clima em Glasgow, na Esca³cia, no final deste ano, podem colocar o mundo no caminho certo para cumprir o Acordo de Paris e evitar a destruição generalizada de alguns dos maiores tesouros naturais do mundo.

 

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