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Esta floresta permaneceu selvagem por 5.000 anos - podemos dizer por causa do solo
a€s vezes pensamos na floresta amaza´nica como inalterada pelos humanos, uma espiada no passado do planeta. Nos últimos anos, os cientistas aprenderam que muitas partes da Amaza´nia não são intocadas
Por r Field Museum - 07/06/2021


Vista aanãrea da regia£o de Putumayo da floresta amaza´nica no Peru. Crédito: Alvaro del Campo, Museu do Campo

a€s vezes pensamos na floresta amaza´nica como inalterada pelos humanos, uma espiada no passado do planeta. Nos últimos anos, os cientistas aprenderam que muitas partes da Amaza´nia não são intocadas - elas foram cultivadas por povos inda­genas por milhares de anos e, hálguns séculos, eram locais de cidades e fazendas. Mas esse não éo caso em todos os lugares. Em um novo estudo no PNAS , os pesquisadores determinaram que uma floresta tropical na regia£o de Putumayo do Peru abrigou uma floresta relativamente inalterada por 5.000 anos, o que significa que as pessoas que viveram la¡ encontraram uma maneira de longo prazo de coexistir com a natureza - e a a evidência estãoem pedaço s microsca³picos de sa­lica e carva£o no solo.

"a‰ muito difa­cil atémesmo para ecologistas experientes dizer a diferença entre uma floresta de 2.000 anos e uma floresta de 200 anos", diz Nigel Pitman, ecologista do Museu Field de Chicago e coautor do artigo PNAS . “Ha¡ cada vez mais pesquisas mostrando que muitas florestas amaza´nicas que consideramos selvagens tem, na verdade, apenas 500 anos, porque foi quando as pessoas que viviam la¡ morreram devido a s pandemias trazidas pelos europeus, e a floresta voltou a crescer”.

"Longe de implicar que assentamentos humanos complexos e permanentes na Amaza´nia não tiveram influaªncia sobre a paisagem em algumas regiaµes, nosso estudo adiciona substancialmente mais evidaªncias indicando que a maior parte do sanãrio impacto da população inda­gena sobre o ambiente florestal estava concentrada nos solos ricos em nutrientes pra³ximos rios, e que o uso da floresta tropical ao redor era sustenta¡vel, não causando perdas ou distúrbios de espanãcies detecta¡veis, ao longo de milaªnios ", disse Dolores Piperno, pesquisadora do Smithsonian Tropical Research Institute e primeira autora do estudo.

Muitas plantas absorvem a sa­lica do solo e a usam para produzirpartículas minerais microsca³picas chamadas fita³litos, que fornecem suporte estrutural. Depois que uma planta morre, esses fita³litos permanecem no solo por milhares de anos. Diferentes tipos de plantas produzem fita³litos de formatos diferentes, o que significa que os fita³litos no solo podem ser usados ​​para determinar quais tipos de plantas viveram la¡ no passado.

Para este estudo, Piperno e sua colega Crystal McMichael da Universidade de Amsterda£ precisaram de amostras de solo da regia£o de Putumayo da floresta amaza´nica no nordeste do Peru. Foi aa­ que Pitman entrou. Em seu trabalho com o Field's Keller Science Action Center, Pitman participa de "inventa¡rios rápidos" da Amaza´nia, viagens intensivas de coleta de informações para documentar as plantas e animais de uma regia£o e construir relacionamentos com as pessoas que morar la¡, a fim de ajudar a construir um caso de proteção da área. Piperno e McMichael entraram em contato com Pitman, um bota¢nico, e perguntaram se ele seria capaz de coletar amostras de solo enquanto fazia o inventa¡rio das a¡rvores da regia£o do Putumayo.

"Os três ou quatro dias em que ficamos em um desses locais parecem uma maratona. Temos que fazer muita coisa em um período de tempo muito curto e, por isso, acordamos muito cedo, ficamos acordados atémuito tarde , e de alguma forma esses núcleos de solo tiveram que ser retirados ao mesmo tempo ", diz Pitman. "a€s vezes, coleta¡vamos o solo a  meia-noite ou durante tempestades, quando não poda­amos inspecionar as a¡rvores."
 
Para coletar o solo, Pitman e seus colegas, incluindo os associados do Museu de Campo Juan Ernesto Guevara Andino, Marcos Ra­os Paredes e Luis A. Torres Montenegro, usaram uma ferramenta chamada trado. "a‰ um longo poste de metal com lâminas na parte inferior e, quando vocêo enfia no cha£o e o gira, ele esculpe uma coluna de solo com cerca de 60 a 90 centa­metros de comprimento." A equipe coletou amostras do solo em diferentes alturas da coluna, colocou-as em sacos pla¡sticos e as transportou de volta aos Estados Unidos para análise.

A idade do solo se correlaciona aproximadamente com sua profundidade, com solo mais novo no topo e solo mais velho mais profundo na terra. De volta ao laboratório, os pesquisadores usaram a datação por carbono para determinar a idade do solo e, em seguida, separaram meticulosamente amostras ao microsca³pio, em busca de fita³litos que lhes dissessem que tipos de plantas viviam na área em um determinado momento.

Eles descobriram que os tipos de a¡rvores que crescem na regia£o hoje tem crescido ali nos últimos 5.000 anos - um indicador de que, ao contra¡rio de outras partes da Amaza´nia, o Putumayo não era o lar de cidades e fazendas antes da colonização europeia.

Além de fita³litos, os pesquisadores também procuraram por pedaço s microsca³picos de carva£o. “No oeste da Amaza´nia, onde fica aºmido o ano todo, encontrar carva£o mostra que havia gente la¡â€, diz Pitman. "Nãoháincaªndios florestais naturais causados ​​por raios, então se algo queima, éporque uma pessoa colocou fogo."

Os baixos na­veis de carva£o no solo mostram que, embora a floresta permanecesse inalterada pelos humanos por 5.000 anos, as pessoas viviam na área - elas apenas coexistiam com a floresta de uma forma que não a mudava.

“Uma das coisas assustadoras para os conservacionistas sobre a pesquisa que mostra que grande parte da Amaza´nia costumava ser cidades e áreas agra­colas, éque épermitido a s pessoas que não são conservacionistas dizer: 'Se esse for o caso, então vocaªs conservacionistas estãoficando chateados sem motivo - 500 anos atrás, metade da Amaza´nia foi cortada e tudo voltou a crescer, não égrande coisa. Nãoprecisamos nos preocupar tanto em cortar a Amaza´nia, já fizemos isso e deu tudo certo , '"diz Pitman. Este estudo sugere que, embora as pessoas sejam capazes de coexistir com a natureza sem altera¡-la, a Amaza´nia não ésimplesmente um recurso que pode ser destrua­do e regenerado do zero em questãode séculos.

Parta­culas de microfa³sseis de longa duração de plantas mortas chamadas fita³litos vistas ao
microsca³pio, coletadas em amostras de solo retiradas por cientistas da Bacia Amaza´nica. A
maioria dos fita³litos estudados pela equipe era menor do que a largura de um fio de cabelo
humano. Os cientistas usaram os núcleos do solo para criar linhas do tempo da vida das
plantas e hista³rico de incaªndios em cada local, remontando a cerca de 5.000 anos. Para isso,
a equipe extraiu fita³litos e procurou vesta­gios de fogo, como carva£o ou fuligem. O fogo, em
uma paisagem que recebe quase 3 metros de chuva anualmente, équase sempre de origem
humana e teria sido fundamental para limpar grandes áreas de terra para uso humano,
como agricultura e assentamento. Cientistas do Smithsonian e seus colaboradores
encontraram novas evidaªncias de que os povos inda­genas pré-históricos não alteraram
significativamente grandes áreas de ecossistemas florestais na Amaza´nia ocidental,
preservando efetivamente grandes áreas de florestas tropicais para não serem modificadas
ou usadas de maneiras sustenta¡veis ​​que não remodelaram sua composição. As novas
descobertas são as últimas em um longo debate cienta­fico sobre como os povos da Amaza´nia
historicamente moldaram a rica biodiversidade da regia£o e dos sistemas clima¡ticos globais,
apresentando novas implicações sobre como a biodiversidade e os ecossistemas da
Amaza´nia podem ser mais bem conservados e preservados hoje. Crédito: Dolores Piperno,
Smithsonian. As novas descobertas são as últimas em um longo debate cienta­fico sobre como
os povos da Amaza´nia historicamente moldaram a rica biodiversidade da regia£o e dos
sistemas clima¡ticos globais, apresentando novas implicações sobre como a biodiversidade e
os ecossistemas da Amaza´nia podem ser mais bem conservados e preservados hoje. Crédito:
Dolores Piperno, Smithsonian. As novas descobertas são as últimas em um longo debate cienta­fico sobre como os povos da Amaza´nia historicamente moldaram a rica biodiversidade
da regia£o e dos sistemas clima¡ticos globais, apresentando novas implicações sobre como a
biodiversidade e os ecossistemas da Amaza´nia podem ser mais bem conservados e
preservados hoje. Crédito: Dolores Piperno, Smithsonian.

“Para mim, esses achados não dizem que a população inda­gena não estava usando a floresta, apenas que a usava de forma sustenta¡vel e não alterava muito a composição de suas espanãcies”, diz Piperno. "Nãovimos diminuição na diversidade de plantas durante o período que estudamos. Este éum lugar onde os humanos parecem ter sido uma força positiva nesta paisagem e sua biodiversidade ao longo de milhares de anos."

“a‰ uma descoberta importante e esperana§osa, porque mostra que as pessoas vivem na Amaza´nia hámilhares de anos, de uma forma que lhes permite prosperar e a floresta prosperar”, diz Pitman. “E como esta floresta em particular ainda estãosendo protegida por povos inda­genas, espero que este estudo nos lembre a todos como éimportante apoiar seu trabalho.”

 

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